O que nos deixou 2009: agressão imperialista, eleições e atritos entre países latino-americanos

O que nos deixou 2009: agressão imperialista, eleições e atritos entre países latino-americanos

Uma rápida retrospectiva do que nos deixou 2009 mostra a rapacidade do capitalismo, especialmente as práticas do imperialismo ianque. Não é em vão o que diz os clássicos marxistas que para o capitalismo sobreviver promove uma série de crises econômicas.

A crise de sobre a acumulação mundial de capital recente, como as anteriores, além de diminuir o fluxo de mercadorias, entre elas a força de trabalho — batalhões de operários e semiproletários nas ruas, sofrendo a fome e a miséria — obriga as potências imperialistas a guardar temporariamente o discurso de "mercado livre", "livre concorrência" e o velho conto demodê da "mão invisível". Ao invés da sedução e farsa dos discursos que compõem a exploração capitalista, optam por projetar seus tanques, aviões de guerra, fuzis sobre a face da terra e enfileirá-los em guerras de agressão imperialista contra as nações oprimidas.

Neste contexto de crise, este ano alguns dos governantes latino-americanos têm escolhido aproveitar ao máximo a situação crítica do imperialismo ianque para escamotear ou regatear melhores posições na partilha capitalista, mas sem nunca tentar pô-lo em perigo ou em questão, pois sendo parte da engrenagem do capitalismo burocrático, sua existência está ligada ao imperialismo. Por esta razão, os discursos inflamados, aparentemente antiimperialistas, têm aumentado sua frequência insistentemente em nossa região, acompanhados de forte aparato político-ideológico para que os supostos "governos revolucionários ou populares" se enrosquem em suas poltronas presidenciais e continuem a fazer uso discricionário dos recursos do povo.

Na luta pela repartilha criminosa do butim capitalista entre o imperialismo e seus operadores locais na região, sejam eles chamados de presidentes, deputados, senadores, etc — surgem operadores do momento "mais leais" ao imperialismo ianque (Peru, Colômbia) que ingressaram em conflitos geopolíticos com os "mais rebeldes" (Venezuela, Equador e Bolívia).

Trataremos destes três eixos, de modo a refletir sobre a dinâmica política, ideológica e econômica da América Latina e a forma como se desenvolveu o imperialismo ianque na região durante o ano de 2009.

A estréia da "Doutrina Obama"

O look pós-moderno de Obama, seu logotipo "etno-imperialista", caiu antes dos 100 dias de seu governo. A militarista "Doutrina Obama" pôde ser vista rapidamente quando se recusou a retirar suas tropas do Iraque e do Afeganistão, também por não ter fechado o campo de concentração de Guantánamo, como sugeriu em sua campanha eleitoral. Ao contrário, todo o trabalho imperialista sob a "Doutrina Obama" tem sido para reforçar a sua posição de "cão de guarda global" ou "super gendarme mundial".

A decisão de Obama — tomada na Academia Militar de West Point — de aumentar as tropas no Afeganistão, mostra o plano de agressão imperialista que o USA já está executando. É evidente a presença ianque em determinadas áreas geopoliticamente estratégicas da Ásia e, em particular, no Oriente Médio. Porém, ao contrário do que alguns analistas internacionais afirmam, também mantém um forte interesse em sustentar sua hegemonia na América Latina.

A reativação da IV Frota da Marinha ianque nos mares da América Latina é uma prova clara disso, porque navega como se fosse seu quintal, com o apoio incondicional do governo peruano de García Pérez, que tem dado um lugar de descanso e abastecimento da Marinha do USA nos portos de Salaverry e Callao.

Por outro lado, seria ingênuo pensar em neutralidade ianque no golpe de Estado de Honduras. Embora cinicamente tenha feito parte da mesa de diálogo entre o presidente golpista Micheletti e o expulso Manuel Zelaya, além de uma série de comunicados emitidos reprovando o golpe. Finalmente, foram os primeiros a reconhecer o resultado das eleições que deram a vitória a Lobo em novembro de 2009.

Além disso, numa demonstração contínua de atividades em nosso território também levantou a chamada Iniciativa Mérida, que supostamente só servirá para reprimir o tráfico de drogas e a criminalidade no México e outros países da América Central, utilizando a doutrina da "segurança pública" como um pretexto para aprofundar os planos de intervenção na região.

Enquanto isso, de maneira mais flagrante, o Plano Novos Horizontes consiste na instalação de uma base militar ianque no Vale do Rio Apurímac e Ene, no sul do Peru, que é outra pérola da agressão imperialista, e como a cereja do bolo está a instalação de tropas ianques em 7 ampliadas e reforçadas bases militares em território colombiano — já vista e sacramentada por seu incondicional colaborador Álvaro Uribe — com a vantagem de proporcionar a imunidade judicial aos militares do USA. Isso tem sido o gatilho para as posições conflitantes entre os gerentes da Colômbia e Venezuela, que pode terminar em uma guerra.

Eleições e Reeleições

As gerências latino-americanas dos últimos tempos, sentindo-se distantes da onda de regimes militares dos anos 70, que se projetaram até meados dos anos 80, agora concebem reeleições, muitas vezes, indefinidas — lembre-se que um dos motivos para proibir a reeleição presidencial na América Latina esteve sustentado em nocivos gerenciamentos militares já mencionados, que levou a um militar da América Latina bater o recorde mundial na cadeira presidencial, como é o caso do general Stroessner, no Paraguai.

