O povo brasileiro não “gosta” de livros?

O povo brasileiro não “gosta” de livros?

As “autoridades”, as televisões, rádios e o resto do monopólio da imprensa não cansam de propagar que “o brasileiro não gosta de ler”, insinuando com isso que boa parte dos desastrosos resultados do ensino público no país e a fraca formação educacional das massas é culpa delas mesmas.

Porque, dizem os tais críticos burgueses, as massas desprezam a leitura. E preferem assistir televisão, ouvir música, ir aos estádios de futebol, etc, etc, etc.

Não há inverdade maior e cinismo maior que essa absurda acusação.

O problema da pouca leitura no Brasil, sim existe e é grave. Cerca de 77 milhões de brasileiros, o que corresponde a 45% da população do país, não têm o costume de ler, conforme pesquisa encomendada pelo Instituto Pró-Livro.

Mas tal quadro é consequência e não causa. Os críticos burgueses invertem a coisa de propósito, com a intenção de esconder que o causador desse suposto “desprezo aos livros”, por parte do povo é o capitalismo burocrático apodrecido e decadente, que há séculos submete o país à espoliação, à pilhagem e às trevas da ignorância.

Dizem Renilson Menegassi e Maria de Lima Morais, da Universidade de Maringá (PR), no artigo Leitura crítica: aspectos da formação e do desenvolvimento do leitor:

“Como vivemos num sistema capitalista, que depende da ignorância da população para sobreviver, mecanismos de esquecimento e mascaramento da realidade são requintadamente planejados para que a população não perceba a relevância dos fatos, levando à construção de um esquecimento coletivo.
(…) Um exemplo desses mecanismos é a leitura, que ao longo de muitos anos tem sido colocada em planos inferiores”.

Vale salientar que os 55% que a pesquisa supõe terem hábito de leitura, se é que se pode chamar de hábito o fato de a pessoa ter lido um livro nos últimos três meses, estão submetidos ao mercado editorial que impõe a ignorância através da publicação de variações sobre o mesmo tema, onde a auto-ajuda, ao lado dos títulos religiosos, lideram as impressões de livros não didáticos.

Este mesmo mercado editorial, verdadeiro oligopólio principalmente no setor didático, impõe a renovação anual dos livros didáticos sempre com preços reajustados e tornados inacessíveis à maioria do povo.

Também devemos atribuir ao famigerado mercado o subsídio dado pelo Estado às revistas destinadas ao achatamento cultural das massas. Revistas pornográficas, incluídas as relativas a novelas, e à famosa cultura inútil, aí incluídos o futebol, automobilismo, “paradas de sucesso”, “famosos”, culinárias, etc.

Assim, podemos afirmar que dos que tem hábito de leitura, não por culpa sua, a maioria só tem acesso ao lixo cultural e mesmo os que tem acesso a material técnico-científico, por deficiência do ensino decadente imposto ao povo, não conseguem entender o que leram e, consequentemente, não conseguem aplicar os conhecimentos contidos nos livros.

Um crime cultural

A História do Brasil mostra claramente o crime cultural que o sistema cometeu (e segue cometendo) contra as massas.

A máquina de tipografia só chegou ao país com três séculos de atraso, pois antes a corte real portuguesa proibia que se publicasse livros aqui, principalmente para evitar que os colonos não-nobres e escravos se instruíssem e aumentassem suas rebeliões. Com apenas duas máquinas (uma no Rio e outra na Bahia), mesmo assim a impressão de livros ainda era censurada.

E mais: até 1930 não houve bibliotecas públicas no Brasil (pelo menos que merecessem tal nome) e portanto inexistia acesso a livros para o povo. Antes disso, sua quantidade era mínima, concentrada em pouquíssimas cidades e quase todas destinadas aos filhos das classes dominantes. Também o ensino público, como estrutura montada pelo governo e aberta aos pobres, só foi iniciado a partir de 1930.

Ou seja, a enorme maioria da população brasileira só começou a conhecer livro e leitura há irrisórios 80 anos. Enquanto em outros países tal prática ocorria há séculos.

Se considerar-se que durante a gerência dos militares houve uma campanha de desestímulo à leitura, com repressão e censura, conclui-se que na verdade o contato mais próximo de nossas massas com os livros tem apenas 59 anos!!!

A luta em favor do hábito da leitura e do acesso ao (bom) livro é mais uma que operários, camponeses e seus aliados deverão travar no caminho da destruição do imperialismo e no rumo à uma nova democracia.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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