Em 8 de maio de 1945, há 58 anos, numerosos contingentes do Exército Vermelho da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) tomavam a capital do III Reich, Berlim, praticamente encerrando o grande conflito mundial — um dos episódios mais sangrentos da história da humanidade que deixou um rastro de destruição e morte sem precedentes. Derrotando definitivamente o nazismo, até então a mais reacionária face do poder imperialista, as forças populares e antifascistas de todo os continentes, lideradas pela URSS, haviam alcançado uma extraordinária vitória. Passos firmes e resolutos foram dados rumo à construção de um mundo novo.
No entanto, o verdadeiro gestor dos terríveis conflitos que devastaram o planeta, o ventre que havia produzido o monstro nazista não fora definitivamente extirpado. O imperialismo mantinha-se vivo e prontamente o horror das guerras pela partilha do mundo e a rapina haveria de continuar e a se desenvolver, tornar-se mais agressivo e sanguinário.
A Bandeira da Vitória é colocada sobre o Reichstag pela vanguarda soviética
A Segunda Guerra Mundial foi, até hoje, o mais brutal conflito bélico da história. Nela perderam a vida cerca de 47 milhões de pessoas, além de cidades inteiras terem sido arrasadas — principalmente na Europa e na Ásia. Iniciada oficialmente em 1º de setembro de 1939, com a invasão da Polônia pelo exército nazista, esse novo confronto vinha sendo preparado pelas potências imperialistas, desde o final da Primeira Grande Guerra em meados de 1918.
Em suas análises sobre o imperialismo, Lênin, o grande chefe da Revolução Soviética, assim se expressara em relação às guerras na etapa imperialista: “Os acordos assinados ao fim de uma guerra são o ponto de partida de um próximo conflito.” Mais rapidamente do que muitos imaginavam, a história confirmou a exatidão destas palavras. A Europa, 21 anos depois de devastada, voltou a ser palco de mais uma sangrenta disputa interimperialista que, todavia, não se limitava a um único continente.
Diferente da Primeira Guerra, onde a disputa pela partilha das colônias era o único centro das preocupações imperialistas, nos conflitos de 1939/45 dois objetivos principais eram perseguidos: por um lado, os detentores do capital financeiro se batiam desesperada e imediatamente pela redivisão das riquezas mundiais. Por outro lado, aos grandes monopólios internacionais, insatisfeitos com a antiga partilha, interessava destruir a ferro e fogo o primeiro Estado socialista da história, a União Soviética.
Tentando conter a enorme crise econômica e social em que se afundavam, os mesmos contendores da Primeira Guerra se prepararam para uma nova disputa. Os sinais de um novo e mais terrível conflito já apareciam logo nos primeiros anos da década de 20: o surgimento do fascismo— a mais cruel forma da dominação do capital financeiro sobre os povos. E este fenômeno social próprio da época do imperialismo teria papel decisivo nos futuros acontecimentos.
Surge o nazi-fascismo
A situação das potências imperialistas após a Primeira Guerra não era nada alentadora. Devastadas pela destruição dos bombardeios, arruinadas economicamente e enfrentando a fúria revolucionária dos povos em seus territórios, essas áreas onde historicamente se concentraram o poder do grande capital, estavam gravemente ameaçadas em diversos países, especialmente na Itália, Alemanha e Hungria. A revolução socialista de Outubro, realizada em fins de 1917 pelos operários e camponeses russos, sob a direção do Partido Bolchevique, tornara-se o caminho das massas que lutavam contra a exploração. A nova revolução retirara das garras imperialistas 1/6 do território mundial e uma população de cerca de 70 milhões de pessoas.
Havia também os vergonhosos tratados impostos às nações derrotadas na guerra (como o Tratado de Versalhes), que traziam consigo a obrigação de pesadas indenizações a serem pagas aos vencedores, o que levava mais miséria, fome e desemprego aos países vencidos.
