Da esquerda para a direita: Marcelo Tavares, José Gil, Carla Regina e Gilmar Filipack
O Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Iraque — Curitiba, fundado em 1989, trabalha desde então na divulgação de informações sobre o Iraque, imprimindo jornais, cartazes e folhetos. O Comitê apóia a autodeterminação dos povos, em particular, a heróica resistência iraquiana, que impõe a retirada incondicional de todas as tropas estrangeiras do país.
Ouvir atentamente o Comitê, que reúne inúmeras informações sobre a heróica resistência iraquiana, é algo necessário precisamente no momento em que o oportunismo e sua imprensa de “esquerda” cumprindo ordens do imperialismo, ataca sistematicamente todos movimentos de independência nacional e as lutas de emancipação das classes oprimidas no mundo inteiro. O último exemplo é o linchamento do presidente Saddam.
Nos sítios da internet, precisamente naqueles em que fazem ponto os intelectuais da falsa esquerda, uma enxurrada de comentários corre em defesa do inimigo, auxiliando a reação imperialista. Exemplo: calúnias dirigidas contra a personalidade do presidente Saddam. Sequer o reconhecem como o dirigente máximo do Iraque (legítimo, por sinal, eleito com mais de 90% dos votos, na mesma época em que o bandido Bush acertava sua primeira eleição à base de acordos vergonhosos), e oficialmente feito prisioneiro de tropas invasoras e genocidas. Os oportunistas fazem-se de desentendidos, “esquecendo” o fato de que os invasores lincharam não apenas um patriota de nome Saddam Hussein, mas acima de tudo o presidente legítimo do Iraque, como mais um recurso para tentar — inutilmente — submeter o heróico povo iraquiano.
É grande o número de “progressistas” que preferiu tratar o presidente Saddam como uma fera destituída de poder, que todavia “não deveria ser executada na forca” (o problema é a execução ou a forca?), desconhecendo suas razões, como se os advogados (e ele) não tivessem desmascarado, uma a uma, as acusações que lhe foram dirigidas. Mais do que isso, não tivesse colocado o exército imperialista, o tribunal fantoche e todos os seus lacaios, no Iraque e no mundo inteiro, no mais justo e desprezível lugar da história. Assim se conduzem porque preferem se vender “por um prato de lentilhas” a reconhecer a luta de independência dos povos e o direito à autodeterminação das nações. E a contradição principal no plano internacional que é o imperialismo e as nações por ele oprimidas em todo o mundo.
Nesta oportunidade, apresentamos uma entrevista com Comitê Brasileiro de Solidariedade ao Iraque — Curitiba—, com a participação dos membros: José Gil de Almeida, presidente do Comitê, jornalista e escritor, diretor do Jornal Água Verde, de Curitiba; Marcelo Tavares, estudante, membro do Movimento Democracia Direta, do Paraná e Carla Regina, funcionária pública.
José Gil — O assassinato do presidente Saddam Hussein foi um ato covarde e estarrecedor. O imperialismo norte-americano, o governo George W. Bush é o responsável direto por mais um crime contra toda a humanidade. Os norte-americanos terroristas invadiram o Iraque, diariamente promovem massacres da população civil, e chegaram a ponto de promover o linchamento de um presidente eleito democraticamente pelo povo árabe do Iraque. Este caso demonstra que o imperialismo norte-americano é o que há de mais bárbaro, selvagem e atrasado em nosso planeta. O nosso Comitê enviou uma carta ao presidente Saddam Hussein, 6 horas antes de seu assassinato, para jornais do Egito, Jordânia, Líbano e resistência iraquiana. Nesta carta, nós transmitimos ao presidente Saddam a admiração do povo brasileiro pela sua firmeza e coragem frente aos invasores de seu país, como também elogiamos sua dignidade. Lembramos os períodos de parceria comercial, política e cultural entre Brasil e Iraque. Finalizamos afirmando que o povo iraquiano vencerá, e que o imperialismo norte-americano pagará um preço muito alto pelos crimes que pratica no Iraque ocupado.
