Filipinas
40 anos da fundação do Novo Exército do Povo
Em 29 de março último celebraram-se os 40 anos da fundação do Novo Exército do Povo, ao longo dos quais seus combatentes, dirigidos pelo Partido Comunista das Filipinas, empreendem a heróica Guerra Popular. O Partido Comunista das Filipinas, reconstituído um ano antes, em 1968, sob a direção de José Maria Sisón, percorreu tormentosos e ziguezagueantes caminhos ao longo desses 40 anos de combate sem quartel contra um Estado genocida, responsável pela perseguição, tortura e morte de milhares de pessoas entre comunistas, progressistas e massas populares. O PCF segue em frente nos combates da guerra popular, expandindo as frentes guerrilheiras (hoje em mais de 150) e impondo duros golpes às forças armadas reacionárias, fustigando forças militares ianques de ocupação no país e organizando e dirigindo massivas lutas populares na capital Manila e outras grandes cidades do país, avançando passo a passo a revolução democrática, agrária e antiimperialista ininterrupta ao socialismo.
Publicamos trecho de um balanço histórico reproduzido pela direção do PCF na ocasião dos 20 anos do partido (em 1988), que trata principalmente do Novo Exército do Povo e da Guerra Popular, além de notícias recentes sobre o atual quadro da luta revolucionária nas Filipinas.
O Novo Exército do Povo
Trecho retirado de "Um breve histórico do Partido Comunista das Filipinas na ocasião do 20º aniversário de sua reconstituição", de Armando Liwanag, Presidente do Comitê Central do Partido Comunista das Filipinas, em 26 de dezembro de 1988. Fonte: www.philippinerevolution.net
Em 29 de março de 1969, poucos meses após a reconstituição do Partido Comunista das Filipinas, foi criado o Novo Exército do Povo (NEP). O reestabelecimento do Exército Popular foi possibilitado pela articulação entre os dirigentes do proletariado das zonas urbanas e a rede de antigos combatentes do Exército do Povo que juntos rechaçaram a camarilha mafiosa de Taruc-Sumulong.
O Novo Exército do Povo surgiu com sessenta combatentes, armados com nove fuzis automáticos, vinte e seis rifles de tiro único e revólveres, no segundo distrito de Tarlac. As massas camponesas de base compunham aproximadamente 80 mil habitantes, organizados principalmente através de uma associação camponesa legal administrada por comitês de bairro.
Através da realização de ofensivas táticas, o NEP conseguiu acumular cerca de 200 fuzis entre 1969 e 1970. Mas, desde o segundo semestre de 1969, o inimigo havia se concentrado no bairro de Lawin e organizou "unidades de defesa" (BSDU) para operar contra o NEP. Em dezembro de 1970, o inimigo anunciou a eliminação do NEP e do movimento camponês, porque algumas unidades do Novo Exército do Povo tinham sido destruídas e dezenas de líderes camponeses assassinados.
O inimigo tinha pouca consciência do fato de que desde o início de 1969 quadros do Partido Comunista das Filipinas haviam sido enviados para a construção do Plano de Ação Nacional, criando organizações camponesas e outras organizações de massas nas áreas rurais de Isabela, uma província ao norte de Luzon. A maioria dos quadros implantados em várias regiões do país foi treinada nessa região. Eles se juntaram aos dirigentes do partido e militantes, bem como ativistas de massas formados pelo movimento de massas nacional urbano visando a transferência para o campo.
De 1969 a 1971, um número significativo de quadros da juventude proletária e organizações de massas foi capaz de alcançar mínima formação político-militar para desencadear a revolução armada e uma equipe com quadros e combatentes já temperada pelo trabalho revolucionário no campo.
O tormentoso primeiro trimestre de 1970 e o movimento de massas até 1972 se somou às ofensivas armadas em Tarlac e serviram para incentivar os revolucionários e as grandes massas populares para se lançarem à revolução democrática nacional.
