Leste vermelho,
nasce o sol,
sobre a China
surge Mao
Presidente Mao e o marechal Lin Piao na Assembléia Nacional do Povo Chinês,
onde foi encenada a ópera
Na velha China, a escuridão e a tristeza envolviam a terra e o céu. O povo vivia plangente por causa da miséria, defrontando-se com o imperialismo, com o feudalismo e com o capitalismo burocrático. Mas chegou o dia em que esse mesmo povo, em ondas sucessivas, ergueu-se para protestar e lutar.
Assim a fala do narrador inicia a primeira cena de O Leste é Vermelho, uma das mais brilhantes peças da literatura e da arte revolucionárias do proletariado internacional. Ela chega ao povo chinês em 1965, nas formas de um teatro total.
Dongfang hong, título original de O Leste é Vermelho, tem como diretor Wang Poing. Essa ópera, com 125 minutos de duração, utilizou muito mais que os recursos do teatro tradicional, acrescentando uma imensa orquestra, um coral de aproximadamente 600 componentes, os mais renomados cantores solos de toda a China, técnicas circenses (em particular a acrobacia), cinema, arte pictórica etc. e uma incomparável fidelidade à causa do povo e à ciência. Ao todo, mais de 3 mil pessoas, entre alunos, trabalhadores e funcionários da arte de Pequim tomaram parte nas apresentações.
A ópera tem como título homônimo a canção que se tornou, de fato, o hino da República Popular da China durante a Grande Revolução Cultural. A letra é atribuída a Li Youyan, um agricultor do norte de Shanshi, e a música foi composta a partir de uma canção folclórica local.
Depois que a camarilha de Teng Shiao ping assumiu o poder — promovendo a restauração capitalista e eliminando milhares e milhares de quadros do Partido Comunista da China —, em razão das vinculações da canção com a Revolução Cultural acusada de fazer o “culto à personalidade” do Presidente Mao Tsetung, ela foi proibida e só muito raramente ouvida. O Leste é Vermelho foi substituída pela Marcha dos Voluntários, cuja letra não menciona o Partido Comunista, tampouco o Presidente Mao.
Dos artistas, literatos e trabalhadores científicos do povo, dos operários, camponeses e soldados de todas as regiões, vieram contribuições para a montagem e realização daquela obra que marcou um grande momento na expressão da República Popular e do Socialismo em bases científicas sob a direção do proletariado revolucionário.
Ainda que não seja este o histórico da ópera (de sua montagem, encenação, conquistas técnicas, circunstâncias particulares em que ela foi produzida etc), há todavia, alguns registros daquele período com relação à literatura e à arte, do quanto chegou até nós no Brasil, e que mencionamos no espaço possível. Todavia, eles só podem ser compreendidos utilizando-se o método de investigação e análise da história da luta de classes na China, inclusive buscando compreender onde estavam e de onde provinham as ideais justas na intensa e encarniçada luta interna no Partido Comunista da China, no interior do sistema de Poder e nas massas.
Quando O Leste é Vermelho foi encenado, o famoso confronto sino “soviético” já havia se realizado (de 14 de junho de 1963 a 14 de julho de 1964). Os debates tiveram início com uma carta de 25 Pontos e concluídos com o nono comentário (de uma série de nove artigos — entre 6 de setembro de 1963 e 14 de julho de 1964), em que o Partido Comunista da China criticou duramente o revisionismo e a restauração capitalista na URSS.
Encarniçada luta
Cartaz anunciando a apresentação de O Leste é Vermelho
As posições defendidas pela ala revolucionária do Partido Comunista da China dirigida pelo Presidente Mao Tsetung foram terrivelmente reprimidas pelos bandos pró-Kruschov — então maioria no conjunto dos partidos comunistas do mundo inteiro.
O Leste é Vermelho, entre tantas manifestações culturais que antecederam a deflagração da Grande Revolução Cultural Proletária, surgiu desprezando as orientações para a literatura e a arte saídas dos arsenais teóricos dos bandidos revisionistas que, também na China, se encontravam no aparato do Estado e de governo preparando um grande golpe contra o proletariado. Ainda que a vitória dos revisionistas fosse inevitável — e desfechasse seu último e definitivo golpe em outubro de 1976 — a revolução cultural atormentou durante dez heróicos anos aqueles que conspiravam contra o povo chinês e buscavam a restauração capitalista na China, além de trazer grandes ensinamentos ao proletariado do mundo inteiro.
