Sob o impacto das manchetes dos jornais em todo o mundo estampando a crise colossal do sistema econômico imperialista e os pacotes bilionários anunciados pelos governos, esgotando até a última gota dos cofres públicos para tentar sanar o mal incurável do sistema capitalista, o proletariado enfrenta, na surdina, batalhas seguidas contra a exploração patronal, a imposição das políticas antioperárias pela gerência de turno e a conciliação de classes das centrais governistas que tentam a todo o custo solapar os direitos dos trabalhadores.
O que já vinha sendo tramado durante os meses de novembro e dezembro entre as cúpulas das centrais governistas e a classe patronal, vem sendo cumprido à risca. Apesar do discurso demagógico de CUT e Força Sindical, aqui e ali surgem novas notícias de acordos espúrios que resultam na redução de salários e demissões, principalmente sobre a classe operária. Em matéria veiculada pela Folha de São Paulo em 10 de janeiro último, os dirigentes da Força Sindical já haviam assumido em reunião com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo – FIESP, que aceitariam tidas as alternativas previstas na legislação trabalhista para evitar demissões, inclusive reduções de salário e de jornada (grifo nosso). Esse foi o menu escolhido pela classe patronal e pelegos no "cardápio de alternativas" proposto por Paulo Skaf, presidente da FIESP.
Após o acordão entre Força Sindical e patrões, não se sabe se por ciúmes, a CUT se manifestou contrária, mas não tardou em fazer as pazes com a patronal, acordando a verbalmente combatida redução salarial nas metalúrgicas do ABC. Já no final do mês de janeiro, o Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (dirigido pela CUT) e as empresas Fiamm Latin America e Sogefi, autopeças de São Bernardo do Campo, selaram acordo para a redução da jornada e salarial em 15%. O mesmo se deu com o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes (dirigido pela Força Sindical) e as indústrias de autopeças MWM e Valeo.
Os últimos dados divulgados em O Globo de 16/02/2009 apontam que Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes fechou, até aquela data, 24 acordos de redução da jornada de trabalho e dos salários. E ainda detalhou que os metalúrgicos da MTU do Brasil tiveram redução no salário de 17%; na Parker Hannifin, a redução foi de 12%; na Multek Brasil a redução foi de 10%; na Higval, os funcionários tiveram um corte de 16% nos salários; e na Metalúrgica Mauser e na Combustol Metalpó, foi reduzido em 17%.
Dez dias depois, em 26/02, O Globo voltou a publicar reportagem baseada em dados de Valor Econômico apontando que "o número de trabalhadores que teve a sua renda reduzida em função de acordos de redução de jornada e salário, licença ou suspensão temporária dos contratos praticamente triplicou em fevereiro, totalizando 90.163 pessoas, contra 31.553 em janeiro".
Os números tabulados por Valor Econômico tiveram como fonte as próprias centrais, sindicatos e indústrias e revelaram que "o total de demissões em massa (considerando os cortes de pelo menos 100 pessoas por empresa) também aumentou, totalizando 9.454 até o momento, contra 6.791 em janeiro".
A pesquisa aponta ainda que, no sul do país, mais de 20 empresas do setor metal-mecânico negociaram a redução de jornada e corte de salários, programas de demissão voluntária e suspensão de contratos de trabalho e que, desde outubro, 3,5 mil dos 200 mil metalúrgicos gaúchos perderam o emprego.
Em São Paulo, região onde se concentra o maior número de indústrias, os acordos de redução de jornada com redução de salários também se multiplicaram. Segundo os dados de Valor Econômico, até o dia 26 de fevereiro já totalizavam 20 acordos que envolveram 10,7 mil trabalhadores e, no mês de janeiro, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes fechou acordos com quatro empresas, atingindo 5,6 mil trabalhadores.
Ainda há relatos de acordos lesivos em Minas Gerais nas indústrias de Contagem e Betim e, por todo o país, onde não há demissões em massa e redução salarial, pelegos e classe patronal acertam "programas de demissão voluntária", férias coletivas com compensação de horas na volta à produção e outras modalidades mais contidas no salgado "cardápio de alternativas" anti-trabalhador.