Após a declaração da lei marcial em 1972, organizações legais urbanas (de massas) que se mantinham sob a bandeira democrática da ampla aliança do Movimento por um país democrático foram proibidas e forçadas à clandestinidade. Quadros do Partido e ativistas de massas tiveram que ser absorvidos para o trabalho clandestino e transferidos para o movimento revolucionário no campo.
Apesar das prisões de membros do Comitê Central do Partido Comunista das Filipinas — PCF, em 1973, 1974, 1976 e 1977, o antigo esqueleto das organizações regionais do partido ganhou carne e músculos com o crescimento do movimento revolucionário armado. Já no final de 1974, todos os comitês regionais do Partido — que então eram nove — tornaram-se basicamente auto-suficientes e não recebiam qualquer quantidade significativa de subsídio do Comitê Central.
De outubro de 1975 a janeiro de 1976, os trabalhadores em 300 empresas de todo o país entraram em greve, apesar da proibição de greve e da repressão em geral. Grandes manifestações políticas de massas também surgiram em Manila e outras cidades. Foi também em 1976 que o Comitê Central do Partido Comunista das Filipinas emitiu o Nossas tarefas urgentes, a fim de promover o movimento antifascista, antiimperialista e antifeudal e elevar todas as formas de luta revolucionária.
Em 6 de abril de 1978, na véspera da farsa eleitoral, toda a região metropolitana de Manila repercutiu com o som do protesto de quase todas as casas e ruas. Isto foi o sinal para um movimento de protesto em massa levantado por todo o país.
Na década de 1980, o movimento de protesto urbano de massas avançou de forma ainda mais vigorosa. Os sindicatos progressistas cresceram enormemente tomando uma direção oposta aos sindicatos amarelos e conduziu os trabalhadores levantando lutas econômicas e políticas. O movimento estudantil expandiu e intensificou sua luta por reformas democráticas assim como a propaganda antifascista, antiimperialista, e antifeudal. As massas camponesas também tornaram-se mais ativas em ações de protesto urbano.
As lutas combativas travadas pelas massas prepararam o caminho para um grande número de ações sem precedentes em 1983-1986 que envolveram a participação direta de 500 mil a dois milhões de pessoas e que finalmente causaram a queda de Ferdinando Marcos em fevereiro de 1986.
Até 1977 o Novo Exército do Povo possuía apenas mil fuzis, embora a base de massas, tanto em áreas urbanas e rurais, chegassem a um milhão de pessoas. Pode-se dizer que entre 1969 e 1979, a atividade mais generalizada das unidades do Novo Exército do Povo foi a equipe de propaganda armada, que dedicou mais de 95% de seu tempo na zona rural.
Mas em 1979, pelotões de ofensivas táticas passaram a agir com frequência, especialmente na ilha de Samar. Em 1981, ofensivas táticas surgiram em várias regiões, especialmente em Mindanao. Em 1983, as grandes ofensivas táticas eram generalizadas e o NEP já tinha acumulado cerca de 5 mil fuzis potentes.
O crescimento da força armada tem sido gradativo. Atualmente (dados de 1988), o número de fuzis potentes é de cerca de 10 mil, sem contar as 7 mil armas de fogo menos potentes. As unidades do NEP operam em pelo menos 60 frentes guerrilheiras abrangendo 12 mil aldeias ou porções significativas de 800 municípios e 63 províncias das Filipinas.
Na maioria das frentes de guerrilha, as unidades guerrilheiras principais tem servido como centros de gravidade das unidades menores e mais fracas, e tem sido mais difundidas as unidades guerrilheiras, de propagandistas armados e milícias do povo. O desenvolvimento das ações de guerrilha tem conduzido a uma utilização mais eficaz e combinação das principais unidades de guerrilha, em coordenação direta e indireta com as secundárias, reforçadas entre várias frentes guerrilheiras, refletindo em maior capacidade de dispersar as tropas inimigas, criando assim mais e melhores oportunidades para as nossas táticas ofensivas e manobras defensivas também.