Ao anteceder a Revolução Cultural, o Presidente Mao concluía:
“A cultura imperialista e a cultura semifeudal são duas irmãs muito unidas que fizeram uma aliança reacionária para se oporem à nova cultura chinesa. Essas culturas reacionárias estão a serviço dos imperialistas e da classe feudal e devem ser destruídas. De outro modo, será impossível edificar uma nova cultura“.
Com efeito, por essa época os revisionistas esforçavam-se para montar diversos gêneros de peças venenosas, um amontoado de histórias sob o ponto de vista da cultura feudal e burguesa.
Por exemplo, a Companhia nº 1 da Ópera de Pequim, segundo depoimento de 1968, manteve-se por muito tempo sob o poder da “linha negra revisionista”. Assim, os “imperadores, reis, generais, ministros, pajens, donzelas e outros gênios malfazejos” eram impostos como personagens mais importantes nos diversos gêneros de óperas montadas por mais de 2.800 companhias, além de grupos profissionais e conjuntos artísticos — explicava a senhora Chiang Ching (presa em 1976, uma sentença do tribunal dizia que ela estava “afastada do Partido e do mundo para sempre“), uma das mais destacadas personalidades dirigentes do povo chinês e que passou a dirigir a Companhia nº 1 em 1963. A revolução na Ópera de Pequim continuou sendo acossada por toda a sorte de intrigas, sabotagens e repressões abertas, dirigidas principalmente pelos kruschoves da China.
Um dos episódios marcantes da luta entre a revolução e a contra-revolução no teatro ocorreu quando da apresentação de A fagulha nos caniços, obtendo um retumbante sucesso, assistida inclusive pelo próprio Presidente Mao que felicitou os atores e fez algumas recomendações.
Kruschoves da China
Como resposta, um braço da quadrilha de Liu Shao shi desencadeou uma forte campanha de intrigas e de sabotagens contra a Companhia nº 1. Chegou a ponto de impedir que artistas e técnicos se misturassem com o povo nas suas pesquisas. Ocultava essa atitude simulando visitas de artistas ao campo, adulterando fotos e as publicavam nos jornais.
Bandos assim também minavam insidiosa e criminosamente as decisões adotadas pela direção do Partido Comunista da China de desencadear a Grande Revolução Cultural Proletária, retardando e interrompendo medidas e ações desenvolvidas pelo Partido.
Na literatura e na arte, para confundir as orientações revolucionárias, esses bandos — que se serviam das armas trotskystas, do misticismo feudal e do fascismo de uma maneira geral — impunham a teoria dos três gêneros simultâneos: “peças tradicionais, de temas contemporâneos e novas peças históricas”.
No caso da arte tradicional, quando alegavam oposição a esse tipo de arte, o faziam por pura intriga, na realidade para se oporem aos revolucionários proletários — entre eles, a dirigente Chiang Ching, esposa do Presidente Mao Tsetung. Como os revisionistas não podiam publicamente se opor à necessidade de estudar profundamente a história milenar da China e sua arte, negavam o método científico de investigação e análise.
Claro que é preciso preservar uma boa obra original antiga, mas é decisivo analisar a sua tendência política e, ao apresentá-la, elevar cuidadosamente suas qualidades — inclusive “sem procurar fazer-lhes alterações supérfluas, enquanto os defeitos devem ser corrigidos”, como observava a senhora Chiang Ching. De fato, não cabe fazer com que os personagens reacionários passem como progressistas ou revolucionários, tampouco inventar personagens de vanguarda na história e na arte milenares, mas descobri-los e reconhecê-los.
Além disso, por acaso também, houve alguma época em que o povo foi retrógrado ou minoria na sociedade? Os revolucionários deveriam utilizar-se do método metafísico de análise e investigação, do estilo feudal e imperialista da narrativa, acima de qualquer crítica a pretexto de preservar a arte tradicional? Que tradições nos interessam: a dos reacionários ou as do povo progressista e revolucionário?