Duas tendências se delineavam: a revolução — que avançava em meio ao caos em que se encontravam tais nações — e as correntes mais reacionárias da burguesia, que se fortaleceriam contrapondo-se à causa popular. Esta última prevaleceu na disposição de forças até 1942, quando a defesa de Stalingrado se transformou em contra-ofensiva do Exército Vermelho, criando um “rolo compressor” ininterrupto até Berlim, em 1945. Em meio à crise sem precedentes em que se enredara, a grande burguesia monopolista de diversos países da Europa conseguiu organizar uma nova ordem para combater a revolução e a formar coligações convertidas em outras, sucessivamente, buscando a partilha do mundo que mais lhes conviesse, além da disputa pela hegemonia. Foi a Itália, ainda em 1919, quem primeiro constituiu o sistema ultradireitista nos novos moldes do imperialismo. Depois disso, o modelo foi adotado por diversos Estados “nacionais” como Alemanha, Espanha e Portugal, mais tarde Hungria, Bulgária e Romênia, em seguida o Japão.
O revolucionário búlgaro George Dimitrov, um dirigente do proletariado internacional, em sua intervenção no VII Congresso da Internacional Comunista, em 1935, disse que o fascismo “é a própria face do poder do capital financeiro. É o ajuste de contas terrorista do imperialismo com a classe operária, os camponeses e setores revolucionários da pequena-burguesia (…) e em política externa é o chauvinismo em sua forma mais brutal, que cultiva um ódio bestial contra os demais povos.” Toda a política dos governos fascistas, assim, se volta contra seu próprio povo e contra os demais países, visando o acirramento das disputas entre as potências imperialistas e a sua resolução por meio das armas.
O imperialismo leva às últimas circunstâncias o nacionalismo burguês e o anticomunismo. Ressuscita o mais desmoralizado misticismo, serve-se do misticismo e da demagogia. Busca socorro nas doutrinas, teorias e instituições correspondentes desprezadas pela Humanidade.
Em meio à enorme crise econômica/financeira que estalou no mundo a partir de 1929, conhecida como “grande depressão”, o fascismo ganhou mais terreno e se consolidou como a política preferida do imperialismo para jogar os custos de suas crises nas costas das massas trabalhadoras. Nessa época aparece em cena Hitler e seu partido nazista (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães — NSDAP) que, apoiado pelos principais conglomerados industriais e financeiros alemães (Krupp, Siemens, Bayer e muitos outros), ascende ao poder em 1933 e passa a desencadear violentos ataques contra os comunistas e democratas desse país para, em seguida, passar a ameaçar e agredir os demais povos da Europa. Nesse clima de tensão mundial e de agudização das contradições interimperialistas, é que transcorre toda a década de 30.
Prepara-se a guerra
Descumprimento de tratados, provocações, sabotagens e a assinatura de muitos pactos político-militares deram a tônica da década que precedeu a Segunda Guerra mundial. Algumas das principais operações bélicas que fizeram acelerar seu estalar datam desta época. Dois atos brutais podem ser destacados como mais importantes do período, anunciando ao mundo as intenções dos colonialistas nazi-nipo-fascistas:
Em 1931 o Japão, após violenta onda de assassinatos e expurgos de comunistas e democratas em seu país, invade ao norte o território da China, região da Manchúria, estabelecendo ali um governo títere. Isto atiçou a disputa imperialista por um dos países mais ricos e populosos da terra.
Em 27 de janeiro de 1933, em Berlim, é incendiado criminosamente o Reichstag (parlamento alemão) por elementos ligados ao partido nazista, que imediatamente utilizou-se de tal ato para iniciar uma sangrenta perseguição às forças populares alemãs e consolidar o regime de terror que vinha tomando de assalto o poder naquele país.
Com isso, se intensificava o rearmamento de exércitos por todo o mundo. Para avançar mais com sua política belicosa, as principais potências imperialistas puseram em prática pequenas agressões, destinadas a construir um cenário internacional favorável a seus planos: além da invasão da Manchúria e do massacre contra a população chinesa perpetrada pelos japoneses, os fascistas alemães e italianos financiaram e apoiaram os exércitos reacionários do espanhol Francisco Franco, que esmagou — apesar da heróica resistência do povo da Espanha — a recente República instalada naquele país no ano de 1936. A Itália, neste mesmo ano, também invade a Etiópia e, por fim, a Alemanha de Hitler se apodera da região dos Sudetos, pressionando depois os governos da Inglaterra e da França para, em 1938, invadir a Tchecos-lováquia, numa ação ratificada no vergonhoso episódio conhecido como “Acordo de Munique”, celebrado entre Chamberlain, Daladier e Hitler, chefes de Estado dos três principais países europeus.