O nível geral da reforma agrária [nomenclatura adotada pelo PCF para designar a Revolução Agrária naquele país] realizada pelo movimento revolucionário tem se empenhado na luta pela redução do arrendamento das terras, a eliminação de usura, salários justos para os trabalhadores agrícolas, preços justos para os produtos agrícolas e aumentar a produtividade através de formas elementares de cooperação. Mas em áreas cada vez maiores, a terra dos latifundiários e grileiros despóticos foi confiscada ou recolhida e distribuída para os produtores e gerida coletivamente através das suas associações de camponeses.
(…) Em vinte anos de existência, o Partido Comunista das Filipinas tem consistentemente provado ser o partido de vanguarda do proletariado filipino e do povo filipino, porque tem sido guiado pelo marxismo-leninismo, criativamente aplicado na prática concreta da revolução filipina estimulado, organizado e mobilizado milhões de massas, procedendo a crítica e autocrítica com base nos fatos e com o objetivo de firmar a unidade e a intensificação da luta revolucionária.
Notas
A situação no país
2 de agosto
Arroyo vendeu o povo filipino a Obama!
Com informações do diário Davao Hoje das Filipinas
"Seria um caso típico da reunião do boneco fantoche com o seu mestre pedindo para renovar o último e apodrecido pedaço de cordas para seu show de marionetes". Foi o que declarou Dyomabuk Kadyawan, um dos comandantes do Novo Exército do Povo (15ª Frente) quando descreveu a reunião de Gloria Arroyo, com o presidente do USA, Barack Obama no início do mês de agosto.
"Arroyo apresentou-se diante de Obama como um dos melhores, senão o melhor, cão de fila do USA deste lado do Sudeste Asiático" — prossegue o artigo de Davao Hoje.
"Além de se gabar de ‘pôr um fim aos extremistas da Al-Qaeda’ no país (que não é provável que aconteça)," — disse Kadyawan — "ela, estou certo, relatou sobre as realizações e feitos fantásticos cenários sobre finalmente ‘esmagar os 40 anos de Guerra Popular’ para a alegria de Obama".
Kadyawan rebateu toda a propaganda do velho Estado reafirmando que o Novo Exército do Povo, que está sob a liderança absoluta do Partido Comunista das Filipinas, está decidido a vencer a revolução por meio da intensificação das ofensivas táticas.
"Não vão nos fazer recuar" — concluiu Kadyawan — "porque o Partido Comunista e o Novo Exército do Povo estão mais fortes que nunca e as condições locais e internacionais são favoráveis para alcançar a vitória revolucionária"!
Novas ações do Novo Exército do Povo
10 de agosto
Combatentes do Novo Exército do Povo atacaram um posto do Exército em Davao do Norte, no sul das Filipinas. Durante a ação os guerrilheiros tomaram o arsenal do posto e tomaram fuzis e rádios portáteis.
21 de agosto
Novas baixas nas tropas do velho Estado foram registradas na 10 ª Divisão de Infantaria das Forças Armadas das Filipinas no distrito de Paquibato, Davao.
Um forte ataque do NEP foi desferido contra tropas militares na região, o que forçou a imprensa reacionária filipina a reconhecer que a guerrilha tem se desenvolvido e se tornado cada vez mais robusta na região. Tem sido crescente o movimento de massas em Davao, com levantamentos populares reivindicando seus direitos, contra a exploração e opressão.
25 de agosto
Um soldado do exército reacionário foi morto hoje em uma emboscada do Novo Exército do Povo na província de Surigao do Sul.
Major Randolph Cabangbang, porta-voz militar da região, relatou à imprensa filipina que um pelotão de soldados do 58º Batalhão de Infantaria patrulhava a periferia de Lianga quando os combatentes do NEP abriram fogo cerrado contra eles, matando um soldado.
28 de agosto
Confronto entre combatentes do NEP e soldados do exército reacionário no leste das Filipinas.
Durante o patrulhamento as tropas da reação se chocaram com cerca de 30 combatentes do NEP na província norte de Samar. Os enfrentamentos resultaram em um combate que durou mais de 30 minutos. Dois guerrilheiros tombaram em combate resistindo em suas posições.