O caminho para a conquista do passe livre

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O caminho para a conquista do passe livre

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Novamente os estudantes de Belo Horizonte retomam as jornadas de luta pelo passe livre estudantil. No dia 25 de junho um protesto convocado pela União Colegial de Minas Gerais (UCMG) e Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) reuniu cerca de 250 estudantes secundaristas de diversas escolas da capital mineira. Em entrevista a AND, Jairo Fonseca, militante da UCMG, fala sobre essa bandeira histórica de luta dos estudantes e sobre o caminho para a sua conquista.

AND – Há vários anos os estudantes de Belo Horizonte lutam pelo passe livre, como essa luta vem se desenvolvendo?

JF – Realmente, eu sequer havia nascido quando aconteceram as primeiras manifestações pelo passe livre em BH. A luta pelo passe, ao longo dos anos teve altos e baixos. Tivemos momentos, como em 1999 e 2000 que a própria UCMG mobilizou mais de cinco mil estudantes nas ruas em grandes manifestações. Houve também movimentos de bairros pelo passe, protestos importantes também no ano de 2000. A bandeira do passe já foi traficada por oportunistas que tentaram promover "candidatos do passe livre", como fez o PSTU, utilizando essa luta como trampolim eleitoreiro, e também para promover "vereadores do passe livre", com projetos de lei cujo objetivo não era a conquista do direito para os estudantes, mas para alavancar este ou aquele partido ou candidato oportunista. Tivemos também momentos de dificuldades de mobilização, perseguição por parte de diretorias autoritárias nas escolas, que perseguiam as organizações estudantis (entidades e grêmios) combativos. As entidades governistas, também contribuíram para a diluição do movimento. Em meados dos anos de 1990 até início de 2000 foi a UBES/PCdoB (União Brasileira dos Estudantes Secundaristas) que contrapunha a bandeira dos estudantes com a palavra de ordem oportunista do "meio-passe", servindo como ponta de lança da prefeitura do PT para enfraquecer o movimento. Hoje outras correntes oportunistas fazem acordos com a prefeitura com a mesma cantilena de meio-passe. Antes do protesto convocado pela UCMG no dia 25, militantes da AMES/PCR chegaram a percorrer salas de aula nas escolas dizendo aos estudantes para não irem à manifestação.

ANDE a UCMG, o que propõe de diferente? O que diferencia a bandeira da UCMG da proposta dessas outras entidades?

JF – Em primeiro lugar, não é correto dizer a "bandeira da UCMG". Essa bandeira é de todos os estudantes. O que nós lutamos é para resgatá-la. Defendemos o passe livre de fato. A passagem do transporte coletivo urbano de BH é uma das mais caras do país: R$ 2,30. Uma família com 2 filhos em idade escolar gasta no mínimo R$ 9,20 apenas com o transporte, sem contar os livros, fotocópias, alimentação, uniforme, etc. isso representa R$ 220,00 no mês apenas com o transporte. E os remédios, alimentação da família, lazer, cultura, onde fica?

Belo Horizonte é uma das poucas capitais onde os estudantes não possuem nenhum tipo de desconto nos transportes. A constituição nos "dá" o direito à educação, mas esse direito não existe, pois simplesmente não há condições de estudarmos assim.

Insistimos em desmascarar essas bandeiras de "meio-passe" e as negociatas dos oportunistas com a prefeitura do PT e BHTrans, que são uma verdadeira máfia, pois tudo isso faz parte de um projeto eleitoral. Todos sabem que uma parte do cofre das empresas de transporte financia campanhas eleitorais.

Nossa luta é pelo passe livre, integral, de fato. A prefeitura nunca ofereceu nem meio, nem um terço, nem nada. Diz que existe um benefício para "carentes", mas isso é pura demagogia, esse tal "benefício" é apenas para fazer média e dizer que tem "projeto social" .

AND – E como vocês pensam em conquistar o passe?

