O holocausto palestino

O holocausto palestino

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A verdade histórica diz, bem alto, que a Europa civilizou-se às custas dos povos árabes que, na Idade Média, colocaram esse continente em contato com a filosofia grega, a matemática, a astronomia e a medicina. Além disso, forneceram toda uma base técnica, sob a forma de descobertas de instrumentos de precisão, que permitiu a revolução científica do início da Idade Moderna e facilitou, mais tarde, o processo de industrialização, iniciado na Inglaterra, que trouxe aos colonizadores europeus imensas riquezas, mas aos colonizados, entre eles os árabes, apenas, miséria e morte.

 Durante séculos, o colonizador inglês dominou os mares e remou absoluto, fazendo da África e da Ásia um campo de experimentação política, ao estimular rivalidades étnicas, massacrar os nativos resistentes, saquear as riquezas locais e redesenhar os mapas desses dois continentes. Com o declínio do domínio inglês, no final do século dezenove, surge, logo, um substituto à altura, o sanguinário e voraz imperialismo norte- americano, que estabelece bases militares importantes, que vão do norte da África até o Oriente Médio, controlando pela força bélica todo o petróleo dos países muçulmanos

Em cima dessa matriz perversa, tem inicio o caminho de sacrifícios dos povos do Oriente Médio, particularmente o palestino que clama, ainda hoje, pelo cumprimento da resolução da Assembléia Geral da ONU de 1947, que criou na Palestina um Estado judeu e um Estado palestino: o primeiro se tornou realidade,o segundo não passou de ficção. No entanto, esse tratamento desigual não sensibilizou, até o momento, a comunidade internacional, submissa aos interesses dos EUA, ao mesmo tempo em que finge não ver a política agressiva e expansionista de Israel, que engorda o seu território às custas de terras palestinas.

Contando com o apoio irrestrito dos americanos, Israel age com a certeza da impunidade, consciente do seu papel de mera ponta de lança dos interesses norte-americanos no Oriente Médio, e graças a um exército bem treinado e bem equipado, às custas do sionismo internacional, o Estado judeu ousa, numa escalada sem fim, promover assentamentos ilegais de colonos judeus em território palestino, num flagrante desrespeito às resoluções da ONU, que o obrigam à desocupação. Nessa luta entre Golias e David, o gigante é a indústria bélica norte-americana, em conexão com as organizações sionistas e a direita israelense, cuja figura mais proeminente, no momento, é o genocida e psicopata Ariel Sharon, general responsável pelo massacre de Sabra e Chatila no Líbano, quando crianças, mulheres e velhos receberam um tratamento semelhante ao dispensado pelos criminosos nazistas aos judeus. Para Sharon, os palestinos só entendem a linguagem da força. São sub-raça, diante da raça eleita para governar o mundo e devem portar-se como cordeiros, indo para o sacrifício felizes por abdicarem de um território que lhes foi grilado, na marra, e conformados com a idéia de que outro ser humano pode não admitir a diferença e, por conseguinte, tem o direito de anulá-la, destruí-la.

Tal qual já vivera o povo judeu, o povo palestino vive o seu holocausto, o verdadeiro holocausto, não o holocausto dos filmes de Spielberg, não o holocausto da “Indústria do Holocausto”, de Norman Finkelstein, professor da Universidade de NovaYork. Na verdade, nesse momento histórico, Israel não é vítima, mas, sim, um Estado algoz, cuja prática se encaixa, perfeitamente, na concepção de totalitarismo formulada por Hanna Arendt , isto para não definí-lo como Estado terrorista, cuja Suprema Corte autoriza a tortura, como forma de arrancar confissões de prisioneiros palestinos.

A obstinação de Israel em destruir o povo palestino, a soldo dos EUA, se explicaria na implantação de um projeto judaico-cristão, cujo ápice seria a imposição da cultura americana, travestida de cultura ocidental, aos povos do Oriente Médio, vistos como bárbaros pelo establishment ianque. “Essa é uma guerra de civilizações”, falou Bush no porta-aviões Enterprise.

Paradoxalmente, o choque de civilizações é a marca do mundo globalizado. Ao difundir esse discurso, os países mais ricos escondem as desigualdades da inserção no mercado internacional No dizer de Samuel Huntington, esse choque é inevitável e deixa antever a necessidade de expedições punitivas para os “sarracenos” de todos os gêneros e de todos os recantos do globo terrestre. A periferia que se cuide e se conforme à escravidão, pois tio Sam, não satisfeito em marcar o século vinte com o sangue das guerras de rapina, programou, para esse início de século vinte e um, transformar o mundo numa extensão do seu território, onde o Direito Internacional Público daria lugar ao Direito Interno americano e todo cidadão seria alcançável pela justiça americana.

Essa estratégia se confirma, após o evento de 11 de setembro, quando o discurso do bem contra o mal, proferido por Bush se materializou no bombardeio criminoso do Afeganistão. E o choque de civilizações, no qual o ocidente que se pretende universal renega culturas milenares, pretextando defender uma população do fanatismo religioso talibã, mas, na verdade, o que pretendem é a eliminação física do saudita Bin Laden, supostamente, envolvido no atentado do World Trade Center e que, hoje, desafia a nação que não se cansa de dar lições de democracia e liberdade a todos os povos do mundo, mesmo que, para isso, necessite seqüestrar e julgar, em seus tribunais penais militares, qualquer mortal que se atreva a questionar os seus atos de pirataria, isto é, a sua política externa.


*Thelman Madeira de Souza é Médico do Ministério da Saúde; Licenciado em Filosofia pela UERJ.
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