Cantor, compositor e ator, Jackson é um brasileiro cujo compromisso com a cultura nacional se fundamenta numa muito forte ligação com as manifestações da região onde nasceu. Mesmo trabalhando há 14 anos na televisão — meio de comunicação conhecido por ditar modismos e impor o matiz imperialista em tudo o que faz, Jackson prefere apenas dizer que prefere manter seus pés no chão para evitar certos equívocos que costumam lançar o artista no pântano.
Jackson Antunes nasceu em Janaúba, uma cidadezinha mineira a 700 km de Belo Horizonte, à beira do rio Gororoba, quase na divisa com a Bahia, cujo povo costuma se dizer baianeiro, "baiano cansado", tamanha a influência recebida da vizinhança. Téo Azevedo, seu conterrâneo, é uma das maiores referências para o norte das Minas Gerais e para o Brasil "cantadô" e aboiador. Outro conterrâneo famoso é o saudoso José Coco do Riachão, que, segundo Jackson, passou a ser conhecido na Alemanha como o Beethoven do Sertão, desde que uma TV alemã o incluiu num especial de música filmado em Montes Claros. Esses talentos evidenciam que não faltam grandes artistas neste país. O problema é que também não faltam intenções imperialistas (e pelegas) para sufocar a nossa poderosa arte.
— Sou daquela região onde todo mundo toca um instrumento, faz uma poesia, enfim, tem uma ligação com a arte. Vamos cantando e, de alguma forma, inventando dentro da arte para enfrentar as dificuldades daquele sertão danado, seco. E temos grandes talentos, conhecidos no exterior como gênios, mas que, infelizmente, poucos brasileiros conhecem. Um disco de seu Zé Coco do Riachão, chamado Brasil Puro, produzido por Téo Azevedo, chega a custar 1.800 dólares em um sebo em Nova Iorque. Isso, quando alguém consegue achar, porque é difícil, vende muito. Por aqui, pouquíssimas pessoas sequer conhecem o autor.
Jackson explica que a viola caipira é o instrumento mais popular na região, entre muitos outros riquíssimos. Lá é a terra das folias, a Folia de Reis, sendo que a de Alto Belo, de Téo Azevedo, a mais importante. É uma folia que tradicionalmente não usa o acordeon, como as outras. Em seu lugar usa a rabeca, o violão, e viola caipira. Basicamente, também é a terra dos aboios, que é o grito usado, de formas diversas, para conduzir o gado.
— Ao contrário de Goiás, que usa o berrante feito de chifre de boi, na nossa região usamos o aboio, que na verdade é um canto usado para conduzir a boiada e também serve, em outra ocasião, para avisar que no caminho tem cobra cascavel, gente perdida no cerrado; que está na hora do almoço, e até avisar que tem mulher bonita passando na estrada … (risos).
Jackson vem do circo: lá chegou aos sete anos de idade.
— A grande novidade na nossa cidade era a chegada do circo. Ele ficava alguns dias e ia embora, e nisso eu fui junto, pela região. Minha mãe deixou, porque povo da roça é diferente (risos) não tem esses medos da violência que existe na cidade. Além disso, aos sete anos eu já trabalhava ajudando meu pai, que era quebrador de pedras. Nós quebrávamos pedra e colocávamos em uma lata. Tínhamos que encher a lata para ganhar uma moeda, uma merreca — lembra.
Com quinze anos, Jackson saiu daquela região para tentar a carreira de ator no Rio de Janeiro, conseguindo ingressar na famosa Escola de Teatro Martins Pena. Mas como não teve condição de conciliar o trabalho, que era necessário para o seu sustento, com a escola, teve que voltar para sua terra. Fez teatro em Montes Claros, depois em Belo Horizonte, e mais tarde no Rio. Para ganhar a vida, trabalhava como pintor letrista, profissão hoje substituída pelos recursos da computação gráfica.
— O teatro de Belo Horizonte é muito sério, muito bem pensado e muito bem feito. Trabalhei com ótimos diretores, como Pedro Paulo e José Marcio Correa. Atualmente, além do grupo Galpão, uma feliz referência por lá, e conhecidos em todo país e exterior, existem outros muito bons, como o Corpo. Eu amo o teatro e nunca deixei de fazê-lo, dando preferência a autores nacionais. Apesar de acreditar que povo é povo em qualquer lugar do mundo, prefiro fazer os nacionais como Patativa do Assaré.
