O que está por trás da festa em torno do G20?

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O que está por trás da festa em torno do G20?

No dia 15 de novembro do ano passado a capital do USA serviu de palco para uma baita encenação, cujas consequências práticas, porém, repercutirão negativamente para os trabalhadores de todo o mundo ao longo deste ano de 2009, ou até onde chegar e quando terminar a crise capitalista ora em curso. Há poucos meses os comunicados oficiais reproduzidos pelas emissoras e jornais da burguesia saudavam a "reunião dos líderes das 20 maiores economias do mundo", a cúpula sobre os mercados financeiros e a economia global, ou simplesmente a "cúpula de Washington".

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Lula brinda com o facínora Bush na reunião do cartel internacional

Não foi a primeira reunião do G20. Há nove anos esta turma vem se encontrando regularmente em vários lugares do planeta para acertar os ponteiros. Começou em 2000, no Canadá e a edição deste ano do convescote já está marcada para a capital britânica, Londres.

Mas a desinformação massificada à qual os povos do mundo estão submetidos deu conta de que a última edição da reunião do G20, realizada em meio à crise econômica, na verdade significou o enterro do antigo G7, que era chegada a hora de alargar a esfera das tomadas de decisões para além de um pequeno clube de manda-chuvas, e que países que cresceram e apareceram também deveriam ditar os rumos do Fundo Monetário Internacional, da Organização Mundial do Comércio e do Banco Mundial.

Assim, com o monopólio dos meios de comunicação celebrando a chegada do que se diz ser uma nova ordem, encontraram-se a alemã Angela Merkel e a argentina Cristina Kirchner, Bush e Luiz Inácio, o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, e primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh. Neste último caso, a Grã-Bretanha e a Índia, ex-metrópole e ex-colônia, enfim se sentavam à mesa como iguais? Nem tanto.

A única verdade desta história é que, com a crise na qual o capitalismo se meteu, o papel dos países do G20 — os que restam ao se subtrair os do velho G7 — realmente mudou. Quanto à natureza desta mudança é que abundam as mentiras contadas tanto pelos poderosos do mundo quanto por aqueles que, apesar da lenga-lenga, continuam não passando de gerentes semicoloniais.

A verdade, a completa, é que as empresas que vêm enfrentando dificuldades no cenário de recessão que se instalou no USA e na União Européia precisam aumentar as vendas dos seus produtos em outros cantos, montar suas fábricas em outros lugares, compensar os lucros comprometidos por causa da retração do crédito e do consumo na economia ianque e na zona do euro. Em outras palavras, precisam de portos seguros para chegarem atropelando com seus salários de fome e com sua sanha monopolista; plácidas terras aplainadas para servirem de pontos de remessas de lucros aos países imperialistas.

Este trabalho de deixar o terreno sempre limpinho para o capital fazer a festa há séculos é feito com esmero pelas frações da burguesia burocrática locais, que estão sempre de olho nas migalhas que os poderosos do mundo deixam cair. Uma ironia da história: com a crise, a expressão "países em desenvolvimento" assume o seu real significado, que é o de nações inteiras arrendadas por suas classes dominantes ao capital financeiro internacional, terras nas quais as empresas multinacionais encontram as condições ideais para se desenvolverem plenamente.

Nosso suor não salvará a pele deles

E para que serviu afinal a cúpula a Washington? Por que homens tão poderosos como Bush e o presidente francês, Nicolas Sarkozy, andam fingindo bajular os chamados "países emergentes", particularmente aqueles reunidos na sigla BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China)? Por que a última reunião do G20 foi considerada um sucesso, ainda que dali não tenha saído nenhuma grande mudança no sistema financeiro internacional, como chegaram a acreditar meia dúzia de esquerdistas iludidos com a falsa promessa de que a divisão internacional do trabalho enfim daria lugar à divisão internacional do poder?

A resposta é que se armou todo um teatro para encobrir o fato de que os mandatários do USA e da União Européia já avisaram aos seus prepostos nos "países em desenvolvimento" que a partir de agora irão apertar o laço. Com medo do povo de cada um dos países que serão lesados, agora tentam disfarçar tanto o desmando quanto a conivência.

Mas por que escolher o G20 como atalho para contornar a crise, levando a cabo um acirramento das políticas de exploração dos trabalhadores pobres das nações alugadas para o desenvolvimento das empresas e enriquecimento dos seus acionistas estrangeiros?

O documento Acordo de Crescimento Segurado do G20, aprovado em 2004, é ao mesmo tempo a linha-guia e o instrumento jurídico — mais um — através do qual os países-membro da entidade se comprometem a seguir algumas diretrizes à risca. Ora, estas diretrizes juridicamente amarradas perante o direito internacional garantem exatamente a promoção do entreguismo e a atuação impune do imperialismo ianque e europeu nos países dos quais agora se diz que estão medindo forças com os poderosos de sempre.

O consenso do G20 é o consenso de Washington: eliminação progressiva de restrições ao capital internacional, desregulamentação, cassação dos direitos e garantias dos trabalhadores, privatização do patrimônio do povo e rapina da propriedade intelectual. Tudo isto está lá, previsto em ambos, ainda que repleto de eufemismos e linguagem oficialesca que visa apenas a empulhação. O que se quer agora é levar tudo isto ao limite nos próximos anos, em uma tentativa de usar e abusar de países da América Latina, Ásia e África para salvar alguns setores-chave do capitalismo global, como o farmacêutico, o automotivo e o de telecomunicações.

Que o povo não se engane: países como Brasil, Índia, Argentina, México e África do Sul continuam sem apitar coisa alguma quando estão frente a frente com o USA e a União Européia. Pelo contrário: as classes dominantes continuam é obedecendo aos apitos deles, para prejuízo das classes populares. A crise está aí, mas o mundo ainda não mudou. E nem mudará por obra e graça de cúpulas e conchavos entre os gerentes dos Estados burgueses, mas sim pela vontade e pela força das massas trabalhadoras.

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