Entre o final de julho e início de agosto, em um período de menos de cinco dias, 45 pessoas foram assassinadas em chacinas policiais nos estados de Rio de Janeiro, São Paulo e Bahia. Destes estados, dois são governados por bolsonaristas (Cláudio Castro e Tarcísio de Freitas) e um pelo petista Jeronimo Rodrigues, o que demonstra que a chacina de pobres e pretos é um ponto para onde convergem a “política de segurança” de ambos os grupos, bolsonarista e lulista.
As chacinas policiais, nas cidades, demonstram a aplicação sistemática dessa política genocida e que as polícias operam segundo as leis da guerra reacionária. As favelas são territórios inimigos fortificados, e que devem ser invadidos pela força das armas; a população local é de colaboradores ou inimigos disfarçados, a serem neutralizados pelo choque de ordem terrorista ou interrogados sob tortura para que admitam essa condição; todas as mulheres são prostitutas ou propriedades dos inimigos e devem ser violentadas; as crianças são futuros bandidos que devem, preventivamente, ser neutralizados; os bens da população local são reservas estratégicas do inimigo, que devem ser saqueados ou destruídos. É ou não é essa a dinâmica das operações?
“Mandei minha filha vir embora, porque tava tendo operação lá embaixo. Minha filha veio subindo e eles [policiais militares] chamaram ela de ‘putinha’ e ‘vagabunda’, nós começamos a discutir e ele disse que para dar um tiro na nossa cara não custa nada”. “Eles [da Rota] andam de capuz pelas vielas, matam primeiro e perguntam depois”. Esses são apenas dois relatos da Operação “Escudo”, da Rota, em Guarujá, relatos que representam centenas de casos que se repetem todas as noites em todo o País.
Na Bahia, sob o governo do PT, a coisa não é melhor. Em 6 de agosto, uma família inteira de oito pessoas, três delas adolescentes, foi chacinada em Itatim, na zona rural a 213 km de Salvador, durante operação policial. Esse foi o ponto alto de uma semana inteira de chacinas, que deixou ao todo 13 mortos. O governador petista, por seu turno, ficou nove dias sem se pronunciar, e quando o fez, afirmou que vai investigar “eventuais excessos”. Não é aqui, também, a lógica da guerra reacionária?
E não apenas nas cidades, mas também nas áreas camponesas. As operações militares contra a luta pela terra, sobretudo na Amazônia contra a Liga dos Camponeses Pobres (LCP), seguem levando terror ao campo. Em agosto, novas vítimas: Cleide da Silva e seu esposo, ambos camponeses, foram mortos por pistoleiros como “pessoas da LCP”. No dia 12, nova operação, agora em Cujubim/RO, coordenada por pistoleiros e PM local, resultando em 25 camponeses presos e a destruição completa do acampamento.
Essa guerra civil reacionária movida pelo velho Estado demonstra, na verdade, que não existe, para as massas populares, nenhuma “democracia”. A democracia pressupõe direitos e liberdades democráticas, como o direito à presunção de inocência. Os 16 mortos no Guarujá tiveram esse direito resguardado? E os oito mortos em Itatim, na Bahia, tiveram esse direito respeitado? A democracia pressupõe acesso à terra para quem nela vive e trabalha: os 25 camponeses presos em Cujubim/RO, ou o casal de camponeses executados em Humaitá/AM, tiveram esse direito assegurado?
Quem quer a democracia – não essa democracia das chacinas, mas sim uma verdadeira e nova democracia – deve, em primeiro lugar, reconhecer que vivemos, hoje, com ou sem o bolsonarismo, uma verdadeira ditadura às massas populares, enquanto a democracia prevalece apenas nos palacetes e condomínios de luxo.