Hoje, falam muito das tradições chinesas, mas só enaltecem como chinesas as tradições feudais com sua miséria e decadência — da gastronomia ao artesanato. Como se o povo chinês estivesse mumificado, nem tivesse história, de 1921 a 1976.
Os revisionistas utilizavam, a princípio, artifícios muito sutis para fugir à discussão sobre a luta entre as artes feudais e imperialistas por um lado e a arte revolucionária proletária por outro. Eram formas de manter a arte (parte da superestrutura) atrasada, incapaz de corresponder e apoiar os objetivos da base econômica do socialismo, sabotando-o, portanto.
Criar sobre que bases?
A grande revolucionária Chiang Ching, explicava ser inconcebível que, passados 15 anos da fundação da gloriosa e amada República Popular da China, então com quase 600 milhões de operários, camponeses e soldados revolucionários (entre os que tudo produzem e os que defendem o povo sem viver à suas custas, ao contrário do exército de velho tipo), ainda não estivessem representados na literatura e na arte — mas que uma minoria com suas concepções contra-revolucionárias fosse personagem dos enredos mais importantes.
Chegara o momento de as óperas (artes profundas), servirem verdadeiramente à época atual. Se finalmente a ciência da luta de classes desvendara toda a gênese da economia, da dialética e da história da sociedade por que se recusar a revelar a realidade às massas?
Também não era possível avaliar uma peça a partir da montagem, quando tudo já estava feito e pouco poderia ser modificado. Era preciso conhecer os textos no seu conteúdo político que merecessem uma verdadeira criação artística, já que não é possível criar algo à base de textos que vão do retrógrado ao contra-revolucionário.
A senhora Chiang Ching aprofundava suas explicações afirmando que para resolver a questão da criação “é preciso realizar a tripla associação da direção, dos artistas profissionais e das massas populares”. Vale dizer, é preciso entender a vida das massas e de suas causas mais justas para tomar partido das massas — no passado e no tempo presente, por mais breve que seja o instante focalizado. Mas, sem realizar a associação revolucionária entre a direção, os artistas e as massas populares, da mesma forma, jamais haverá arte proletária.
Sem dúvidas, os conhecimentos e as orientações dessa grande revolucionária iam muito mais longe, e mesmo os trechos aqui citados aparecem na brochura A propósito da revolução na Ópera de Pequim, três anos após o lançamento de O Leste é Vermelho. Mas isso nos basta, por enquanto, para lembrarmos determinados aspectos da obra em quais circunstâncias políticas ela se tornou possível.
Cena primeira
A primeira cena de O Leste é Vermelho traz momentos comoventes, reveladores das relações de exploração mais vil e humilhante — desde as condições surpreendentemente cruéis em que os carregadores são obrigados a transportar centenas de caixas de seda para os navios ingleses e quando narra a separação dos parentes mais queridos para tentar a sobrevivência incerta dos filhos do proletariado chinês. De outro lado, a baixeza dos gerentes coloniais, capatazes e policiais, o lucro certo dos senhores feudais, da burguesia compradora e do imperialismo.
Em meio às estupendas lições de técnicas teatrais, os artistas do povo fazem chegar ao palco a notícia da revolução bolchevique, Outubro de 1917; a eclosão do movimento 4 de Maio, em 1919; a fundação do Partido Comunista da China, em 1921. Neste mesmo ano, surge o governo de Canton, cujo presidente era o líder revolucionário Dr. Sun Yat-sem. Em seguida, operários e camponeses estabelecem uma inquebrantável aliança e começam a desalojar os latifundiários.
O partido Kuomintang, de Sun Yat-sen, recebe apoio do Partido Comunista da China, em 1923. Chiang Kai-shek, jovem militar que retorna ao seu país após concluir estudos na então Federação das Repúblicas Socialistas Soviéticas, assume o comando da Academia Militar de Wampoa, que se constitui no núcleo do exército revolucionário do Kuomintang, em 1924. Falece o Dr. Sun Yat-sen em 1925 e Chiank Kai-shek assume o controle do Kuomintang, acirrando-se as contradições entre comunistas e nacionalistas no interior do partido burguês.