O cantor e o cantadô
Jackson canta e toca sua viola. Ele gravou um disco em homenagem a Luiz Gonzaga, exclusivamente com trabalhos desse artista, acompanhado de músicos de Montes Claros usando bumba, sanfona e triângulo.
— O disco foi todo gravado sem recursos eletrônicos. Na época, há cerca de 10 anos, nem era comum. Quer dizer, ele é todo de verdade. Se alguém desafinou, o desafinamento ficou lá mesmo. Não teve esse negócio de computador que afina a voz. Foi comercializado em bancas de jornal e revistas, alcançando 100 mil cópias vendidas. Uma honra muito grande, porque essa quantidade toda foi de um 'caboclo' que não é conhecido como cantor, nem é exatamente um galã da televisão (risos), mas que tem uma proposta honesta, trazendo o nome do seu Gonzaga — fala Jackson.
— Fiz também um disco cantando obras de Téo Azevedo, Jackson Antunes canta Téo Azevedo, e outro com a de Tião do Carro, que considero nosso violeiro maior. Ele tocou em todos os discos do seu Tião Carreiro. É muito querido — informa.
Jackson também é letrista, e canta algumas poesias suas em discos e shows pelo país, sempre falando daquilo que viveu no sertão das Minas Gerais, da seca, da esperança do povo, da fé, da família, do interior, da sua região, de onde vem o verdadeiro amor.
— Fiz um disco lindo com o Chico Lobo, chamado Nosso Coração Caipira, todo com canções conhecidas. Mas neste disco, ao invés de cantar, eu declamei. Fizemos isso, porque certo dia eu vi um moço dizendo na televisão que a nossa música sertaneja/caipira não tem melodia, não tem letra. Isso me incomodou de tal modo que eu quis fazer um disco falando as letras.
Continua o artista:
— O disco tem 25 canções declamadas. Eu declamo e o Chico toca viola. Foi um trabalho honesto e por isso bem aceito pelo povo. Editamos uma quantidade mínima, mas é sucesso até hoje — diz orgulhoso.
Jackson se diz "cantadô" e não cantor, aquele que canta as alegrias do amor, os causos, o cotidiano, do seu 'jeitão'.
— Seu Luis Gonzaga costumava dizer que, como lá na roça não tinha microfone, era obrigado a cantar mais alto. Aí o pessoal dizia que ele não tinha educação para cantar, porque deveria cantar assobiando, bem baixinho, meio bossa nova, esse negócio todo. Assim, por ele não ter educação para cantar, não era cantor: era cantadô (risos). E eu também não sou cantor, sou cantadô — nos revela a didática de Jackson.
O coração caipira
Há sete anos Jackson Antunes viaja pelo Brasil com o espetáculo Coração Caipira, no qual canta, declama, conta 'causos' e toca viola, preferindo sempre os autores nacionais pra falar daquilo que já viu, que já viveu, em grande parte no sertão mineiro.
— A cada cidade que passo, tenho oportunidade de conhecer uma 'nova cara' de um Brasil que pensava conhecer, de muitas manifestações, de muita mistura, de ritmos e de uma enorme quantidade de compositores desconhecidos lutando em favor da cultura brasileira.
Jackson explica o show:
— O cenário é uma budegazinha, venda de interior. Dois músicos viajam comigo, meus conterrâneos: Marimbondo e Chapéu (risos). Chapéu é um rapaz de vinte anos, que aprendeu a fabricar rabeca e viola caipira com o seu Zé Coco do Riachão
Prossegue o artista revelando as cores brasileiras do seu trabalho:
— Não sou um grande violeiro, como meu amigo Chico Lobo, que considero um gênio. Sou um apaixonado pela música, curioso e persistente. No show eu declamo poemas matutos, de seu Patativa do Assaré, do seu Zé da Luz e outros. Faço umas cantorias. Canto seu Tião Carreiro, a dupla Os Caipiras, e outros. Tem um momento especial que é o batismo caipira, em que chamo uma pessoa na platéia, tomo uma cachacinha alambicada lá de Minas Gerais, faço um poema, um versinho, e a pessoa a partir daquele momento, se não é caipira, passa a ser, (risos).
