Dizer que A Guerra do Iraque não afeta o Brasil, é subjetivismo, é ser muito pobre de argumentação. A guerra com o Iraque afeta o mundo todo, porque os EUA estão violando todas as leis internacionais, a soberania e a autodeterminação. Tudo, favorecendo a indústria do petróleo dos EUA, a indústria de armamentos, que foram as principais financiadoras da campanha de Bush, e, também, para que ele se mantenha no poder. Ele estava prestes a ser colocado no poder. Ganhou a eleição de forma fraudulenta, quer dizer, ele não venceu. Os meios de comunicação iam denunciá-lo e, de repente, Bush ganha um bilhete premiado, que foi o atentado de 11 de setembro — muito suspeito. Então, ele teve uma sobrevida, não só uma sobrevida, como ganhou as eleições legislativas, parlamentares e tem chance agora de ser reeleito no ano que vem.
A guerra contra o Iraque é um retrocesso enorme em termos de relações internacionais, porque não tem um motivo plausível, senão que o monopólio do petróleo e a indústria armamentista. Eu já estive no Iraque, e essa ferocidade que atribuem a Saddam Hussein não é verdadeira. O povo iraquiano o considera muito, como sendo um presidente íntegro, nacionalista. Grande parte das coisas que publicam sobre Saddam Hussein é pura mentira como aquele dossiê que Toni Blair apresentou e que Collin Powell ratificou como bom, e era, na verdade, cópia grosseira de um trabalho realizado há 12 anos. Isso significa manipular a informação, a opinião pública, e fazer uma guerra que, em pleno século XXI, é um genocídio. Não pode ser uma guerra, mas a manifestação da maior potência diante de um país desarmado. E o mais escandaloso, é que os EUA enviam equipe da ONU para investigar o país, havendo entre os inspetores espiões dos EUA, que procuram todos os pontos débeis no aparato militar do Iraque para, depois, atacá-lo. É deprimente, e em termos de relações internacionais trata-se de um ataque absolutamente covarde; nada menos que dizimação do povo iraquiano que, aliás, não guarda nenhuma relação com o atentado nos EUA. Lá, não se vê ninguém falar em terrorismo, contra quem quer que seja. É um negócio absurdo, indefensável.
A guerra com o Iraque afeta o mundo todo
porque os EUA estão violando todas as leis internacionais
A grande esperança é que a população do mundo comece a se rebelar contra essa guerra. Certamente, as pessoas já são contra há muito tempo. Vários ídolos do sistema internacional de política, de sociologia, manifestam seguidamente sua indignação contra essa guerra. Então, como dizer que isso não afeta o Brasil?
A própria ONU se desmoraliza, se permite um relatório que dê aos EUA uma única razão onde eles não têm. Essa guerra abala demais a moral humana, a moral das instituições internacionais, porque infringe todas as regras de convivência coletiva, todas as regras de respeito às pessoas, aos seres humanos. Vão matar os iraquianos e isso é um genocídio. São os seres humanos que estão sendo assassinados. São pessoas, e isso significa uma regressão do homem aos seus instintos animais e matar é um dos piores papéis que o homem pode exercer. O homem é o único animal que mata o seu semelhante, e também o único a matar de uma forma insidiosa. Então, eu acho que o efeito dessa guerra sobre o humanismo, sobre a moral, nos costumes de convivência coletiva, é extremamente devastador.
Um cachorrinho atrás do Bush
Os EUA não conseguem apresentar provas, mas argumentos absolutamente infundados. São provas de pouquíssima credibilidade, e se a ONU não encontrar nada, eles vão assim mesmo atropelá-la.
Um pensador português dizia que quando existe guerra entre dois países pequenos e a ONU intervém, acaba a guerra. Quando existe guerra entre um país grande e um pequeno, se a ONU intervém, ganha o grande. E quando existe guerra entre dois países grandes, e a ONU intervém, acaba a ONU. Então é o que pode acontecer nesse momento.
Hitler liquidou a Liga das Nações, em 1938. Ele detinha, teoricamente, a hegemonia dos armamentos. E hoje, os EUA, que se dizem os imbatíveis, são arrogantes, prepotentes, não são totalmente invencíveis. Até porque, essa questão de ser invencível ou não, é de uma pobreza filosófica, psicológica, assustadora. Ernest Hermingway dizia que os EUA tinham atingido o estágio de riqueza sem ter que passar pelo estágio de cultura. Então, hoje, a cultura americana é a cultura da vingança, a cultura da prepotência, da violência — enfim, do faroeste, que é a origem do Bush. Então, a humanidade sofre um golpe terrível no momento em que o mundo todo recebe essa cultura, de forma avassaladora, através dos meios de comunicação. Isso gera entre os homens uma total irracionalidade, o próprio desentendimento do que é a racionalidade humana. O exemplo desse tipo de agressão infundada para os jovens, para uma nova geração, é devastador.
A grande esperança é que a população do mundo
comece a se rebelar contra essa guerra
Eu fiz uma entrevista com um jornalista inglês para um jornal diário, Richard Gopp, do The Guardian, e ele estava me falando que Toni Blair hoje deu uma guinada para a direita mais profunda do que Margaret Tatcher. Ultrapassou Tatcher no seu direitismo, e os ingleses estão estarrecidos com o nível de subserviência do Blair em relação aos EUA. Nunca houve na história da Inglaterra um primeiro-ministro tão submisso como Toni Blair. Seu grau de submissão ao governo americano é tão profundo que chega a perder toda a sua independência em termos de pensamento; é doentio — e os ingleses estão estarrecidos, não sabem, ou pelo menos esse jornalista não soube me explicar, a razão de Toni Blair estar fazendo isso, o que revolta a maioria dos ingleses.
Fernando Siqueira é presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás —AEPET.