Tem início à expedição ao Norte com o apoio entusiasta das massas camponesas, em 1926. Neste mesmo ano, Chiang Kai-shek prende inúmeros comunistas. Em 1927, forças dirigidas por Chu En-lai são destroçadas pelo Kuomintang.
Em 12 de abril do mesmo ano, em Pequim, Chiang Kai-shek trai a revolução. O Kuomintang desencadeia uma violenta repressão, utilizando-se de campanhas de cerco e aniquilamento, de imediato abatendo 5 mil pessoas, entre comunistas e aliados. Chu En-lai é libertado por mediação. Entre maio e junho de 1927, novo banho de sangue contra os comunistas. Episódios que incluem a traição da “esquerda” do Kuomintang se arrastam até fins de 1930, com um total de 140 mil revolucionários assassinados.
Cena II
Narrador:
O sangue dos heróis tinge de vermelho todos os rios da pátria. Mas os comunistas jamais se deixam intimidar. Eles se erguem. Sepultam os camaradas e voltam à luta.
Com os combates de Nan-chang há uma reviravolta, como nos primeiros dias da primavera, com o camarada Mao liderando, em pessoa, o Levante da Colheita de Outono.
Acende-se a primeira tocha e se estabelece a primeira base de apoio revolucionária no país. A tempestade da luta armada reverbera longe, além das margens do Yang Tse.
As forças revolucionárias dão as mãos nas montanhas de Ching-kang. O grande Mao ensina aos nossos líderes novas práticas revolucionárias.
Em 1928, colunas comunistas lideradas por Mao Tsetung e Chu Teh se fundem em Chingkanshan dando origem ao Exército Vermelho da China e, após o Congresso nesse ano, surgem as 8 Regras do Exército Vermelho. Naqueles dias, Chu Te se convertia em gênio militar e o Presidente Mao no teórico político máximo da revolução na China.
Progridem nas bases de apoio os planos meticulosos de aprofundamento do poder, da economia e da cultura das amplas massas, enquanto Chiang Kai-shek acumulava fortunas, burocracia e treinava tropas reacionárias nas áreas sob sua governança. Em janeiro de 1930, na província de Fukien, o Presidente Mao é reconhecido o líder máximo da revolução na China. Também, no início desse ano, é estabelecida a organização militar do Exército Vermelho, com efetivos divididos em quatro corpos, somando 30 mil homens.
O comitê central executivo do Partido Comunista da China é reorganizado com um conselho militar revolucionário. Antes de terminar o ano, Chu Teh organiza pequenas unidades e golpeia 100 mil soldados de Chiang Kai-chek agrupados e oito divisões que se dirigiam contra as bases de apoio de Hunam e Oyuwan. Chu Teh faz 10 mil prisioneiros.
Acontecem a segunda e terceiras campanhas de cerco e aniquilamento, todavia com a vitória do exército operário e camponês. Na terceira campanha, Chiang Kai-shek havia reduzido as forças de Chu-Teh de 30 mil para 20 mil homens, ao mesmo tempo em que possibilitou aos japoneses invadirem Mukden em setembro de 1931. O Presidente Mao declarou guerra ao Japão. Cerca de 20 mil soldados nacionalistas do 28º exército do Kuomintang desertaram e ingressaram no exército operário e camponês de Mao Tsetung. Em abril de 1932, Chiang Kai-sek dispõe de 500 mil homens para tentar, na sua quarta campanha de cerco e aniquilamento, destruir o exército operário e camponês, recuando todavia em janeiro de 1933.
Uma quinta campanha é desfechada pelo Kuomintang, com assessoramento técnico do general alemão von Seeckt. A campanha se alongou até 1934, tendo Chiang Kai-shek abandonado toda a resistência ao Japão que se apoderou da Manchúria.
Cena III
Narrador:
Cruzando milhares de montanhas e rios a revolução prossegue vitoriosa.
As bases vermelhas se multiplicam.
Oportunistas, mantenham distância da revolução!
Porém, uma vez mais corre perigo a nossa causa. Neste momento crucial, há uma conferência em Tsunyi. Dispersa-se uma neblina pesada.
