O poder de fato

O poder de fato

Fórum Nacional e Plano Diretor do Mercado de Capitais determinaram as principais políticas das administrações Cardoso e Luiz Inácio. Um Estado acima do Estado. Os homens e as empresas por trás das entidades que dirigem o país. Como o capital transnacional e associado se organiza e conserva seu poder.

Quem governa o Brasil? Temos um presidente nominal, Luiz Inácio Lula da Silva, eleito nos termos da Constituição. Ele foi antecedido por Fernando Henrique Cardoso, também guindado ao cargo por meio de eleições. Temos, igualmente, governadores e congressistas eleitos.

Desde 1994, porém, o Brasil é administrado de fato por uma junta de tecnoempresários de confiança dos monopólios transnacionais e de seus sócios internos: o Fórum Nacional, ao qual veio juntar-se, a partir de 2002, o Plano Diretor do Mercado de Capitais (PDMC).

O Fórum e o PDMC não são sociedades secretas. Se fossem, não disponibilizariam em livros ou na Internet o teor de seus seminários e reuniões. Constituem, no entanto, o mais poderoso círculo de poder existente no Brasil desde o dueto IPES-IBAD. Elaboram leis e impõem sua aprovação ao Congresso. Influenciam — para dizer pouco — o Judiciário e a imprensa. Nomeiam e destituem ministros. Formulam e prescrevem quase todas as políticas relevantes do poder Executivo.

Atuando dentro do Estado, operam para que o sistema de governo (que inclui sua oposição consentida) tome medidas que atendam, em última instância, ao conteúdo dos interesses imediatos ou estratégicos das classes dominantes. Os grupos que se sucedem na chefia do Executivo federal são meros executores de suas ordens.

Isto não é um exercício de retórica; é uma afirmação alicerçada nos fatos descritos a seguir, a partir dos quais o leitor poderá julgá-la.

Também não é uma leitura conspiratória do mundo: sendo canais de ação política dos setores econômicos e sociais que representam, o Fórum e o PDMC são consequência, e não causa, do poder que eles detêm. Servem para mantê-lo — e, para isso, recorrem permanentemente à conspiração. Mas não é nela — aliás, um ingrediente essencial da política —, que situa-se a origem desse poder.

Tampouco é uma reflexão teórica sobre a dominação de classe; trata-se é de mostrar como ela ocorre, na prática, em nosso país e em nossos dias. Se o Estado serve sempre, em última instância, aos interesses das classes dominantes, as formas e a intensidade da dominação — excetuando quadros terminais de crise — dependem de muitos fatores, inclusive do uso dos elementos de mediação situados ao nível da superestrutura. A investigação desses arranjos constitui o campo de interesse e atuação por excelência do jornalismo.

O que AND oferece a seus leitores é uma reportagem. Com nomes, conexões, métodos e objetivos de quem governa o Brasil sem um único voto do povo.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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