Confiantes na aparentemente frágil memória do povo, agora os auto-proclamados presidentes da "esquerda" — desde as variantes do lado da social-democracia como o gerente Luiz Inácio, Tabaré Vásquez do Uruguai e Cristina Fernández de Kirchner da Argentina, até os membros do chamado “socialismo do século XXI", como Hugo Chávez da Venezuela, Evo Morales da Bolívia, Rafael Correa do Equador e Daniel Ortega da Nicarágua — , vêm se agarrarando ao poder através de mecanismos irregulares, muitas vezes inconstitucionais, outros graças a invenção de novas constituições a seu gosto e sabor para se perpetuarem no poder. Pelo menos, essa dinâmica tem sido evidente com os membros do "Socialismo do Século XXI", ou bloco da ALBA, pois todos estrearam novas constituições e fizeram mudanças através de atropelos legais. Enquanto os social-democratas, muito mais sofisticados, preferiram a opção legalmente aberta em sua constituição ou em mudanças simultâneas entre cônjuges — caso Kirchner e sua esposa — ou a mudança de pessoa, mas com o mesmo perfil do guerrilheiro arrependido, como é o caso do Uruguai, onde a sucessão presidencial foi de Tabaré Vásquez a José Mujica, ambos ex-Tupamaros .

Precisamente, Manuel Zelaya foi expulso porque acreditou que sua postura populista era o suficiente para aspirar a prorrogação do mandato presidencial. Hoje, chora por seus erros políticos dentro da embaixada do Brasil em Tegucigalpa. Incluindo esta nova onda de "reis" ou "caciques" cuja história não é surpreendente na América Latina também motivou o colaborador mais próximo do imperialismo ianque na América do Sul, Álvaro Uribe, a prorrogar seu mandato presidencial.

Coisa que agora não é possível no Peru, porque além do recente passado tirânico de Fujimori, García Pérez representa uma aliança partidária que acordou em se alternar no governo peruano. Enquanto Lugo, embora sem os mesmos constrangimentos eleitorais, cedo ou tarde, fará reluzir a febre que também tem pelo poder.

Um caso digno de nota é representado por membros do "socialismo do século XXI", pelo menos Chávez, Correa e Morales, que não só foram reeleitos, como tomaram todas as instâncias públicas das suas estruturas de Estado, além do Poder Executivo se apoderaram do Legislativo e do Judiciário. Mantendo forte oposição contra eles em algumas cidades como Maracaibo, Guayaquil e Santa Cruz de la Sierra, respectivamente.

Os integrantes do "socialismo do século XXI" tem mostrado até agora apenas uma tendência a reforçar o seu aparelho burocrático, para crescer seus Estados, inseri-los em atividades econômicas, embora de maneira tímida, se tivermos que comparar com os processos de estatizações da década 50, 60 e 70 do século passado na América Latina. Ao fim e ao cabo, um capitalismo de Estado também é capitalismo. Na verdade, o USA optou por juntar estas fórmulas que dependem das ações do Estado para proteger a sua economia. O Estado ianque subsidiou com cifras milionárias o colapso financeiro de empresas e instituições financeiras do USA.

Enquanto isso, os negócios com o Irã, a Rússia ou a China por si só não expressam nada, trata-se também de fluxos de mercadorias, operações capitalistas que não são praticadas apenas pelos “socialistas do século XXI", uma vez que esse tipo de negócios com esses parceiros são realizados diariamente por uma longa lista de grandes capitalistas ianques e do mundo.

Atritos entre países latino-americanos

Outro dos temas recorrentes deste ano foi a possibilidade cada vez mais latente de que a América Latina ou América do Sul se tornem campos de batalha. Trata-se de uma luta entre Álvaro Uribe e Hugo Chávez, em um esforço para perpetuar seus governos, e impulsionados pelas potências imperialistas, que assim como estes dois gerentes se importam pouco ou nada com o sangue do povo venezuelano e colombiano.

O ano de 2009 acaba, mas não só testemunhou os clássicos discursos bombásticos de Chávez ou de Uribe, como também foi capaz de presenciar que os exércitos da Colômbia e da Venezuela se entrincheiraram em postos de fronteira com material bélico, em meio a acusações mútuas de espionagem e sabotagem às infra-estruturas de comunicação que existem entre os dois países.

O tema subjacente é o dos conflitos geopolíticos das potências imperialistas na região, empresas, recursos naturais, recursos energéticos, mas também de um claro avanço militar ianque na área. Aparentemente, tanto os governos da Colômbia como da Venezuela já escolheram seus bastões de mando e são capazes de chegar ainda mais longe que simples gritos.

Esta situação permanece, enquanto ainda não fecham as feridas da entrada do Exército colombiano em território equatoriano para acabar com a vida do guerrilheiro Raul Reyes, das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC-EP), situação que deixou tensas as relações entre Colômbia e Equador.

Há também uma disputa diplomática entre os governos do Peru e da Bolívia, por alguma interferência nos assuntos internos de cada país, tais como a acusação de que o governo boliviano tem feito acordos secretos com o Chile, nos quais se negociam recursos energéticos com uma possível saída para o mar. Por sua vez, Evo Morales acusou Alan García de genocida pelo massacre de indígenas awajun, que se opunham as concessões transnacionais de mineração dentro de seus territórios localizado no nordeste do Peru.

Esses atritos entre países latino-americanos também ocorrem entre Peru e Chile, desde que foi descoberto um sub-oficial da força aérea peruana que trabalhava com o serviço de contra-inteligência para o Estado chileno. Situação que foi desmentida pela gerência chilena e agora é aceita diante das evidências.

A dinâmica social, política e econômica que se tem na América Latina exige dos povos e do proletariado árduas lutas para neutralizar guerras de alta intensidade, onde só se jogam os interesses do imperialismo e do capitalismo burocrático.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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