Mao Tsetung, nosso grande timoneiro, coloca o barco no rumo certo. Desvia-se das corredeiras turbulentas e nos leva na direção da vitória. A Longa Marcha é um manifesto que proclamou para o mundo que o Exército Vermelho (de operários e camponeses) é um exército de heróis. A Longa Marcha é uma força de propaganda que anuncia para o povo que o Exército Vermelho é o único caminho para a vitória. A Longa Marcha também é uma máquina que espalha sementes de revolução para que brotem, floresçam e frutifiquem.
O fraco se torna forte
O Exército Vermelho preparou sua marcha de combates para as montanhas de Shensi, a mais de 10 mil quilômetros de distância, percorrendo uma média de 40 quilômetros por dia.
O I, II e III exércitos dos camponeses se juntaram ao Exército Vermelho e vitoriosamente completaram a Longa Marcha de 25 mil lis*. Desde meados de 1934, esse exército venceu 18 cadeias de altas montanhas, cinco delas cobertas de neve; atravessou 24 grandes rios profundos e tormentosos; doze províncias localizadas em regiões inóspitas, nas quais ocupou temporariamente 62 cidades, chegando a Shensi do Norte em outubro de 1935, onde estabeleceu suas imbatíveis bases de apoio do grande noroeste.
Cena IV
Narrador:
O povo chinês se concentra na guerra contra a opressão japonesa.
O Partido Comunista da China expede uma convocação para o fim de todos os confrontos internos e a união contra os japoneses. Os reacionários de Chiang Kai-shek, contrariando todos os interesses do povo, caem de joelhos diante dos japoneses, entregando-lhes muitas regiões de nossa terra sagrada. Milhões de pessoas perdem entes queridos, outras milhões são forçadas a abandonar seus lares.
Conduzido pelo Partido, o povo organiza o movimento patriótico de 9 de Dezembro [de 1931] para resistir à agressão e salvar o país. O ponto de concentração da resistência é a margem do Rio Amarelo.
Os japoneses começam a ser derrotados, mas os reacionários do Kuomintang ainda bloqueiam as áreas libertadas e procuram vencer os chineses pela fome e o cansaço. Não há força no mundo, porém, capaz de deter o povo revolucionário. O Exército e o povo se engajam em um grande esforço de produção.
A guerra anti-japonesa
Outubro de 1931 a 1945. Com aproximadamente 35 mil combatentes, o Exército Vermelho defendeu a região compreendida pelas províncias de Kansu, Suiyuan e Shensi. Ao sul de Shensi, 15 mil soldados de Chiang lançavam ataques isolados contra o exército do povo chinês. Por detrás das linhas de Chiang, entretanto, forças japonesas atacaram o Kuomintang. Habilmente, o Exército Vermelho cessou suas hostilidades às desgastadas forças do Kuomintang. Reuniu quadros civis e militares, desenvolveu suas indústrias e agricultura, criou uma escola militar.
Ocupada desde 1931 pelos japoneses, a Manchúria assiste aos reforços imperialistas que chegam ao seu território constantemente até o mês de março de 1932, quando — por “mediação” britânica — os japoneses se retiram. O exército revolucionário se expande constantemente, nesse meio tempo. Já ao final de 1936, 100 mil combatentes revolucionários ocupam o norte de Shensi.
Em janeiro de 1937, Yenan foi declarada capital da República Popular da China.
Nankin era a sede do governo do Kuomintang.
Após incidentes — criados pelos japoneses para justificar uma série de massacres por eles próprios perpetrados —, a 30 de julho de 1937 o exército imperial japonês ocupa Pekin e, a 13 de dezembro do mesmo ano, Nankin. No mesmo ano, em Shensi, as tropas japonesas são derrotadas em setembro e outubro. Em seguida, elas desencadeiam uma grande ofensiva em todas as frentes. Em 1939, os efetivos sob o mando do Presidente Mao ocupavam largos territórios e neles estabeleciam o poder operário e camponês.
Chiang Kai-shek pretendia que o Exército Vermelho se desgastasse no enfrentamento com o exército japonês, para aliar-se a eles e destruir o exército de operários e camponeses. Mas essas forças revolucionárias obrigaram que justamente o Kuomintang desempenhasse o desgastado papel. O Exército Vermelho se fortalecia para enfrentar ambos os inimigos.
