Desde sempre, a disseminação do medo é elemento-chave das estratégias de dominação. Onde há uma relação de opressor e oprimido, lá está o fomento do terror para ajudar a cimentar o jugo de uns sobre outros.
Medo é uma das palavras-chave das doutrinas religiosas em geral, por exemplo. Medo é tanto matéria-prima quanto produto do contraevangelho, ou melhor, da contrapropaganda imperialista, aquela que tenta apresentar os verdadeiros heróis do povo como seus maiores e temidos inimigos: as lideranças comunistas, a resistência às ofensivas coloniais – chamadas genericamente de “terrorismo” –, a classe operária organizada para a luta contra a burguesia, os deserdados da terra insubordinados e inconformados com tanta exploração.
O monopólio internacional da mídia, por exemplo, incluindo seu braço no Brasil, adora inflar o terror entre o distinto público: do medo de superbactérias arrasadoras ao fomento do medo de camponeses inarredáveis da justa e violenta luta contra o latifúndio. São as oligarquias em seu esforço de fazer seus próprios pavores serem compartilhados por todos. Nos últimos tempos, o cacarejo da dobradinha entre o imperialismo e o monopólio da imprensa está recheado de menções a “ameaças nucleares” representadas, dizem eles, por países “párias”. São os poderosos do mundo tentando esconder que as verdadeiras forças de destruição em massa são a devastação em curso promovida por seus monopólios e a devastação em potencial dos seus arsenais nucleares, ainda mais quando tudo indica que o mundo caminha para uma nova e grande guerra.
Potências agressoras
Porque pretendem desenvolver tecnologia nuclear, mesmo que declaradamente para fins pacíficos, países como o Irã e a Coreia do Norte vêm sendo reiteradamente agredidas pelo conjunto de potências reunidas sob a denominação de “comunidade internacional”. São insultos, provocações e sanções econômicas de toda sorte que penalizam a vida de suas populações. Enquanto isso, aqueles que vociferam contra estes países ditos “hostis” são, esses sim, chefes beligerantes que controlam arsenais nucleares capazes de hostilidades tamanhas que poderiam mandar o planeta pelos ares algumas vezes seguidas, como se fosse preciso mais de uma aniquilação total da vida sobre a Terra.
Enquanto o Irã é tratado no âmbito da política do imperialismo, a chamada “geopolítica”, como um perigo real e imediato e não tem uma ogiva nuclear sequer, dados oficiais mostram que o USA tinha cerca de dez mil ogivas nucleares em 2006, sendo que seis mil delas ativas e operacionais, ou seja, prontas para serem detonadas a qualquer momento, distribuídas em mísseis terrestres, aviões bombardeios e submarinos, onde estavam a maioria delas: 3.168.
Em maio deste ano, o Pentágono divulgou que o exército ianque tem na verdade 5.113 ogivas, entre aquelas operacionalmente mobilizadas, mantidas na reserva ativa ou armazenadas de forma inativa. A redução teria sido feita nos termos do acordo Start-1 de redução de armas estratégicas, assinado entre o USA e a Rússia em 1991. Mas quem diz isso são os mesmos que em 2003 moveram suas tropas para o Oriente Médio para invadir o Iraque e enforcar o seu presidente, tendo debaixo do braço relatórios mentirosos, segundo os quais ali estavam escondidas armas ilegais de destruição em massa, tudo enquanto os próprios invasores não se faziam de rogados em usar armas químicas contra o povo agredido (ver nesta edição de AND).
Só os ianques têm planos de usar a bomba
A Rússia, de pretensões imperialistas e comandada pelos gângsters Vladimir Putin e Dimitri Medvedev, acusa o USA de violar compromissos da redução de armamentos estratégicos e ela própria, a Rússia, após o também suposto cumprimento dos termos do Start-1, diz ter hoje 5.518 ogivas. Já a Grã-Bretanha, cúmplice maior dos crimes do USA, tinha em 2006 menos de 200 ogivas equipando mísseis balísticos prontos para serem lançados de submarinos nucleares. Também no último mês de maio, a nova administração britânica divulgou que já tem 225 ogivas sob seu controle, 160 delas operacionais. A França tinha cerca de 350 ogivas nucleares em 2006, mas em 2008 Nicolas Sarkozy, outro mentiroso contumaz, disse que o arsenal nuclear francês incluía “menos de 300 ogivas”. A China revisionista e ansiosa por maior protagonismo no processo de repartilha do mundo é considerada uma potência nuclear desde 1992.
Ora, diante de potências nucleares divididas em blocos de poder em concorrência pela partilha do mundo e com um sem número de ogivas prontas para serem detonadas, fica claro que toda a pressão e as ameaças dirigidas por essas potências a nações que pretendem manejar tecnologia nuclear não passam de uma tentativa de negar-lhes o direito de se defender, direito mais do que legítimo no atual cenário de conformação para a guerra. Além do mais, apesar de as potências nucleares insistirem na tecla de que a administração do presidente Mahmoud Ahmadinejad já manifestou intenção de “varrer Israel do mapa”, o único governo que tem um plano concreto e documentado de ataque atômico iminente é o governo Obama, sendo que o alvo ora sob a mira é justamente o Irã.
