O fiasco de Sharm el Seij

O fiasco de Sharm el Seij

 Fizeram à imprensa uma proclamação de que com a reunião dos representantes máximos nacionais e internacionais se dera início à paz na Palestina. Mas quando constatamos que não foi discutida nenhuma das questões básicas enfrentadas pelos que estão em guerra — questões nem ao menos mencionadas na declaração final — chega-se ao absurdo. Não se falou do Direito ao Retorno, das fronteiras finais, dos “assentamentos” ou de Jerusalém, e também não se fez promessa alguma de discutir sequer a curto prazo estes importantes assuntos.

Ninguém conteve o alento à espera das declarações finais partindo da reunião de 8 de fevereiro último em Sharm el Seij, posto que todo mundo, exceto os participantes, era perfeitamente consciente da modéstia das expectativas.

A cobertura do evento não repercutiu seus pobres resultados, quando se qualificava a reunião como um êxito sem precedentes e um ponto e à parte no processo de paz. O resultado foi o “histórico” cessar fogo declarado conjuntamente por israelenses e palestinos, e o regresso dos embaixadores egípcio e jordaniano a Israel.

No que diz respeito ao cessar fogo, este já teve lugar dez dias antes como resultado da reunião mantida entre o senhor Dahlan, representante palestino, e o chefe da segurança israelense, Shaoul Mofaz. Desta forma na realidade o único resultado da reunião foi o regresso dos embaixadores. Ambos países (Jordânia e Egito) poderiam ter alcançado tal fim, certamente, utilizando seus próprios canais secretos, sem necessidade de uma reunião de lideranças das quatro bandas.

O que houve foi uma intenção de reforçar na área a desgastada imagem de Bush, debilitada por seus fracassos na Palestina e no Iraque. Estando pressionado interna e externamente para cumprir suas promessas eleitorais sobre estas duas frentes, ele até conseguiu um pouco por combinar esta reunião, e ao mesmo tempo pedindo o retorno dos embaixadores jordaniano e egípcio, tal e como solicitava Israel. Jordânia e Egito prometiam voltar com seus respectivos embaixadores quando Israel se retirasse dos territórios ocupados de Gaza e Cisjordânia, questão que não foi abordada. Consciente do previsível fracasso da reunião, a secretária de Estado Condolezza Rice declarava que o EUA não seria responsável por seu resultado, e que nem sequer assistiria a conferência, nem formaria parte desta paródia. Paródia que se assimila a dois jogadores de xadrez que se enfrentam por controle remoto, para não mostrar ao público quem realmente está jogando, nem revelar seu rosto em caso de fracasso.

O jogo perigoso de Abbas

O perigoso jogo em que participa o senhor Mahomound Abbas, aceitando o cessar fogo, não se deve à suspensão das hostilidades, senão o que se propõe utilizá-lo para desmantelar as diferentes facções palestinas em combate, traçando a linha do lixo israelense ao futuro de seu povo, e colocando o destino de todos os objetivos nacionais palestinos sob o juízo da confiança israelense. Todo ele porque — como declarou mais de uma vez — deseja comprovar as intenções israelenses; como se não contasse já com a experiência de centenas de promessas sionistas que foram quebradas no passado.

Ainda mais, o senhor Abbas aceitou deter a Intifada e a resistência, eliminando opções no caso de Israel romper suas promessas e acordos A prudência deveria pressionar o senhor Abbas a seguir com as negociações ao mesmo tempo que apóia a resistência até que a paz prevaleça. O senhor Silvan Shalom, ministro Exterior israelense, não escondeu os objetivos finais de Israel ao declarar que o cessar fogo não seria suficiente e que as facções armadas palestinas deveriam ser desmanteladas e incorporadas a instâncias civis. Com esta demanda, o senhor Shalom se assegura de que a resistência desaparecerá inclusive ante as previsíveis violações por parte de Israel dos acordos binacionais.

Essas operações não servirão para desviar o povo palestino do direito de empunhar suas armas até que todas suas aspirações nacionais sejam completamente atendidas. Tamanha conspiração contra este heróico povo fracassou no passado e não há razões para acreditar que este último complô mine a resolução dos palestinos para conseguir seus objetivos nacionais de libertação e independência.

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