No último artigo [publicado em AND nº180] discorremos sobre a escalada fascista em curso no país. Uma das vertentes é comandada pelo podre judiciário, na figura do juiz federal Sérgio Moro e de como, por de trás de sua demagógica campanha de combate à corrupção, a reação galvaniza opinião pública para a crescente criminalização dos protestos e movimentos populares. Ainda que os canhões da Lava Jato tenham sido apontados num primeiro momento principalmente contra o PT e mais recentemente tenha se dirigido contra o PMDB e outras siglas do partido único, interpretar o despotismo da república de Curitiba como algo circunscrito à bancarrota do oportunismo ou de qualquer sigla que seja, é um grave e perigoso erro.
Manifestação da Juventude Combatente em 2014 no Rio de Janeiro
Para uma correta avaliação sobre os fundamentos desta multifacética ofensiva reacionária, é necessário retornar às grandes jornadas de luta de junho/julho de 2013, principal marco político do atual aprofundamento da crise política do capitalismo burocrático em nosso país.
Os principais alvos da fúria popular foram as sedes de governos e casas legislativas (antros de desmandos e corrupção) e os bancos (sanguessugas do povo e da Nação). Mais do que milhões de argumentos, os alvos políticos das manifestações, a amplitude de suas reivindicações, sua combatividade e repúdio às direções burocráticas da falsa “esquerda” demonstraram a gigantesca distância entre a propaganda do gerenciamento oportunista, de um quimérico Brasil-potência (à época repetida exaustivamente pela Globo) e a realidade de miséria e opressão enfrentada pelo bravo povo brasileiro.
A atual campanha hipócrita de moralização da política foi gestada justamente para debelar as labaredas deste crescente descrédito popular para com as instituições do velho Estado, após as sucessivas tentativas frustradas da Globo de dirigir e encabrestar os protestos populares de 2013 e durante a farra da Fifa. O que se tornou ainda mais urgente para os escribas da reação após o, até então, maior boicote eleitoral da história, registrado nas eleições presidenciais de 2014. Tal campanha foi a tábua de salvação encontrada pela dominação imperialista e suas classes dominantes lacaias no país, em seus desesperados esforços por dar sobrevida a um sistema de governo extremamente desacreditado.
Mais do que uma operação contra esta ou aquela sigla do Partido Único, a criação artificial de um juiz-herói contra vilões corruptos, no mais grosseiro estilo hollywoodiano, teve seu início impulsionada pelo esboroar de outro mito até então apoiado pela própria Globo: o do primeiro presidente operário, seguido da sua primeira “presidenta” com seu Brasil/BRICS/7ª economia do mundo. Para criar a falsa ideia de transformação de algo que até há pouco estaria só melhorando, era necessário primeiro escolher o inimigo interno a ser combatido: a corrupção encarnada na figura do PT. Segundo, eleger alguém que encabeçasse os esforços de união da nação no combate a tal inimigo. No caso em questão, Sérgio Moro, um juiz federal de primeira instância, até aquele momento completamente desconhecido, à frente dos onipotentes (e onipresentes) Ministério Público e Polícia Federal.
O que muita gente da falsa “esquerda” eleitoreira faz questão de esquecer e muitos desavisados realmente desconhecem ou menosprezam, é que a crescente fascistização do velho Estado não foi inventada por Temer e sua quadrilha, que tomaram de assalto o Palácio da Esplanada, mas sim preparada pela própria cambada de oportunistas que agora posam de vítimas inocentes. Durante os últimos treze anos, sempre que as circunstâncias exigiram, PT/Pecedobê e seus comparsas não relutaram em desencadear a mais feroz repressão contra o povo em luta, para favorecer os interesses da grande burguesia, do latifúndio e do imperialismo.
No campo, onde a contradição é permanentemente mais acirrada, o crescimento dos assassinatos, despejos e todos os crimes do latifúndio e do velho Estado contra camponeses pobres e comunidades remanescentes de quilombos estão em total correspondência com o medíocre desenvolvimentismo popular petista, que teve como carro-chefe o agronegócio de sua ex-ministra Kátia Abreu. Da mesma forma, não são outros os motivos do crescimento da repressão aos povos e nações indígenas, que têm no genocídio étnico contra os Guarani Kaiowá o seu mais gritante exemplo. Na cidade, a criação e generalização do modelo das UPP`s; as operações de guerra para garantir a Copa da Fifa; as incontáveis perseguições e prisões políticas de manifestantes e ativistas desde as jornadas de 2013 expressam uma opção de classe muito clara: tudo para os monopólios, bancos, empreiteiras… e chumbo para o povo!
Somente as ações, cada vez mais contundentes, do autêntico movimento revolucionário poderão mostrar o caminho para pôr fim de vez a todo esse putrefato sistema político eleitoreiro, expondo como a falsa polarização dentro do Partido Único serve apenas à perpetuação do genocida velho Estado brasileiro. O Brasil precisa é de uma Grande Revolução Democrática, Agrária e Anti-imperialista! Com o mesmo espírito altivo da juventude combatente das jornadas de junho/julho de 2013, brademos uma vez mais e quantas vezes for preciso: FASCISTAS, NÃO PASSARÃO! ELEIÇÃO, NÃO! REVOLUÇÃO, SIM!