Marcelo Tavares — Sim. É um direito inalienável dos povos de lutar pela liberdade. Infelizmente, o mundo vive a ditadura do imperialismo, que monopoliza o conjunto da imprensa mercenária. Todos os dias os meios de comunicação repetem mentiras fabricadas no Pentágono e em Telaviv. O povo do Iraque e da Palestina tem o direito de lutar de todas as formas, com todas as armas, para defender sua terra e sua população.
Carla Regina — Todas as informações que recebemos da resistência iraquiana revelam que Saddam foi um herói até o fim. Seus filhos tombaram no campo de batalha lutando contra o inimigo invasor. Saddam também morreu lutando. Em nenhum momento ele se curvou ao imperialismo. A família de Saddam Hussein prestou uma grande contribuição à história da humanidade no sentido de mostrar firmeza, valentia e coragem.
José Gil — Nós temos informações da resistência iraquiana demonstrando que Saddam foi capturado em uma chácara após travar combate de mais de 2 horas com as forças invasoras norte-americanas. Somente quando sua munição esgotou foi capturado. Todo aquele teatro da prisão de Saddam em um buraco é uma prática do governo norte-americano ao longo da história. A mentira é a Bíblia da administração Bush. Khomeini tinha razão quando dizia que “o demônio governa os Estados Unidos”.
Marcelo Tavares — Não sabemos de nenhum governo que tenha assumido publicamente a defesa da verdade neste caso, e na maioria dos casos que envolvem o imperialismo. Nenhum governo se manifestou para não dar pretexto ao imperialismo norte-americano. Esses bárbaros assassinos buscam pretextos, buscam motivos para atacar os demais povos e nações para roubar suas riquezas naturais. São ladrões de petróleo simplesmente. Os filhos de Saddam são mártires da luta de libertação do povo iraquiano. A propósito, me parece que o José Gil trocou alguns e-mails com o Uday meses antes que ele tombasse em combate.
José Gil — O Uday visitava regularmente o Ministério de Informação do Iraque e cheguei a trocar algumas mensagens com ele. No início ele se mostrou admirado com a existência de brasileiros solidários com a causa do Iraque, formando Comitê e trabalhando na divulgação da verdade. Nós recebíamos na época muita informação de ex-diplomatas iraquianos, que foram assassinados pela CIA e pelo Mossad nas semanas que se seguiram à ocupação do Iraque. O Uday agradeceu aos brasileiros a solidariedade e o apoio, e escreveu em sua última mensagem que a luta do povo iraquiano seria vitoriosa, não importava o tempo que passasse. A opinião que tenho sobre o Uday é de um jovem patriota, honrado, amante da justiça e da verdade, e que deu seu sangue e sua vida pela libertação de seu país.
Carla Regina — O governo brasileiro silenciou e vai silenciar diante de tantos outros, porque esta é a sua política secular. A diplomacia brasileira sempre atuou em cima do muro. O governo Lula não tem a coragem de um Hugo Chavez para dizer a verdade na cara dos norte-americanos. Com certeza outros iraquianos serão perseguidos, presos, torturados e linchados em seu próprio país, porque esta é a prática do imperialismo.
José Gil — O presidente Saddam Hussein foi linchado exatamente por esses motivos, por desafiar o imperialismo ianque, por defender o povo do Iraque. Todo o processo criminal instaurado contra ele foi uma farsa, e por isso diversos “juizes” foram trocados, e três advogados de defesa foram assassinados no decorrer da grande farsa chamada de julgamento pela imprensa ocidental prostituta. No tempo de prisão, Saddam foi torturado por norte-americanos e por iraquianos traidores, mas ele se portou como um verdadeiro herói, e não se submeteu aos imperialistas. Seu exemplo de resistência e luta é uma bandeira de glória tremulando na história da humanidade, eternamente.
Carla Regina — Uma verdadeira farsa. Um verdadeiro circo montado para enganar pessoas ingênuas, desinformadas pela grande imprensa. O papel ridículo desempenhado pelos “juizes” que lincharam o presidente Saddam é uma vergonha, é mais uma página de miséria e barbárie escrita pelo governo ianque.