Sem tomar nenhuma atitude concreta contra a desenfreada expansão nazista, as demais potências imperialistas tomavam claramente posição a favor de uma nova guerra. Apaziguando com Hitler, facilitavam o rearmamento da Wermacht e a finalização dos preparativos político-militares da Alemanha que, acreditavam, no caso de uma guerra próxima voltaria seus canhões prioritariamente contra a União Soviética, aniquilando-a. A destruição deste país, na época pátria internacional dos trabalhadores, era do interesse de todo o mundo capitalista. No entanto, as previsões imperialistas estavam parcialmente erradas.
Batalhões operários desfilam na Praça Vermelha antes da defesa de Moscou
Enfrentam-se as coalizões
Em 1º de setembro de 1939, dando continuidade a sua expansão, os nazistas invadem a Polônia. Imediatamente, Inglaterra e França declaram-lhe guerra, iniciando o conflito que durará seis anos e envolverá de modo direto 72 países, divididos entre as duas grandes coalizões militares: de um lado o Eixo, com os fascistas da Alemanha, Itália e Japão à frente; de outro, os Aliados, integrados por Inglaterra e França, inicialmente, vindo depois União Soviética e USA.
Infinitamente mais bem equipada e treinada para a guerra do que seus primeiros adversários, as forças do imperialismo alemão iniciam o avanço sobre a Europa numa velocidade e violência até então desconhecidas. Adotando como estilo militar a blitzkrieg (guerra-relâmpago), os nazistas invadem e saqueiam — num espaço de poucos meses — os territórios de Hungria, Bulgária, Romênia, França, Holanda e Bélgica, estabelecendo aí governos colaboracionistas. Apenas a Inglaterra não havia sido sitiada, mas sofria com o bombardeio de suas cidades.
O trabalho de quinta-coluna, uma associação entre os agentes nazistas e traidores de diversos países, fortalecia o avanço do imperialismo alemão. A Gestapo havia comprado um sem número de traidores distribuídos nos postos-chave dos governos nos países que pretendia vencer militarmente, minando a capacidade de resistência adversária. Com estes artifícios foi conquistada a parte ocidental da Europa, que o Alto Comando alemão denominou de “Fortaleza Europa”.
Somente após ter destruído as potências européias na sua retaguarda, é que os imperialistas alemães deslocaram o centro de gravidade da guerra para a frente oriental, em direção à URSS, e ocuparam ali um imenso território sem precisar dividi-lo com concorrentes. Esperavam os nazistas encontrar um país debilitado e imerso em pugnas internas, presa fácil para suas sanguinárias divisões.
Ataques a URSS
Na primeira fase da guerra (setembro de 1939 a junho de 1941) os nazistas não encontraram adversários à altura na Europa. Surpreenderam também a Dinamarca, Noruega, Iugoslávia e Grécia, além de se instalarem por algum tempo no norte da África. Suas tropas de ocupação controlavam uma imensa faixa de terra, novas colônias, cujos povos o Reich escravizara para sua indústria de guerra. Faltava a conquista da União Soviética — inimiga jurada do fascismo e possuidora de uma infinidade de riquezas humanas e materiais que interessavam às corporações germânicas.
Pensavam os nazistas que as potências mundiais já haviam infligido à URSS suficientes golpes diplomáticos e econômicos levando-a ao enfraquecimento e ao isolamento. Ainda assim, em 14 de dezembro de 1939, os soviéticos são expulsos da Liga das Nações e quase todos os seus diplomatas retornam ao país de origem. Também em 1940, a Finlândia, estimulada pela reação internacional, viola a fronteira russa e passa a realizar provocações, criando no cenário internacional um clima propício para constantes agressões à pátria socialista.