E prossegue na certeza de que a platéia vai responder:
— É tão maravilhoso, que quando termina o espetáculo, as pessoas vão subindo para o palco, e termina todo mundo lá em cima, conversando, tanto nas capitais como pelos interiores. No Rio, eu fiz o show na Barra da Tijuca. Um sucesso enorme. Todos perguntavam onde se comprava o disco, que música era aquela. Muitos jovens na platéia.
Jackson não tem disco do espetáculo, mas sempre leva o seu CD, Tião do Carro, que oferece no final do espetáculo. Assim vende seus discos, e não falta gente pra comprar. A temporada de um mês no Paraná rendeu seis mil discos vendidos. Bem humorado, ele diz que a fila pra comprar disco era tão grande, que lhe doíam as mãos de tanto assinar.
Não se deixou levar
Jackson Antunes aparece, desde o inicio da sua carreira na televisão, há quatorze anos, sempre com botinas, chapéu de couro. Um visual de que não abre mão. E diz que por conta dos valores que ele carrega consigo, não tem se deixado levar por modismos e alienações que, com certeza, já o teria transformado em uma espécie de boneco:
— Oportunidades não faltaram. Mas isso é muito sério, porque se destroem o homem ao destruir sua cultura, suas verdades, suas raízes, transformando-o em boneco manipulável. E se eu não mudei é porque fui salvo exatamente pelas coisas da minha terra. Se eu tivesse deixado de lado minhas tradições, minha língua, minhas raízes, com certeza já teria me perdido .
Prossegue tranqüilo:
— Atualmente existe uma pressão negativa sobre as pessoas, tentando fazer com que vivam como robôs, voltadas para o lucro, o sucesso fácil, e uma incrível cobrança em torno disso. Por isso, me encanto com a simplicidade e a transparência que ainda encontramos no povo do sertão. E é o que me salva da mentira, da ilusão. Eu gosto da roça, de ter carro de boi em casa e sempre receber os amigos tocadores.
E Jackson sempre conviveu com outros artistas avessos às influências que pretendem confundir e dissipar a cultura nacional. São artistas que igualmente 'não se deixam levar' por nenhum contrato milionário, mas que mantêm firme suas idéias, seu caráter.
— Meu amigo violeiro Chico Lobo, por exemplo, é tão exigente quanto as coisas brasileiras, que um dia fiz um disco, modelo, e coloquei uma bateria ao fundo, para dar um charminho, um enfeite. Mostrei para ele, que disse: 'Está bonito, mas não está puro'. E por isso, ficou uns quatro meses sem falar comigo (risos). Dona Inezita Barroso, também não gosta nada desse tipo de enfeite, e Téo Azevedo então, nem se fala. Imagine: nas festas anuais de folia de Alto Belo, que acontecem nos dias 9, 10 e 11 de janeiro, ele manda colocar uma placa dizendo: "Aqui é proibido qualquer instrumento elétrico, guitarra, bateria. Aqui, só instrumentos acústicos"
E fazedô de novela…
Além de não se desprender das suas 'coisas' e não ter deixado que a fama de ator de novelas e o dinheiro que ganhou lhe roubassem a simplicidade, Jackson sempre usou do seu trabalho na televisão para abrir espaço ao Brasil desconhecido. Em sua estréia na televisão, em 1993, fazendo um matador de aluguel em uma novela da Globo, ele insistiu com o diretor Luis Fernando Guimarães até conseguir convencê-lo a colocar o poeta popular Patativa do Assaré mostrando sua obra na novela:
— Quando meu personagem voltava de viagem de São Paulo para Ilhéus, lá estava o poeta cantando. Eu fiquei muito emocionado. E aquela primeira aparição do seu Patativa do Assaré foi um gancho para que ele fosse entrevistado em programas conhecidos, e assim o povo pudesse conhecer esse importante poeta popular do mundo. E o povo amou.
— Em outra novela, eu fiz o Regino, um líder camponês, e com esse personagem, consegui convencer o Luiz Fernando a colocar na trilha sonora da novela a canção do seu Zé Ramalho, chamada Admirável Gado Novo. Eu disse: 'ouça esta canção Luiz, parece que o seu Zé fez para o movimento'. A música entrou na trilha sonora da novela e foi um enorme sucesso. Até hoje, em qualquer barzinho que tem música ao vivo, tocam Admirável Gado Novo, porque estou lá. É a primeira vez que conto isto em público.