JF – Sabemos que não será fácil. Vemos os exemplos de Florianópolis, anos seguidos de mobilizações. No Rio de Janeiro, os estudantes tinham o passe e ele foi retirado, é uma luta permanente. Assim como nos anos anteriores, entendemos a luta do passe como uma jornada, a soma de várias mobilizações, desde a luta em cada escola até as manifestações gerais.

A manifestação do dia 25 começou com debates e panfletagens nas escolas, no dia da manifestação, ocorreram pequenos protestos nas portas de diversas escolas que foram se somando em um "arrastão" pela cidade até chegar ao Centro.

Em diversos locais, grupos de estudantes organizados, com faixas, panfletos e bandeiras pararam ônibus, explicaram o motivo da manifestação para a população e pularam a catraca, instituindo por conta própria o passe livre. Muitos foram assim até o local de concentração da manifestação.

Entendemos que somente assim, elevando a consciência dos estudantes para que compreendam que somente com uma grande mobilização poderemos derrotar a máfia dos transportes e a ganância da prefeitura, poderemos conquistar o passe. Não acreditamos que apenas um projeto de lei poderá nos dar um direito de fato, não nesse sistema podre de corrupção, atos secretos, mensalões, caixas dois, etc..

AND — E como a UCMG espera organizar todo esse movimento?

JF – A UCMG não é uma entidade exclusiva de luta pelo passe. A UCMG é uma entidade que luta por todos os direitos dos estudantes, passando pelo passe livre até a democratização do ensino. Lutamos por um movimento estudantil que sirva ao povo e faça parte de sua luta.

Nosso papel é incentivar e contribuir para a organização dos estudantes em cada escola, em cada sala de aula. Tomamos a iniciativa da criação de um Comando de Lutas pelo Passe Livre onde participe não somente a UCMG, mas também Grêmios Estudantis, Comandos de Mobilizações das escolas, convidamos os Diretórios Acadêmicos, Diretórios Centrais e todos os estudantes universitários para ingressarem nessa luta. O MEPR vem contribuindo muito com isso, realizando uma grande agitação e mobilização nas escolas.

Dessa forma, vamos retomando o fio de uma luta que nunca parou e que certamente irá sacudir toda a cidade.

A primeira reunião do Comando de Lutas pelo Passe Livre ocorreu no dia 27 de junho e demonstrou grandes possibilidades. Decidimos construir uma jornada com várias manifestações. Essa foi apenas a primeira, muitas outras virão, até a vitória.

Florianópolis

No dia 30 de junho ocorreu um protesto contra aumento das tarifas de ônibus na Grande Florianópolis. A manifestação foi convocada pelo Movimento Passe Livre e contou com a presença de cem estudantes que se mobilizaram no Terminal de Integração do Centro — Ticen.

Além dos protestos na região Central, ocorreram mobilizações no Terminal Integrado de Canasvieiras — Tican, no norte da ilha. O estudante Rudnei Borges, 20 anos, foi detido por desobediência aos policiais, sendo liberado em seguida.

O preço da passagem de ônibus em Florianópolis aumentou de R$ 2,10 para 2,20 no pagamento com o cartão eletrônico e de R$ 2,70 para 2,80 no pagamento em dinheiro.

Mato Grosso do Sul

Os Diretórios Centrais de Estudantes (DCEs) da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul e da Universidade Federal da Grande Dourados vêm mobilizando os estudantes para a luta contra o aumento no passe estudantil.

Grande parte dos alunos se mantém com bolsas estudantis que giram em torno de R$ 300. Os estudantes denunciam que o aumento corresponde a cerca de 5% da renda de um estudante ou três dias de almoço.

Amazonas

No dia 30 de junho os estudantes de Manaus realizaram um protesto pelo passe-livre. Os estudantes da capital amazonense já possuem o meio-passe e denunciam a política da prefeitura que pretende limitar o número de concessões da meia-passagem.

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