Hitler esperava surpreender os soviéticos e conquistar Moscou em poucos meses. Contudo, quando o governo soviético aceitou firmar o pacto germano-soviético de não-agressão, neutralizava momentaneamente as intenções do Reich — tempo suficiente para recuar uma grande quantidade de trabalhadores e fábricas para o interior das linhas defensivas mais afastadas, garantindo o desenvolvimento das bases materiais da resistência. Frustrando os planos dos agressores, os povos da União Soviética e o Exército Vermelho transformaram-se em poderosos inimigos do bloco nazi-fascista e dos possíveis ataques combinados de outras potências. Para o desespero dos imperialistas de uma maneira geral, os intentos de infiltração, espionagem e terrorismo dirigidos contra o povo soviético, suas Forças Armadas e a indústria socialista soviéticas fracassaram. A quinta-coluna contra-revolucionária na Rússia foi detectada pelo povo e destruída a tempo, ao contrário do que ocorreu na França e nos demais países europeus.
Defesa e contra-ataque soviético
A invasão à URSS torna-se possível apenas em 22 de junho 1941, quando a Alemanha rompe o acordo de não-agressão, sem declaração de guerra, e abre, a leste, sua mais extensa frente. Apesar de alguns êxitos iniciais conseguidos em solo soviético, as tropas hitleristas são obrigadas a diminuir a marcha diante da resistência soviética. Para barrar o avanço do inimigo, que havia concentrado na frente leste mais da metade de seus efetivos — cerca de 4 milhões de soldados, entre alemães e aliados do Eixo, equipados com o grosso dos tanques e aviões de combate da Wermacht — os soviéticos combinaram várias formas de luta dentro da estratégia geral.
As linhas de defesa de território na URSS foram sendo dispostas uma atrás da outra, de modo concêntrico, diferentemente do que ocorrera na Europa, detendo o avanço rápido pretendido pelo inimigo. O Exército Vermelho e o povo organizaram a retirada a oeste do país, levando tudo o que pudesse ser utilizado na guerra e incendiando os equipamentos restantes, entregando aos nazistas o controle de áreas quase inúteis. A retirada combinava a ação de guerrilheiros (os vingadores do povo) nas regiões controladas pelos alemães. Fustigamentos, sabotagens constantes e eficientes, imobilizavam inúmeros soldados nazistas em sua própria retaguarda.
Os fascistas alemães, em quatro meses, atingiram vastas regiões soviéticas. Cidades importantes como Sebastopol, Odessa, Kiev, Minsk e Novgorod caíram em poder nazista, além de Leningrado, completamente cercada. A custo de imensas perdas, os nazis chegaram até mesmo às cercanias da capital Moscou, em novembro de 1941. Aí, já avistando a cidade, as tropas invasoras foram barradas pela resistência jamais encontrada. Mesmo sob bombardeio intermitente, as forças do Exército Vermelho e os moscovitas civis defenderam Moscou com tal audácia que transformaram a ofensiva nazista em retirada desesperada, quase debandada geral. Acontecia a primeira derrota da blitzkrieg.
Viragem histórica
A defesa de Moscou marcou definitivamente os rumos da luta contra o nazi-fascismo. No mundo inteiro milhões de pessoas aguardavam com enorme expectativa o desfecho desta batalha, especialmente nos países que viviam sob a dominação nazi. A partir da vitória soviética nesta frente, os combates ganharam novo alento. As futuras vitórias dos povos contra as forças de agressão alemãs, japonesas e italianas já podiam ser antevistas, apesar de ainda distantes. Mesmo contando com uma espetacular máquina de extermínio, e desfrutando de uma posição extremamente privilegiada no cenário da guerra, o Alto Comando das forças alemãs começava a sentir os primeiros e destruidores golpes. Hitler não conseguia alcançar seus dois maiores objetivos em solo soviético — conquistar Moscou e Leningrado, os centros do país — e permanecia em suas primeiras posições, fustigado constantemente. Ao norte da África, tropas inglesas venciam o África Korps, comando especial das SS (tropas de elite alemãs) que havia conquistado parte do Egito e países vizinhos. A inesperada entrada do USA na guerra contra o Eixo se constituía numa outra vitória da diplomacia e exército soviéticos.
Restava aos nazistas a possibilidade de romper a defesa soviética com um maior e mais fulminante ataque, desta vez na frente sul, na direção do rio Volga em cujas margens se encontravam importantes centros petrolíferos como Bakú, Grósni e Stalingrado que, além de ricas em combustíveis, ofereciam estratégica passagem para a frente de Moscou.
