Cantora, compositora e instrumentista, a sambista carioca Ana Costa é considerada revelação e novo talento do samba. Ana lançou seu segundo disco, Novos alvos, em 2010, ultrapassando a fronteira do samba, sem abandoná-lo, e mantendo-se fiel aos ritmos brasileiros, à cultura do povo, livre de modismos.
— Comecei a me interessar por música na adolescência, por volta dos 15 anos de idade, quando minha mãe me deu um violão. Mas não foi por algo que vi em minha casa, porque minha família não tem nenhum envolvimento com essa parte, ninguém toca nada. Até por isso, vejo meu ingresso nesse ambiente musical como algo solitário, somente com a força dos amigos — Conta Ana.
— Tudo se deu pela minha curiosidade em descobrir o violão. Fui treinando e me interessando cada vez mais, juntamente com outros adolescentes. E a coisa foi crescendo tanto que, em pouco tempo, já estava estudando música no Conservatório Villa-Lobos e começando a levar realmente a sério essa vocação — continua.
— Com aproximadamente 18 anos, comecei me arriscar a tocar nas noites, e fui indo. E foi tocando violão na noite carioca, junto com um pessoal bacana, fui levada para o mundo do samba e me apaixonei. Na verdade, a pessoa que me ajudou nessa descoberta foi o Martinho da Vila, que conheci através de seus filhos — acrescenta.
A brasileira Ana Cristina da Costa começou sua trajetória musical em 1990 e, quatro anos depois, entrou de cabeça no mundo do samba, quando participou do grupo Coeur Sambá, formado pelos filhos de Martinho da Vila.
— O grupo durou dois anos, posso dizer, bem legais mesmo. Gravamos um disco e cumprimos toda uma agenda de shows, mas precisávamos fazer mais coisas, e fomos em frente — fala Ana, que entre muitas outras atividades, se apresentou como a nova geração do samba no 21º Prêmio da Música Brasileira em homenagem a D. Ivone Lara, no Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Em 1996, Ana Costa fundou o grupo de samba Roda de saia, que posteriormente mudou para O roda. Formado só por mulheres, O roda tocou por três anos no Butiquim do Martinho, em Vila Isabel, e gravou dois discos independentes, onde além de tocar e cantar, Ana também aparece como compositora e arranjadora.
— Foi na época do O roda que comecei a compor, tendo como meu parceiro mais constante o Agrião, que é da ala dos compositores da Vila Isabel. Também componho com várias outras pessoas, entre elas a Bianca Calcagni, que estava no grupo, mas hoje é minha empresária, Alceu Maia, Martinália e Zélia Duncan — comenta Ana Costa.
Em sua trajetória musical, também gravou vocal nos discos de Noca da Portela, Martinho da Vila, Mônica Salmaso, Agrião, Luis Carlos da Vila, entre outros. E acompanhou artistas importantes como Beth Carvalho, Wilson Moreira, Dona Ivone Lara, Jorge Aragão, João Nogueira, entre outros. Excursionou pela Europa, integrando a banda da cantora Martinália e viajou por todo nordeste brasileiro, com a caravana do Projeto Pixinguinha.
Vida e música urbana
Ana conta que compõe de forma espontânea, natural, tanto letra como música, sendo que sua preferência está em fazer música.
Parece que a coisa flui mais naturalmente quando o negócio é fazer música, tanto as espontâneas, quanto aquelas que os amigos parceiros me dão a letra para musicar. Mas faço o que pintar — declara.
As minhas inspirações para compor são do dia a dia mesmo. Fatos que observo a minha volta ou que ouço falar. São os problemas sociais, o amor, o bate papo com um amigo, enfim, faço música urbana, aquela que é bem a minha vida — continua.
Como muitos artistas brasileiros que têm que criar e vender a sua arte se quiser sobreviver, em 2004, Ana Costa em parceria com Bianca Calcagni fundou o Roda Produções Musicais e, dois anos depois, a gravadora e distribuidora Zambo Discos para, assim, poder se produzir e ajudar os companheiros.
— Lançamos o primeiro CD do jovem cantor e compositor Lucio Sanfilippo, chamado Canções de Amor ao Leo, 2006. É um disco especial onde aparecem o samba, o coco, a ciranda, o maracatu e o jongo — conta Ana, que produziu e arranjou o trabalho.
E foi através dessa iniciativa que gravou seu primeiro disco solo, em 2006. Meu Carnaval reúne trabalhos de compositores consagrados, jovens talentos do samba e músicas autorais. No disco, além de compor, tocar e cantar, Ana fez arranjos para doze das quatorze canções. Com esse trabalho, entre outras, foi eleita Revelação no 5º Prêmio Rival Petrobras de Música.
Novos Alvos, o disco atual, também foi gravado pela Zambo discos, mas relançado pela gravadora Biscoito Fino, já há algum tempo investindo na música popular brasileira.
— É um trabalho diversificado onde passeio por várias áreas da música, indo além do samba, contudo, permanecendo sambista convicta. Simplesmente é uma possibilidade a mais, dentro de tantas possibilidades que temos de fazer a boa música brasileira, sem compromissos com tendências de mercado — explica.
— Tenho viajado pelo Brasil com o show do disco e me apresentado fixo, quinzenalmente, no Carioca da Gema. É um lugar maravilhoso, dentro daquele ambiente incrível que é a Lapa, cheia de rica tradição cultural, onde o samba tem toda liberdade, assim como outros ritmos brasileiros. Já são 10 anos que me apresento no local e sempre é muito gratificante para mim — fala Ana.
A Lapa faz parte da vida de grandes nomes da música popular brasileira do passado e presente. Ocupando um antigo casarão no histórico bairro da Lapa, um dos berços da boemia do Rio de Janeiro, há 11 anos o Café Musical Carioca da Gema apresenta o que há de melhor do samba e do choro, dois tradicionais gêneros populares cariocas.
Está situado na Avenida Mem de Sá, 79. Contato pelo telefone: 2221-0043.