O clarão de Osasco

O clarão de Osasco

Não seremos pacíficos como os sem-teto do Jardim Conceição. Se quiserem nos tirar daqui para nos jogar na rua, reagiremos

Os trabalhadores montam seu acampamento

No final do mês de novembro, a luta de mais de duas mil pessoas, que ocuparam uma área na região do Jardim Umuarama, na cidade de Osasco, completou quatro meses. O acampamento Carlos Lamarca fica no alto de um morro, um terreno de aproximadamente 600 mil metros quadrados, entre o Jardim Umuarama e o Parque dos Príncipes, zona sul da cidade.

Como a situação ainda é indefinida, as famílias permanecem em barracos de lona. Esses barracos não protegem do frio, nem do vento, e o calor os torna também insuportáveis.As crianças são as que mais sofrem, com muitos casos de pneumonia (no frio) e desidratação (no calor). A água tem que ser apanhada pelas pessoas a uma distância muito grande e numa altura muito mais baixa. Mas tudo isso, como sempre, não diz respeito ao poder público e aos governantes, mas estes, como sempre procurando se livrar do “problema”, se mobilizam rapidamente para acabar com a “desordem” e proteger a “propriedade violada”. Em primeiro de agosto, pouco depois da ocupação, quando a tropa de choque foi mobilizada e ameaçou desocupar a área, o comandante da operação dizia que se dependesse dele, faria dali um “novo Eldorado de Carajás”.

A luta segue em frente, segundo uma companheira da coordenação do acampamento. A confiança na luta do povo é grande.No acampamento foram formados mais de 60 grupos, com mais de 30 famílias cada, que discutem as questões da condução da luta, de organização do acampamento, das atividades com as mulheres, crianças, etc. Esse trabalho de mobilização possibilitou a realização de uma grande passeata até o palácio do governo do estado, onde, com outras 1.800 famílias que ocupam uma área na região de Ferraz de Vasconcelos, o povo em luta foi exigir o seu direito à moradia. Uma comissão foi recebida por representantes do governo, afinal de contas era período eleitoral.

Manifestação diante do prédio da prefeitura da cidade

No dia 22 de novembro houve a “reintegração de posse” em outra área ocupada no Jardim Conceição. A expulsão das famílias foi acompanhada da destruição de seus barracos por um trator e uma escavadeira da prefeitura, devidamente protegidas por um contingente da PM de São Paulo. As famílias ficaram na rua, sem ter para onde ir, debaixo de chuva.

A notícia da expulsão no Jardim Conceição fez com que as famílias do acampamento Carlos Lamarca redobrassem a coragem. “Não seremos pacíficos como os sem-teto do Jardim Conceição. Se quiserem nos tirar daqui para nos jogar na rua, reagiremos”, disse Zezito, um dos dirigentes do acampamento.

A juíza da terceira vara cível de Osasco, Anelise Souza, já determinou a reintegração de posse do terreno do Jardim Umuarama, apesar das negociações estarem sendo feitas com a prefeitura há dois meses pelo menos. A posição da prefeitura é de assentar apenas duzentas famílias, o que os acampados não aceitam.

Zezito, em nome dos ocupantes, afirmou: “Estamos unidos, queremos solução para todos. Quem ficou não tem para onde ir, por isso nossa luta deve ser dura”.

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