Assim, a conquista de Stalingrado tornou-se uma questão decisiva pelos dois contendores. Cerca de dois milhões de soldados de ambos os lados foram concentrados na cidade — que, na época, tinha uma população de 600 mil pessoas.
Apesar da superioridade técnica nazista, Stalingrado não caiu e se transformou na maior façanha militar de toda a história das guerras. Recusando-se a ceder um palmo de terra da cidade, os soviéticos desenvolveram uma resistência a tal ponto ativa que, ao final, avançaram em direção ao 6º exército nazi, impondo uma derrota sem precedentes às forças nazistas. Em 31/1/43, após a assinatura da capitulação alemã nesta frente pelo marechal-de-campo Von Paulus, ninguém mais tinha dúvidas de que uma sensacional viragem histórica se operava no curso da guerra.
O “Rolo Compressor”
A defesa ativa se transformou numa contra-ofensiva geral em todas as frentes. Um avanço de tropas que o mundo admirado chamou de Rolo Compressor. As estrondosas conquistas soviéticas em sua Guerra Patriótica, desde a frente leste, empurrou as forças nazistas cada vez mais para dentro de seu próprio território. Repelido o ataque à cidade de Kursk, na chamada Operação Cidadela, o Exército Vermelho passou a ter a iniciativa dos combates e a concentrar um aparato militar sempre maior, libertando ao fim de cada batalha, cidades e aldeias antes ocupadas pelos fascistas. Num espaço de seis meses, foram reconquistadas as localidades de Oriol, Belgorod, Kiev — a capital ucraniana -, entre outras. Em 14 de janeiro de 1944 foi libertada Leningrado, depois de 900 dias sob cerco alemão. Em julho, os libertadores soviéticos chegam a Polônia, e com os patriotas poloneses libertam Varsóvia.
O avanço do exército dirigido pelo proletariado revolucionário alcança as terras do leste europeu e, em cada localidade e país que se libertava, surgiam insurreições populares que desembocavam no estabelecimento de regimes democráticos. Polônia, Romênia, Iugoslávia, Albânia, Bulgária e Hungria foram, após sua libertação, se transformando em Democracias Populares. Os governos colaboracionistas desses países caíam um a um, frente ao proletariado em armas, transformando-se em cidadelas antifascistas.
O outro lado da Europa
Enquanto a guerra tomava outro rumo na frente germano-soviética, na parte ocidental da Europa o domínio nazi-fascista perdia suas forças. Na Itália, França e Grécia, principalmente, as massas populares desenvolviam poderosos movimentos guerrilheiros, os quais minavam o domínio alemão, através do aniquilamento de oficiais da Wermacht, da sabotagem da produção bélica, no corte das linhas de abastecimento, etc.
Os partizans, nome dado aos guerrilheiros antifascistas nestes países, protagonizaram cenas de vivo heroísmo e decisiva importância na libertação de suas pátrias. Nas insurreições de massa que tiveram lugar em Paris e Roma, em 1945, por exemplo, o comando das operações de aniquilamento do fascismo coube a estes grupos revolucionários — combinando suas ações com a movimentação das divisões aliadas às portas das cidades. Os exércitos aliados ao Exército Vermelho da URSS chegaram ao continente europeu no dia 6 de junho de 1944, data conhecida como Dia D, no desembarque de 100 mil homens no norte da França, região da Normandia, para participar dos últimos enfrentamentos.
Dos meses finais de 1944, o avanço dos Aliados em solo francês, permitiu encurralar os exércitos fascistas em seus últimos redutos. Na Itália, as forças anglo-americanas e os guerrilheiros conseguiram derrotar o fascismo, inclusive esses últimos capturaram “Il Duce” Benito Mussolini, fuzilando-o. Em suas antigas posições no Ocidente, antes tão favoráveis, os alemães mal resistiram aos primeiros ataques das forças da coalizão antifascista — incluindo aí o contingente de brasileiros da FEB (Força Expedicionária Brasileira) — e pouco a pouco eles foram vencidos, aprisionados e escorraçados para dentro de suas fronteiras. O ano de 1945 prenunciava o fim do propalado Reich de mil anos que, por todos os lados, se via cercado.