Em 1930, o Exército Vermelho de operários e camponeses contava com meio milhão de homens guiados por uma invencível linha política. Além do mais, bem armados e treinados. A ofensiva contra o invasor foi lançada, de forma intermitente e segura, levando perdas ao exército japonês fascista que somaram 50 mil homens, entre japoneses e chineses obrigados a lutar a seu lado. Ao desastre imperialista, acrescentavam-se perdas de inúmeros pontos fortificados, quilômetros de vias férreas e o domínio político de imensas regiões. Entre 1939 e 40, o Presidente Mao Tsetung torna-se o líder incontestável dos comunistas e do povo chinês.
Em 1941, a Segunda Guerra mundial se generaliza. Nesse ano, o USA lança uma série de provocações contra os japoneses, obrigando-os a atacarem a base ianque Pearl Harbor, no Pacífico. De 1942, 43 e 44, os comunistas ampliam seu raio de ação, gradualmente desenvolvem a produção, o abastecimento de armas e munições. Preocupados com as ilhas no Pacífico, os japoneses dão prioridade à defensiva na China, enquanto a saqueiam pondo em prática as consignas de “roubar tudo, queimar tudo, matar a todos”.
O Poder operário e camponês avança. Cresce o Partido e as regiões libertadas. São ampliadas as escolas de quadros políticos e militares. Em 1944, somente no noroeste da China o Poder que abarcava Shansi-Cahar-Hopei incluía 20 milhões de habitantes.
Cena V
Narrador:
O sepultamento da dinastia Chiang.
Diante da resistência, Chiang Kai-shek se esconde nas montanhas. Mas logo os chineses chegam à vitória. Esse traidor, apoiado pelo imperialismo do USA, desencadeia uma guerra civil. E no interior das áreas do Kuomintang o povo se levanta contra a guerra civil e a perseguição.
Os portões de ferro das prisões não são capazes de conter o ímpeto da resistência. A água dos depósitos da polícia não basta para apagar as chamas dos corações do povo.
Contando com milhares de soldados, armas e aviões fornecidos pelos imperialistas do USA, Chiang Kai-shek imagina vencer. Trava-se, entretanto, uma grande batalha decisiva entre dois destinos e dois futuros.
O Presidente Mao Tsetung lança a grande convocação: Fora Chiang! Agora, libertaremos toda a China!
Período da guerra civil
Era 1945. Concluída a Segunda Guerra Mundial, os efetivos do Kuo-mintang somavam 280 brigadas. Um total de 2,5 milhões de soldados, contando ainda com uma pequena marinha e quinhentos aviões. Os comunistas chegavam a 300 mil soldados, apoiados por 700 mil guerrilheiros. Toda a administração pública de Chiang estava minada pelas forças do povo. Os revolucionários aguardavam apenas a ordem de ataque.
Em 30de junho de 1946, a guerra civil estava cristalizada. Entre julho e agosto, as forças comunistas pareciam recuar, mas na realidade se fortaleciam entre as massas, criando a possibilidade de todo o povo envolver-se na guerra. Em termos de efetivos militares, o Kuomintang parecia estar em maioria, uma vez que dispunha de 2.6 milhões de soldados, enquanto o Exército Vermelho de apenas 1,1 milhão…
Cena VI
Narrador:
O povo chinês se ergue.
Lembram-se do entardecer sombrio, quando troavam os canhões e sonhávamos com o dia da vitória?
Pois esse dia chegou. Lágrimas de felicidade rolam dos olhos do povo. Todos estão felizes. Todos atendem ao chamamento do Presidente Mao. Nasce a República Popular da China.
O povo chinês se levantou!
10 de maio de 1947. O exército operário e camponês lança uma estupenda ofensiva por toda a China. Em dezembro do mesmo ano dá-se a mais encarniçada luta de toda a guerra civil, entre os rios Amarelo e o Yang-tsé. Atacando por detrás das linhas inimigas, estabelecendo golpes que dividiam as forças do Kuomitang, em fatias menores e frágeis diante de um contingente vermelho esmagador as forças de Chiang perdem mais e mais abastecimentos e homens.
