Com 12 anos de existência, a companhia Paidéia de Teatro teve seu aparecimento ligado aos apelos populares, trabalhando com a população da favela Monte Azul, na zona sul da capital paulista. Com espetáculos que buscam elementos que possam dialogar com crianças e jovens, procura fazer teatro para e com eles, por acreditar que neles reside o novo e a possibilidades para o futuro.
– A Paidéia é o resultado de um trabalho que eu e Agláia Pusch fizemos junto às comunidades carentes daqui de São Paulo. Fomos responsáveis pelo desenvolvimento de um teatro na construção de um movimento cultural com finalidade de agir socialmente – conta Amauri Falseti, diretor do grupo, juntamente com Agláia.
– Entendemos que trabalho cultural é um trabalho emancipador, podendo contribuir e muito na formação das pessoas. Temos o teatro como um instrumento para fazermos o trabalho entre crianças e jovens – acrescenta.
– Procuramos utilizar um processo dialético de permanente contato com Jovens e crianças, buscando inspiração e conhecimento, para produzirmos trabalhos que possam de fato atender à população. Todos os nossos espetáculos têm o motivo de atender uma carência ou uma necessidade do momento social e político que nós o montamos – continua.
A partir dessas ideias a Paidéia começou a produzir seus espetáculos.
– Entre outros voltados para criança, fizemos: O Coração de um Boxeador, a história de um menino que cumpre pena social em um asilo e lá conhece um velho. Nessa peça os dois desenvolvem uma bela história e ambos percebem que necessitam de um mundo novo. Também produzimos O Sorriso de Ana, que mostra a possibilidade de um mundo ser transformado – conta Amauri.
– No ano passado, fizemos Com o rei na barriga, um texto que discute a questão da necessidade de relação entre as pessoas – continua.
– Com os jovens, sempre trabalhamos prioritariamente a questão da história do povo brasileiro. Assim, entre outros, montamos com um grupo de jovens o Arena conta Zumbi, e um espetáculo chamado Ópera Samba. Buscamos assim resgatar e fortalecer a cultura popular, com a linguagem do samba – acrescenta.
Segundo Amauri, a Paidéia tem um grupo de estudos e decide coletivamente que peças montar.
Teatro e educação
– Entre os projetos da companhia, um que temos muito carinho é junto a professores de escolas públicas. Está vinculado à “contação” de histórias, mas o ampliamos dentro do fazer teatral. Procuramos trabalhar essa questão da aproximação do teatro com a educação – conta Amauri.
– Conseguimos ter uma relação direta com o professor, conhecer sua realidade, e trabalhar o teatro e educação, separados evidentemente, cada um com a sua característica, com a sua área de atuação. – explica.
A Paidéia tem uma parceria com uma escola pública que, há cerca de quatro anos, envia um grupo com aproximadamente sessenta crianças, para desenvolver jogos teatrais.
– Buscamos o envolvimento da criança não só como receptor de um espetáculo, mas também como elemento atuante, conhecendo como se faz o teatro, quais são suas preocupações e tudo mais que envolve uma montagem. Temos um contato direto com as crianças na realização desses jogos, da leitura de textos, do trabalho de corpo, de dança, de canto, dos elementos que compõe o teatro – conta.
– E a cada final de ano temos o resultado dessas oficinas, muito bem concluído com um espetáculo com essas crianças, que é apresentado para seus colegas, pais e professores. Da mesma forma, fazemos com os jovens – fala Amauri.
– Trabalhamos com aproximadamente cem jovens de toda a periferia da zona sul, mas não excluímos os jovens com melhores condições financeiras que nos procuram. É um grupo propositalmente heterogêneo. Não queremos trabalhar somente os meninos da favela, mas de todos os lugares da nossa região, todo tipo de pessoas – comenta.
– Valorizamos o indivíduo, trabalhando suas habilidades e dificuldades, contribuímos sobremaneira na sua formação, e consequentemente para o coletivo. Para nós, o importante é passar o saber teatral, porque quanto mais conhecimento um jovem tiver, melhor poderá aproveitar, ainda que como espectador – afirma.
– Não temos o compromisso de profissionalizar esses jovens. Inclusive, indicamos uma universidade para que façam o curso de artes cênicas, até para contribuição das suas próprias formações. Mas é evidente que o trabalho realizado aqui os capacita, no sentido do saber fazer, do conteúdo, do entendimento, da leitura, de todas as fases de um processo – acrescenta.
– O que nós procuramos é fazer teatro de qualidade, trazendo reflexões e pensamentos que possam contribuir com o desenvolvimento de crianças e jovens. Felizmente, no Brasil hoje tem mais gente séria pensando assim, até porque não é um teatro menor e nem menos importante, muito pelo contrário – declara.
A sede da Paidéia é em um galpão em Santo Amaro, zona sul de São Paulo, que estava abandonado. Há cinco anos no local, o grupo reformou e construiu o seu espaço.
– Temos uma equipe de treze pessoas envolvidas diretamente no processo criativo, que se amplia na área administrativa para vinte e se soma aos voluntários em geral, e jovens que participam das nossas atividades – comenta.
– A nossa sobrevivência se dá através da Lei do Fomento ao Teatro da Cidade de São Paulo, editais que participamos e algumas colaborações de apoiadores. Não poderia ser da nossa bilheteria, porque trabalhamos somente com ingressos a preços populares – finaliza Amauri.