Marcelo Tavares — É uma prova concreta de que tudo foi uma farsa sem limites, uma grande palhaçada, um grande circo montado pelo governo Bush para iludir e enganar os povos de todo o mundo. Entretanto, as pessoas que tem raciocínio próprio, que tem opinião própria, sabem que tudo foi uma farsa, e como tal deve ser rechaçada.
Carla Regina — Desde o início esse falso julgamento tinha como objetivo legitimar o assassinato de um presidente democraticamente eleito pelo seu povo. O governo do Iraque é o governo do presidente Saddam Hussein. Os impostores que foram colocados em cargos fantoches pelo imperialismo norte-americano para julgar o presidente Saddam são traidores da pátria, traidores do povo iraquiano, traidores dos povos árabes e de todos os povos do mundo. Quando as autoridades nomeadas pelo imperialismo norte-americano falam em nome do povo do Iraque, temos vontade de vomitar.
José Gil — Os militares norte-americanos são os melhores alunos de Hitler. Eles aprenderam que uma mentira mil vezes repetida pode confundir muita gente. E ao longo da história de massacres, torturas e guerras dos norte-americanos, essa prática se repetiu e se repete diariamente. Essa barbárie praticada pelos norte-americanos ao longo dos séculos, vai levar a um tempo tenebroso para todos eles. Chegará um tempo em que cada norte-americano será caçado como fera em todos os países do mundo, o que será muito ruim porque a maioria do povo norte-americano não concorda e não apóia as atrocidades praticadas pelo seu governo. Infelizmente existe uma indústria bélica muito poderosa nos Estados Unidos, que controla a mídia, os políticos e as lideranças. É o governo da corrupção generalizada, da indústria petrolífera a serviço da indústria bélica. É uma aberração política que trará no futuro muito sofrimento para o povo norte-americano.
Marcelo Tavares — A Organização das Nações Unidas não passa de outra grande farsa montada pelos vencedores da Segunda Guerra, sob o controle dos Estados Unidos da América, para explorar e saquear os outros povos e nações. O novo secretário geral da ONU, o fantoche sul-coreano, é um cachorrinho a serviço do imperialismo. Desta vez a ONU foi desmoralizada em seu mais alto grau, não restando nem cinzas. É um lixo, uma farsa que serve apenas para governantes nomearem parentes e amigos com altos salários. Ao financiar o tribunal iraquiano o governo Bush comprou o veredicto, isto é, o linchamento de um presidente.
Carla Regina — Pelo que nós sabemos até agora, somente Fidel Castro e Hugo Chavez criticaram abertamente a política norte-americana no Iraque ocupado. Para matar, torturar e assassinar, os imperialistas norte-americanos passam por cima de tudo e de todos, passam por cima das leis, passam por cima da honra, da decência, da dignidade. Eles são canalhas criminosos.
José Gil — Que eu saiba, até o momento, apenas Cuba e Venezuela têm dito a verdade, mas os meios de comunicação ocidentais censuram e repetem a ladainha dos criminosos do Pentágono. O Iraque é um país que teve sua soberania violada, foi covardemente atacado. Sua população está sendo massacrada todos os dias e parece que a opinião pública mundial está anestesiada. Surgem diversos movimentos de solidariedade ao Iraque na maioria dos países do mundo, mas nada muito forte e efetivo, como o momento histórico requer. Deveríamos formar um movimento internacional muito forte, promovendo boicote a todos os produtos de origem norte-americana, deixando de abastecer carros em postos da Esso e Shell, que são os grandes aliados no roubo de petróleo iraquiano. Através de uma grande mobilização mundial poderíamos preparar o enfrentamento a essa política terrorista da administração Bush.