Vitória final
Uma a uma as cidadelas alemãs e japonesas (as únicas que restaram do império fascista) foram batidas na Europa central e na Ásia. Na China, a Frente Única antijaponesa, dirigida pelo partido comunista de Mao Tsetung, conseguia espetaculares vitórias. Quase todo o país foi libertado da tirania colonizadora nipônica, antes mesmo dos combates finais na Europa. Na frente alemã, as tropas do Exército Vermelho sitiavam cidades e regiões inteiras, vindas do leste, e penetrando em Berlim nos primeiros dias de maio. Após encarniçados combates com as últimas divisões nazistas, a tomada completa da capital alemã se processou quase que simultaneamente com a entrada, nos subúrbios a oeste da cidade, das forças anglo-americanas. A 8 de maio, os nazis completamente batidos, assinavam sua capitulação incondicional (ver Box), cessando imediatamente as hostilidades. Estava consagrada a luta do povo da URSS e das demais massas populares oprimidas pelo fascismo, nas demais partes do mundo. Nos vários combates travados, muito se havia perdido. Milhões de mortos e uma legião de mutilados restariam como saldo de guerra, mas para sempre estaria golpeado o imperialismo: ainda que seu fim não tenha chegado nas lutas da Segunda Guerra mundial. Os povos de todo o mundo haviam aprendido — pelo exemplo imperecível da União Soviética — que não importa a ferocidade e o aparente poderio do inimigo. As massas trabalhadoras tudo podem vencer.
Representando o Alto Comando alemão, o Marechal de Campo Keitel assina a capitulação incondicional da Alemanha Nazista
Ata de capitulação militar
1 Os abaixo assinados, em nome do Alto Comando alemão, aceitamos a capitulação sem condições de todas as nossas forças armadas de terra, mar e ar e de todas as forças que se acham, nesse momento presente, sob o comando alemão, ante o Alto Comando do Exército Vermelho e o Alto Comando das forças expedicionárias aliadas.
2 O Alto Comando alemão dará imediatamente ordens a todos os comandantes alemães das forças terrestres, navais e aéreas, assim como todas as forças subordinadas ao comando alemão, de cessar as operações às 23:01 de 08 de maio de 1945, hora da Europa central, e de permanecer nos locais em que se encontrarem nesse horário, depor as armas, entregando o armamento e o equipamento militar aos comandantes das tropas aliadas do lugar, ou aos oficiais designados por representantes do Alto Comando aliado; não destruir e não avariar navios, buques e aviões, seus motores, cascos e equipamentos, assim como máquinas, armamentos, aparatos e meios técnico-militares de condução da guerra em geral.
3 O Alto Comando alemão designará imediatamente chefes correspondentes e garantirá o cumprimento de todas as ordens posteriores ditadas pelo Alto Comando do Exército Vermelho e o Alto Comando das forças expedicionárias aliadas.
4 Essa ata não será utilizada como impedimento para ser substituída por outro documento geral sobre a capitulação acordada pelas nações aliadas ou em seu nome e aplicável à Alemanha e às forças armadas germânicas em geral.
5 Se o Alto Comando alemão ou quaisquer forças armadas a ele subordinadas não procederem de acordo com a presente ata de capitulação, o Alto Comando do Exército Vermelho, assim como o Alto Comando das forças expedicionárias aliadas empreenderão medidas punitivas ou outras ações que julgarem convenientes.
6 A presente ata está em russo, inglês e alemão. Só são autênticos os textos russo e inglês.
Assinada em 8 de maio de 1945, na cidade de Berlim.
Em nome do Alto Comando alemão:
Keitel, Friedeburg, Stumpff
Na presença:
A cargo do Alto Comando do Exército Vermelho,
Marechal da União Soviética,
G. Zhukov
A cargo do Alto Comando das forças expedicionárias aliadas,
Primeiro Marechal de Aviação,
W. Tedder
Presenciaram a cerimônia de assinatura, como testemunhas:
O comandante das forças aéreas estratégicas norte-americanas,
C. Spaatz
O comandante em chefe do exército francês,
J. de Latre de Tassigny