A mentira da redução de poderio
O Estado ilegítimo de Israel, que se diz ameaçado pelo Irã, consta no rol de países “suspeitos” de terem arsenais nucleares. Estima-se que as ogivas em poder dos senhores da guerra sionistas sejam entre 100 e 200. Os chefes sionistas não informam à Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) qualquer dado sobre seu programa nuclear, não permitem a entrada de inspetores da AIEA, nem tampouco fizeram de Israel signatário de qualquer tratado de não-proliferação. Israel é um Estado colonialista fundado na usurpação da Palestina, nas infinitas agressões ao povo palestino e em uma política de limpeza étnica da terra que roubou. Volta e meia suas forças armadas assanham-se além das fronteiras do território que tomou à força para atacar países vizinhos, como o Líbano. Recentemente, se descobriu que o sionismo ofereceu armas nucleares aos racistas que comandavam a África do Sul do apartheid oficializado.
Nem por tudo isso o USA e o resto da “comunidade internacional” sinalizam com qualquer reprimenda aos sinonistas em nome da tão alardeada “segurança nuclear”, muito menos com esforços diplomáticos, ultimatos, sanções e ameaças de bombardeios, como se faz com o Irã. Ao contrário: no início de julho, Obama enviou a Israel um documento secreto firmando um compromisso de cooperação nuclear entre os dois países, segundo informações do jornal israelense Ha’aretz. Isto porque Israel é protetorado ianque, enclave do USA no meio de uma região de grande interesse para os monopólios.
Desaguadouro da crise é a guerra
O Estado colonialista e ilegal de Israel ficou em sexto lugar no ranking dos países que mais compraram armas em 2009. O dado consta no último relatório anual sobre despesas militares no mundo do Instituto Internacional de Estocolmo para Pesquisa sobre a Paz (Sipri, sigla em inglês), divulgado no último dia 2 de junho. Este relatório dá conta de que os gastos com a corrida armamentista protagonizadas pelos blocos de poder globais alcançou a cifra de U$S 1,5 trilhão de dólares no ano passado, um aumento de 5,9% em relação ao ano anterior, mesmo em meio ao um processo de aprofundamento da crise estrutural do capitalismo. Em 2009, o Produto Interno Bruto (PIB) mundial encolheu 0,9%, mas as despesas militares não param de crescer. Esses números confirmam a lição histórica de que o desaguadouro da crise geral do imperialismo não é outro senão a guerra.
Mais uma vez, o USA movimentou a maior quantidade de recursos destinados à alimentar a faceta bélica da corrente luta por hegemonia econômica e territorial, com a máquina de guerra ianque consumindo 53% dos gastos mundiais com “defesa”, como gostam de dizer os chefes, burocratas e senhores da guerra das potências, ainda que os povos bombardeados pelo imperialismo saibam bem que o que se gasta, gasta-se eminentemente para atacar.
O imperialismo é a guerra
Em todo esse contexto, as negociações e acordos que as potências nucleares fazem entre si, alegadamente para reduzir o seu próprio poder de destruição em massa, são arranjos que dizem respeito tão somente aos poderes de dissuasão no âmbito da geopolítica, a política do imperialismo. Ou seja: nestas cúpulas de “segurança nuclear” e “não-proliferação”, o que se discute é como a questão nuclear se insere nas relações internacionais de dominação e não significam que a ameaça representada pelos arsenais nucleares das potências esteja ficando menos significativa. Segundo um relatório divulgado no ano passado pelo Boletim dos Cientistas Atômicos, só o USA tem capacidade para liberar energia nuclear equivalente a 35 vezes a bomba que os ianques jogaram sobre a cidade japonesa de Hiroshima em 1945, e as três maiores potências nucleares, USA, Rússia e China, têm logística para jogar bombas atômicas em qualquer lugar do planeta, a qualquer momento.
USA, Rússia e China, ao lado da Europa, são exatamente as grandes forças em concorrência que tendem a se “entender” nas armas. O imperialismo é a guerra e as tropas já se movem: a Rússia acaba de instalar mísseis na Abecásia, província separatista da Geórgia, e logo depois a União Europeia anunciou o prolongamento de sua missão no território georgiano até 2011. A mando dos ianques, e para provocar a Coreia do Norte, a Coreia do Sul iniciou no Mar Amarelo a maior operação da história da sua marinha de guerra. Ao mesmo tempo, o imperialismo já começa a dirigir ultimatos à Turquia e ensaia ocupações e ataques em países como Iêmen e Somália, margens asiática e africana, respectivamente, do estreito de Bab al Mandab, que separa a península arábica da África e dá passagem estratégica ao mar Vermelho.