Jackson prossegue explicando sua tática de brasileiro solidário, ciente de seu papel:
— Na pele do violeiro Zangão, em outra novela, aproveitei para levar algumas canções, do selo do seu Marcus Pereira e acabou entrando cinco canções. Além disso, sempre que me convidam para um programa de entrevistas, de auditório, eu levo alguém, sem avisar, para mostrar o seu trabalho, e assim apresentar para o público um pouquinho desse Brasil desconhecido. Geralmente, é esse que acaba aparecendo e não eu, mesmo porque eu não quero falar de mim. Eu sou ator, faço personagens. Então, que os personagens falem por mim.
Jackson também conseguiu levar a Folia de Reis do Téo Azevedo para um programa de auditório, o que deixou o público presente, maravilhado. Outra vez, trouxe uma orquestra mineira de viola, para se apresentar no Mistura Fina, tradicional restaurante e casa de shows no Rio, uma das últimas existentes na cidade.
— Para trazer esses violeiros matutos para o Mistura Fina, eu tive que 'sentar' a cachaça neles, (risos), até que eles perdessem a vergonha — conta Jackson no seu jeito descontraído.
— Então tenho essa preocupação de mostrar o Brasil desconhecido, e fico muito feliz quando vejo trabalhos como o do jornal A Nova Democracia, que para mim está de parabéns ao mostrar esse Brasil real. Eu fiquei comovido ao ver uma matéria com meu amigo Chico Lobo, um dos mais importantes violeiros que existe neste Brasil, e fica escondido lá em Belo Horizonte. Outra, com seu Rolando Boldrin, que é um gênio, e com seu Ary Toledo, humorista de primeira qualidade. Então vocês estão de parabéns, por assumidamente mostrar esse Brasil escondido, que quando as pessoas têm acesso ficam extremamente encantadas.
Jackson insiste em explicar o Brasil que pouco aparece, ou que não deixam ver:
— Existe um Brasil escondido nos interiores do país, e também nas grandes cidades. No Rio, Lapa e Santa Tereza são locais onde se pode encontrar um pouco dessa cultura. E o Rio é um local onde o choro tem tido liberdade, com a família Carrilho: seu Álvaro, Altamiro e Maurício Carrilho, todos envolvidos em mostrar esse gênero brasileiríssimo para o povo. A nossa cultura resiste e corre totalmente paralela aos modismos.
Onde reside a beleza
Para compor seus personagens Jackson vai buscar nas suas lembranças e no melhor que há em sua volta, todos os elementos de que mais se orgulha. E pode dizer de peito aberto que, ao longo desses anos, nunca desempenhou um papel contrário aos seus ideais, à sua dignidade:
— Como não tive oportunidade de fazer escola de teatro, para compor os meus personagens, uso, com toda a dignidade possível, pedaços de pessoas que já conheci. É pedaço de um, jeito de outro. Mas para valer. Não é somente representar, é quase ser. Por exemplo, quando fiz o matador Damião, as pessoas demonstravam ter medo de mim na rua. Quando o meu personagem Regino morreu, as pessoas diziam: 'meus pêsemos seu Regino, o senhor não podia ter morrido'.
E emenda, simples:
— Muitos dizem que a televisão é uma arte menor. Mas acredito que quando o trabalho é feito com amor, responsabilidade e respeito ao povo, se torna algo maravilhoso. Creio que não dá para os programas e novelas se prenderem, por exemplo, a um rosto e a um sorriso bonito de um ator ou atriz, como muitas vezes acontece. Tem que observar o trabalho. Inclusive, na minha concepção, o ator mais bonito que conheci na minha vida e com quem tive o prazer de contracenar, chama-se: Grande Otelo. O brilho do olhar daquele moço chamava atenção. Tinha um metro e pouco de altura, escuro como a noite, e de uma beleza espetacular.
Jackson compara:
— Às vezes me pergunto se o seu Grande Otelo teria espaço, se estivesse começando hoje e passasse na porta de uma emissora, apresentando-se como ator querendo uma chance. Ou se deixariam o seu Luis Gonzaga entrar numa gravadora, se começasse hoje. Assim também seria com Jackson do Pandeiro, e muitos outros. Parece que antigamente as pessoas queriam ser felizes; hoje querem ser famosas e milionárias.