Em setembro de 1948, um notável dirigente militar que havia iniciado suas façanhas aos 16 anos como ajudante de ordens de Chu Teh dispõe de 600 mil soldados. Com esse contingente Lin Piao se apodera das guarnições e pontos fortificados de Chiang, entre Mukden e Chinchow. Em novembro, as posições de Chiang são esmagadas por sucessivos, simultâneos e intermináveis ataques que avançam em direção ao sul da China.
Quando chega janeiro, o Presidente Mao oferece a paz, que os reacionários do Kuomintang rejeitaram. Mantendo a demanda de paz, o Exército Vermelho, todavia, segue exercendo o domínio da situação e atacando. De nada vale o apoio do imperialismo ianque a Chiang.
Nankim, a capital do Kuomintang, cai a 13 de abril de 1949, Hankow a 3 de maio e Shaoshing no dia 7. Finalmente, em 4 de dezembro, na fronteira da Indochina, 25 mil soldados do Kuomintang se entregam, enquanto Chiang traidor já havia se refugiado desde o dia 23 de abril na ilha de Formosa sob a proteção do imperialismo ianque.
Em 1º de Outubro, o Presidente Mao Tsetung proclama a República Popular da China, na sua capital Pequim.
Sob o novo Poder
O proletariado revolucionário da China forneceu enormes contribuições à Primeira Onda Revolucionária Proletária no mundo (1848-1976), nos dias que a narrativa de O Leste é Vermelho coube alcançar, sendo o pensamento do Presidente Mao foi o protagonista principal — desde a fundação do Partido Comunista da China, em 1921; da criação do Exército Vermelho; do Levante da Colheita de Outono, em 1927; da libertação da China à fundação da República Popular.
De fato, o Presidente Mao estabeleceu a estratégia do cerco da cidade pelo campo; fundou e dirigiu a República Popular e o estilo de democracia nova. Ultrapassando o período enfocado pela ópera, a história da revolução proletária mundial, no curso das lutas na China não só elevou a questão das rebeliões armadas ao nível da teoria militar do proletariado como impulsionou, desde as bases de apoio, uma nova economia, uma nova política e nova cultura.
À frente do Grande Salto Adiante esteve o Presidente Mao; guia da luta contra o revisionismo moderno e contra toda sorte de doutrinas de restauração capitalista; chefe e mando da Grande Revolução Cultural Proletária; estabeleceu a contradição como a lei fundamental da dialética; desenvolveu a tese do capitalismo burocrático — o capitalismo que se desenvolve nas nações oprimidas pelo imperialismo com seus diversos graus de feudalidade.
Ele aprofundou a teoria marxista-leninista do Estado (desde os três instrumentos: o Partido, o Exército e a Frente Única), como a da luta de classes sob o socialismo. No plano da Revolução mundial, ainda que sob os mais cruéis refluxos, ele esclareceu a questão dos três mundos que se delineiam e da vitória inexorável dos povos sob a hegemonia do proletariado.
Seus aportes jamais foram um conjunto de fraseologias — deliberadas e artificialmente arquitetadas — para atender ao poder de uma elite, ou de um só homem e a servir a uns tantos seguidores que surgem e se vão com o passar dos tempos.
Ao contrário, ele tomou a prática social de milhões e milhões de revolucionários proletários de todo o mundo (das revoluções antecedentes e a parte que lhe coube dirigir) como critério da verdade na busca e na construção de uma nova sociedade livre da exploração das massas e da existência de classes.
Conta O Leste… em sentido oposto às lorotas criadas para desacreditar o socialismo, o desenvolvimento da teoria científica do proletariado custou a vida de milhões entre os povos. Dos que caíram em combate e dos que sobreviveram às mais terríveis contra-revoluções, dos que vieram e os que virão depois. Dessa forma, essa teoria se converteu em uma poderosa força material das massas para seguir transformando o mundo.
E continuará sendo assim até que sob a face da terra esteja varrida definitivamente a exploração do homem pelo homem.
* Li – Unidade de medida chinesa de distância, equivalente a 576 metros. Filmada alguns meses depois de seu lançamento, hoje a peça é encontrada no programa de compartilhamento de arquivos Emule, baixados os que estiverem sob o número 1964, sob o título em inglês The east is