Marcelo Tavares — Está em curso hoje no Iraque e na Palestina a mesma política norte-americana de promover divisões internas. Os carrascos de Saddam Hussein falavam o tempo todo em nomes de lideranças shiitas no Iraque, com o único propósito de acirrar a divisão entre sunitas e shiitas, para que a tarefa dos invasores seja mais fácil. Eles querem destruir o Iraque e seu povo, e neste sentido investem na divisão do país, no acirramento das diferenças religiosas. O mesmo acontece na Palestina, onde o governo racista sionista tenta jogar membros do Hamas contra membros do Fatah. São estratégias de guerra, nada mais. O povo do Iraque e o povo da Palestina saberão reconhecer seus verdadeiros inimigos, os invasores, para vencê-los e derrota-los.
Carla Regina — Acredito que a opinião publica mundial está preparando uma grande resposta às catástrofes humanitárias perpetradas pelos norte-americanos em todo o mundo. Podem me chamar de otimista, mas penso que nos próximos meses teremos muitas manifestações em diversos países. Entretanto, existe grande lavagem cerebral na imprensa ocidental. No passado, durante a ditadura militar, havia a imprensa alternativa, mas hoje é muito pequeno o número de jornais como o A Nova Democracia, que publica a verdade dos fatos.
Marcelo Tavares — Nós esperávamos que o governo do PT fosse mais soberano, mais coerente com o seu passado. Entretanto, o partido se dobrou ao peso da governabilidade, aos compromissos internacionais com o imperialismo. A verdade é que o governo do PT não tem autonomia, não tem força nem apoio popular para enfrentar o governo Bush. Não tem força nem mesmo para lançar uma nota diplomática digna e honrada. Fizeram o jogo da maioria dos países do mundo, de buscar desculpas, tergiversar, tentar esconder o óbvio. Houvesse soberania nacional, houvesse liberdade de imprensa, houvesse justiça, os povos sairiam às ruas para protestar contra mais este crime hediondo praticado pelo governo norte-americano no Iraque.
Carla Regina — A chamada grande imprensa é uma prostituta a serviço do imperialismo norte-americano. Isso diz tudo. Os grandes meios de comunicação estão a serviço da mentira, da intriga, da sujeira televisiva. Felizmente eu não estudei jornalismo, porque teria muita vergonha dos meus companheiros de profissão, com raras e honrosas exceções. Os grandes jornais, e até os pequenos, os canais de televisão e rádios, mentem 24 horas por dia, todos os dias do ano, como se a mentira fosse uma religião ou algo parecido. A “mídia” ocidental é um lixo. A oriental é submissa aos governos de plantão. E com isso, o mundo se mantém desinformado, enganado, e as pessoas ficam com a sensação de que vivem em outro planeta. A verdade é que o imperialismo norte-americano é terrorista, deveria ser preso e julgado pelos crimes que praticam hoje e que praticaram nas últimas décadas. Mas isso não acontece, e o que é mais lamentável, a grande imprensa condena a vítima e elogia o criminoso.
José Gil — Todas as correntes, facções, exércitos e movimentos que integram a resistência iraquiana merecem o nosso apoio e solidariedade. Todos eles lutam pela libertação do Iraque ocupado, e ao permanecer firmes e destemidos nesta luta, estão lutando também pela libertação da Palestina e do Afeganistão. Independentemente de opção religiosa, de ser xhiita ou sunita, o fundamental é concentrar esforços na luta contra as tropas estrangeiras que estão no Iraque. Assim que essas tropas forem rechaçadas, vencidas, caberá ao povo iraquiano, de forma soberana, com o país libertado, decidir o seu futuro. Não cabe aos norte-americanos e ingleses dizer e impor o que é melhor para o Iraque. Somente o povo iraquiano sabe o que é melhor para o Iraque. As forças democráticas de todo o mundo precisam se unir em uma grande corrente de solidariedade ao povo iraquiano, ao povo palestino, ao povo afegão. É uma grande covardia o que os imperialistas estão fazendo nestes países. É a barbárie sem limites. É o terrorismo de Estado praticado em sua mais recente face. Os verdadeiros terroristas do mundo são os militares norte-americanos, a administração Bush, o governo britânico, o governo sionista de Israel. Estes sãos os verdadeiros terroristas da humanidade, jamais os povos e movimentos que lutam por libertação, que são heróis, são honrados e dignos.