Nunca houve paz para a Coréia

Nunca houve paz para a Coréia

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Onde hoje está a Coréia, em muitos séculos de lutas, reinos surgiram e desapareceram. Todos eles ergueram sistemas militares e administrativos centralizados. No ano 936, Wang Kong unificou a península, ao se proclamar sucessor de Koguryo. Foi ele o fundador da dinastia Koryo — de onde se deriva o nome ocidental Coréia. No século XIII, Koryo foi invadida pelos mongóis, que fundaram a disnatia Yi, derrubada em 1010 pela ocupação japonesa. Em 1394, Yi Song-gye fundou Seul, capital do reino.

Durante os séculos XVII, XVIII e XIX, a Coréia sofreu profundas transformações políticas, econômicas e religiosas e seu território foi disputado pela China, Mongólia e Japão, que a anexou formalmente — situação que se prolongou até a Segunda Guerra, graças aos acordos estabelecidos com o USA, com reconhecimento da ocupação japonesa em troca da ocupação do USA nas Filipinas.

A revolução na Ásia e suas consequências

Nos últimos dias da Segunda Guerra, o Exército Vermelho, sob o comando do marechalíssimo Stálin, escorraça as tropas fascistas japonesas da Coréia e detém o avanço anglo-americano no paralelo 38. As forças de Kin Il Sung, líder da resistência coreana, ganham prestígio em ambos os lados da Coréia, e o povo, chamado a proclamar a independência de seu país, outorga uma Constituição democrática.

Os ianques, que haviam ocupado a Coréia, ao sul do paralelo 38, traem os acordos da Criméia (2/44) e os de Potsdã (17/7/45), postergando o compromisso de destruir as corporações fascistas e impedir seu soerguimento. A exemplo do que ocorreu na Alemanha, Itália, na Espanha "neutra" e no Japão, as tropas ianques na Coréia buscam amedrontar a população, enquanto coordenam a recomposição das oligarquias latifundiárias e oferecem "associação" aos bandos invasores, fazendo com que a quadrilha de Lynman (Rhée Sygman) se transformasse em governo, ao sul, em agosto de 1948. O USA não só dividiu a Coréia, como consolidou bases militares em seu solo.

Em 1948, a Assembléia Popular Superior — eleita pelo povo em ambos os lados do país — proclamou sua República Popular, aprovou nova Constituição e elegeu o governo encabeçado por Kim Il Sung (primeiro-ministro).

Em janeiro de 1949, o Presidente Mao Tsetung propõe a rendição do exército colaboracionista do Kuomi-tang de Chiang Kaichek. Este finge aceitar, mas, em seguida, financiado pelo USA, responde com um traiçoeiro ataque ao Exército de Mao. Rechaçado, foge para Taiwan (Formosa), onde é nomeado fantoche imperialista. Somente esta falsa China ingressará na ONU, onde as nações opressoras detêm a maioria dos votos, proibindo os demais países, por décadas, de reconhecer a República Popular da China. Todas as riquezas naturais de Taiwan foram apoderadas pelo USA e dirigidas pelas Sugar Company (açucareira), Reynold Metal Co. (bauxita) e American Express Co. (cimento, produção e comercialização), dentre outras. Em outubro de 1949, tropas comunistas libertam Pequim*. É restituído o nome original da cidade e instaurado o novo governo.

O imperialismo ianque não reconhece o poder popular na Coréia. Envia reforços militares ao exército fantoche do sul para combater nos territórios democráticos. Em junho de 1950, ante o prestígio crescente do socialismo no mundo e da revolução na Ásia, o USA faz estalar a guerra. O Departamento de Estado ianque anuncia que Pequim seria tomada em dez dias. Voluntários chineses uniram-se às forças de libertação coreana e arrastaram as tropas ianques até o mar. A guerra chega ao fim em 27 de julho de 1953.

Nesse mesmo julho de 1953, o USA é obrigado a assinar um acordo cessando temporariamente as hostilidades aos coreanos — situação que se prolonga até os dias de hoje, já que o armistício jamais foi substituído por um acordo de paz. Ao contrário, o USA mantém tropas na Coréia e, em vigor, "um pacto de defesa mútua" — embora a ONU houvesse decidido que nenhuma tropa estrangeira poderia permanecer na Coréia, a partir de então.

"Jamais os perdoaremos" (Kin Il Sung)

A guerra na Coréia foi uma das mais sangrentas agressões perpetradas por um exército. Torturas, mortes em massa, utilização de armamentos químicos e biológicos, experiências com drogas incapacitantes e letais; tudo foi utilizado na Coréia com o intuito de deter a revolução. Entretanto, nada conseguiu.

Sung assim se reportou à atuação do USA na Coréia: "Em tempos passados, Engels qualificou de bárbaro o exército britânico. Durante a Segunda Guerra, o exército fascista alemão superou o exército britânico em crueldade. O cérebro humano não podia imaginar crueldade tão terrível como a dos bandidos hitlerianos naqueles dias. Porém, na Coréia, os ianques superaram grandemente os bandidos hitlerianos." A República Popular coreana dedicou-se à reconstrução do país, promovendo a reforma agrária, e coletivizando parte da agricultura: 90% da indústria nas mãos do Estado e o restante organizado em cooperativas. Com uma nova Constituição em 1972, King II Sung se tornou presidente.

Em 1990, a Coréia do Norte assinou um acordo de desnuclearização com a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), enquanto o USA dizia garantir: a) não utilizar armas atômicas contra o território norte-coreano — porém, mantém mais de mil bombas nucleares na Coréia do Sul, além de 38 mil soldados ali estacionados.
b) em troca da paralisação da construção de usina nuclear para produção de eletricidade, o USA se comprometeu construir 49 usinas termoelétricas. No entanto, nada foi feito até hoje.

As provocações ianques nunca cessaram. Em 1999, navios seus foram alvejados pela marinha norte-coreana, alegando invasão de suas águas territoriais. Mais recentemente, depois do 11 de setembro, em Nova Iorque, o governo Bush ocupou o Afeganistão, invade agora o Iraque e ameaça a Coréia do Norte, acusada de compor o "eixo do mal".

A Coréia jamais abandonou sua defesa ativa, única forma de obter sua reunificação. Sempre viveu na iminência de um novo ataque do imperialismo. Fácil supor que seu Exército Popular tenha desenvolvido armas nucleares e que não vacilaria em atacar o Japão, base ianque na área. Ante a ameaça de que inspetores da ONU espionem seus arsenais, o Exército da Coréia testa mísseis e controla melhor seu espaço aéreo. O povo coreano está preparando sua defesa, construindo seus mísseis intercontinentais e artefatos nucleares. Decididamente, ele espera bater-se de novo com o tigre de papel.


* Pequim existe desde 1121 a.C. É reconstruída em 70 d.C. e retoma o nome de Pequim em 1421. Em 1928, novamente a cidade tem seu nome mudado para Pei'ping ou Beijing pelos contra-revolucionários do Kuomitang. É ocupada pelos japoneses de 1937 a 1945. Com o golpe contra-revolucionário de 1976, a restauração capitalista na China volta a impor à cidade o humilhante nome de Beijing. É conveniente aos revisionistas mudar os nomes das cidades que foram marcantes na história da revolução. Na China a troca de nomes e a adulteração da grafia de personalidades é apresentada como "ocidentalização ortográfica", assim como Mao Ze Dong (escreve-se Mao Tsetung), para arrastar a memória da revolução ao esquecimento. A aliança estabelecida entre os revisionistas e as correntes mais reacionárias no exterior fecham o circuito do ocultamento, apelando para os mais variados artifícios.
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