O trabalho doméstico

Militantes do MFP defendem a coletivização do trabalho doméstico

O trabalho doméstico

Nota da Redação de AND: Publicamos a seguir o terceiro texto que compõe os Documentos Básicos do Movimento Feminino Popular. Retirado de brasilmfp.blogspot.com.

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Militantes do MFP defendem a coletivização do trabalho doméstico
Militantes do MFP defendem a coletivização do trabalho doméstico

A função da família das classes oprimidas no capitalismo é cuidar, alimentar, educar, repor a força de trabalho dos operários, camponeses e trabalhadores em geral de maneira que eles atendam às condições da exploração capitalista e latifundiária. Também deve garantir que a família trabalhadora se reproduza enquanto classe explorada física, intelectual, moral e politicamente.

Trabalho ‘invisível’

Essa batalha cotidiana imposta às mulheres é denominada por nós de “trabalho invisível”. A chamada “dona de casa” é a primeira que levanta, prepara a comida de todos da casa e é a última que come. Limpa, lava na beira do tanque ou do rio, cuida dos filhos, enfrenta os cobradores na porta, socorre-se na vizinha porque as latas estão vazias, corre ao posto médico com o menino febril, ganhando em troca desta rotina as varizes e lombalgias. Quando ao final do dia senta-se pela primeira vez (a maioria delas diante da televisão como fuga da imensidão de problemas), a casa já está toda desarrumada, os meninos já estão sujos, a pia já está cheia de louça e ninguém verá o trabalho feito que recomeçará todos os dias. Quando se pergunta a uma mulher que não trabalha no mercado formal e se esfalfa no trabalho doméstico se ela trabalha, a resposta é não. Ela própria não vê o trabalho que faz, ou não o reconhece como trabalho, levada que é a acreditar que essas tarefas seriam uma sina secular do sexo feminino.

Trabalho não pago

Dessa forma, a exploração dos trabalhadores extrapola a fábrica invadindo seu lar. Para entender este problema é necessário compreender que o salário do operário não é mais que o necessário à sua sobrevivência e reprodução. Quando a mulher cozinha, lava, passa, cuida dos filhos e dos idosos da família e executa uma infinidade de outras tarefas domésticas, ela garante a reprodução da força de trabalho para as classes exploradoras na forma de trabalho gratuito, não pago. Os salários podem ser mantidos em níveis baixíssimos, uma vez que o empregador não precisa desembolsar nem um tostão para garantir seu empregado alimentado e vestido no dia seguinte, deixando seus filhos cuidados em casa. É assim que o capitalista explora o operário de duas formas: na fábrica, com salários miseráveis, e em sua casa, através da exploração do trabalho não pago da mulher.

As relações sociais e de produção no campo são ainda mais arcaicas e retrógradas. O assalariamento é totalmente precário e aparente, o que vigora são as formas semifeudais como as “parcerias” de “meia”, de “terça”, o pequeno arrendo etc. A pequena exploração camponesa é inseparável da economia doméstica e da escravidão da mulher, que é a responsável direta por grande parte da pequena produção, desde a lavoura ao cuidado dos animais, além de todas as tarefas do lar. Esta situação mantém a mulher camponesa mais subjugada que a operária, acorrentada pelas mais humilhantes condições, nas quais impera, pelos costumes seculares, sua inferioridade em relação ao homem, tendo de se submeter e se subordinar a ele por completo na vida familiar, favorecendo enormemente a exploração da classe camponesa pelo latifúndio.

Dupla jornada

No caso da mulher trabalhadora da cidade e do campo, a exploração é dupla, pois o ingresso da maioria esmagadora das mulheres na produção não foi acompanhado de nenhum benefício que as alivie do trabalho doméstico. Além de executarem esse exaustivo e diário trabalho, cumprem jornadas de trabalho fora de casa, recebendo ainda salários inferiores aos homens pelo mesmo trabalho executado. Ao contrário, as mulheres das classes dominantes exploram as mulheres das classes oprimidas como empregadas domésticas, diaristas, cuidadoras de crianças e idosos.


A transformação do trabalho doméstico em indústria social

A experiência da construção socialista na Rússia (depois União Soviética), a partir de 1917 até 1956, é muito rica, assim como na China socialista, de 1949 até 1976, onde assistimos pela primeira vez na história à transformação do trabalho doméstico em indústria social.

O desenvolvimento de uma indústria social que desmistifica o trabalho doméstico e o socializa foi uma das obras imensas da revolução chinesa desde seus primeiros momentos. O funcionamento das oficinas de serviços e outras atividades substituem e tornam coletivo o trabalho doméstico em toda sua amplitude: lavar, passar, arrumar casa, cozinhar, cuidar dos filhos, costurar, consertar roupas e toda uma infinidade de afazeres antes colocados exclusivamente sobre os ombros da mulher.

Havia equipes que limpavam as casas quando as famílias saíam para o trabalho; lavanderias coletivas e restaurantes nas fábricas, escolas e conjuntos habitacionais. As creches funcionavam 24 horas, o que permitia que os pais estudassem e participassem de outras atividades.

Os idosos não mais representavam um peso para a sociedade e cumpriam tarefas diversas. Muitos trabalhavam especialmente apoiando o processo de ensino das crianças e jovens, valorizados em sua larga experiência de vida, como testemunhas vivas da antiga sociedade, transmitindo sua experiência e crítica sobre ela e apoio à nova sociedade que se construía.

Ao coletivizar o trabalho doméstico, este deixa de ser “invisível”, aparece claramente como uma produção semelhante a outra qualquer, útil e necessária, conferindo a ela o reconhecimento social, demonstrando que esta carga sobre os ombros da mulher não é um destino assinalado pela “natureza feminina” e sim a forma de organização capitalista que a utilizava como método de exploração.

Ao ser assumido por homens e mulheres, na nova sociedade, passa a ser visto como trabalho e não “ocupação das mulheres”. A satisfação dos homens em participar voluntariamente dessas oficinas, tanto nos trabalhos como na construção de novos prédios para abrir novas oficinas, é um testemunho desse salto.

Homens, jovens e mulheres aprenderam a reconhecer a importância deste trabalho e não mais eram menosprezados por realizá-lo. As equipes de bairro responsáveis pelos diversos setores deste trabalho tinham participação ativa e massiva na vida política, organizadas como qualquer outra unidade de produção. Participavam de debates sobre a situação internacional, discutiam posições do governo e as questões decisivas na construção do socialismo, o papel da mulher na revolução etc. Da mesma forma, antigas “donas de casa”, mulheres de cinquenta anos, participavam de grupos de estudo do marxismo-leninismo-pensamento mao tsetung, atividade que se converteu em movimento pujante na China.

A vida cultural dos bairros se baseia nestas equipes. Elas foram responsáveis pela criação de muitos grupos de artistas amadores no país. Organizam apresentação de espetáculos para os moradores dos bairros, vão até as fábricas e recebem ainda grupos de outras partes do país que vêm apresentar peças teatrais e números de acrobacia, uma das atividades culturais muito apreciadas pelos chineses.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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