O artista desvenda os fundamentos da ética da moda e a ridiculariza:
— As pessoas estão enlouquecidas. A palavra 'chão' perdeu o sentido. Hoje, querem estar no 'ar'. Os Big Brother e afins, mostram isso. Lá no sertão, se uma pessoa disser que está no ar, quer dizer que ela está louca. Quem não tem mais os pés no chão, estando no ar, está louca .E quando as pessoas começam a pensar que têm que ser famosas, ganhar muito dinheiro, de qualquer maneira, e porque não tem lugar 'ao sol' para todo mundo, ela perde a sua condição de ser humano. Isso acontece todos os dias onde tudo gira em torno do lucro. Por isso é que não tem espaço nos meios de comunicação para músicas caipiras, choro, sambas autênticos, porque esse tipo de música costuma fazer as pessoas pensar, e voltar a sua condição de ser humano.
Jackson acredita que esta loucura é ligada ao capitalismo degenerado, que tem por trás o império, a dominação dos povos. Quando se deixa levar por isso, o povo fica confuso, se desanima na luta contra a opressão das classes dominantes e a dominação do imperialismo, e corre o risco de retroceder na luta pelos seus ideais de vida justa, de igualdade entre os povos, do ideal de uma sociedade em que não haja mais classes.
— Essa tal de "globalização" só serve para empurrar o povo para a ilusão do dinheiro fácil, da fama, da vida promíscua. O imperialismo quer dispersar o povo para que ele não se concentre na luta por igualdade social, mas se perca nas disputas individualistas e superficiais, que não mudarão nada, e acabe facilmente dominado. Junto com ele, toda a sua enorme cultura.
O artista segue denunciando as raízes da cultura espúria e louca, própria do imperialismo e de seus auxiliares internos:
— Sob essa loucura muitos artistas também perdem a noção do que realmente importa. Ao invés de realizar um bom trabalho, comprometido com o povo e sua cultura verdadeira, se preocupa em ser galã, símbolo sexual, e ficar com rótulo de 'ator mais bonito do Brasil', 'cantor mais bonito do Brasil' ou o 'jogador de futebol mais bonito do Brasil', enquanto eu prefiro acreditar na beleza dos pés do Garrincha, por exemplo.
Nosso povo é maior e mais forte. E tem uma grande cultura. Portanto, há como resistir e vencer:
— Mas a partir do momento em que eu vejo um jornal como A Nova Democracia, que estampa duas páginas com Chico Lobo e Rolando Boldrin, eu sinto nova esperança de melhorar esse quadro. Porque sinto que descemos tanto que não tem como descer mais. Batemos em um paredão de concreto e agora a única forma é tentar subir, e vamos subir com muita dor.
Atualmente Jackson faz os preparativos para uma minissérie na televisão e na adaptação para teatro do livro do escritor italiano Antonio Tabuque, Tá ficando tarde demais, uma história de amor, nada superficial.
É curioso: nos espetáculos que ele monta não tem elenco. A esposa faz a produção, e viajam de carro até o local da apresentação, repetindo o que faziam os circos, que viajavam pelo interior do país.
— O meu espetáculo é um circo. Como eu já fiz circo, tenho essa facilidade, e de alguma maneira eu revivo essa minha parte da infância, dentro e fora do circo, como uma criança que vê o circo chegando em sua cidade, e também como alguém que participa do espetáculo.
Além desses trabalhos, Jackson Antunes dá continuidade aos seus shows de viola caipira pelo país, e está trabalhando em seu novo disco Cantador de Amores, uma obra dos poetas paraibanos, Os Nonatos, desconhecidos fora do Nordeste, lá onde são tão famosos.
Outra revelação:
— Na Paraíba, se alguém contratar um show desses conhecidos como sertanejos, não cantadores da autêntica música caipira, e contratar um show de Os Nonatos, posso dizer que o de Os Nonatos vai dar mais gente. É impressionante. O público conhece, e canta junto, todas as suas canções. Eu fui conhecer de perto esses meninos.
Conheceu e, com os Nonatos, Jackson fará um CD não comercial:
— Serão vinte e cinco canções. Depois de pronto, pretendo gravar alguns CDs pra distribuir entre amigos e nos shows, gratuitamente ou então em troca de uma dúzia de ovos caipiras (risos). No demais, pretendo colocar a disposição em um site na Internet, para que as pessoas possam baixar livremente, mesmo porque não terá o apelo comercial que as grandes gravadoras gostam. A minha única intenção com esse CD é de que as pessoas ouçam.