O grande golpe imobiliário do sub-prime foi um dos grandes responsáveis pelo estouro da bolha da economia do USA e um abravamento formidável da gravíssima crise que está corroendo as bases do imperialismo ianque, o olho do furacão da crise geral.
Este golpe atingiu em cheio o fluxo migratório de milhões de pessoas, principalmente latino-americanos, que saíram dos seus países correndo atrás do decantado “sonho americano”, e que hoje vivem a realidade de um pesadelo do qual não conseguem despertar, assim como a pequena burguesia estadunidense, um dos setores mais atingidos pelos vigaristas de Wall Street.
Os brasileiros que também alimentaram o “sonho americano”, iludidos pela “facilidade” em adquirir sua casa própria, roupas de marca, carros de alto luxo e demais bens de consumo, atolaram-se em dívidas bancárias, cartões de crédito e todo o tipo de facilidades oferecidas pelo “mercado”.
O preço das moradias que compraram despencou para menos da metade do valor. As prestações, devido uma forte alta dos juros chegaram a triplicar.
Tal é a variedade de problemas que estão levando os nossos patrícios a trilhar o triste caminho de volta para o país do qual (reconhecem hoje) nunca deveriam ter saído. Vamos ilustrar nosso comentário com alguns dados divulgados pela imprensa internacional através dos quais se pode ter pelo menos um esboço desse malfadado êxodo.
São cerca de cinco milhões de brasileiros vivendo no exterior, a grande maioria (40%) no USA. Dessa maioria, cerca de 40% vive e trabalha na clandestinidade, sem documentos, sem visto de trabalho e sem seguridade social nenhuma. Assim mesmo, todos os anos saem (ou saíam) 150 mil pessoas do Brasil, atraídos pelas “maravilhas” do “american way of life”. Um instituto de pesquisas de Washington afirma que 11% dos imigrantes brasileiros vivem na mais absoluta pobreza, ou seja, um em cada dez brasileiros no USA é paupérrimo. Esse número sobe para 36% se forem consideradas as pessoas que vivem na pobreza, ou pouco acima do que chamam de “linha de pobreza”.
Um dado interessante nessa trilha de volta de milhares de brasileiros decepcionados com o “sonho americano” é o fato de que muitos estão voltando e trazendo consigo seus cônjuges de várias nacionalidades e filhos nascidos no USA.
Entre muitos outros, o problema dos cuidados médicos aos imigrantes brasileiros, à exemplo daqueles oriundos de outros países, notadamente da América Latina (sem excluir a própria pequena burguesia ianque) é um forte motivador da volta para casa. Quase a totalidade dessa gente não possui seguro nas empresas que exploram o que podemos chamar certamente de “indústria da saúde”, monopólio médico-farmacêutico de umas poucas empresas médicas que cobram preços impraticáveis e nem sempre oferecem um atendimento à altura do que cobram.
As classes mais empobrecidas devem se contentar com o chamado atendimento de emergência, o “Emergency Room”, subsidiado por governos estaduais e fundações. Mas o paciente atendido por esse tipo de serviço não está livre de receber uma conta, que raramente é inferior a dez mil dólares. Se for internado então, está sujeito a faturas de 40 a 50 mil dólares. E isto acontece com o imigrante que está legalizado, pois o clandestino não se arrisca a ser pego, preso e deportado.
Por isso, os debates acerca dos mais de 20 milhões de estrangeiros (incluindo os brasileiros) que residem no USA e não possuem seguro de saúde assumem uma grande dimensão social e econômica. Essa população corresponde a quase 50% das 46 milhões de pessoas que não possuem cobertura dos provedores privados, sendo 10,5 milhões (23%) de estrangeiros, mas sem documentação para viver no país.
Outro problema que preocupa muito os imigrantes brasileiros que vivem no USA é o da escolaridade. Embora também sem estatísticas oficiais, calcula-se que a evasão escolar ocorre numa taxa assustadora. Isto resulta num acesso muito limitado ao sistema de ensino superior e ainda mais discriminação. Nos estados onde existe maior número de imigrantes, frequentemente os jovens confessam conviver com o medo permanentemente.
Esses poucos exemplos do sofrimento dos imigrantes brasileiros, se ainda não são muitos, são suficientes para justificar que os nossos patrícios arrumem suas malas e tomem a estrada de volta.