O gerente-mor Barack Obama está se portando de acordo com o que se previa: está feito um caminhão carregado descendo desgovernado ladeira abaixo. Refletindo o sistema enfermo e caduco, como diziam os antigos no Brasil, ele dá uma no prego e outra na ferradura.
A par de seu discurso considerado por alguns iludidos como "renovador" e alguns jogos de cena quase sem expressão nenhuma (o caso de abrir visitas a Cuba), Obama deixa de atender à massa trabalhadora estadunidense, cada dia mais empobrecida, e faz vista grossa a uma série de medidas que já deveria ter adotado se quisesse realmente cumprir certas promessas de seu discurso eleitoral.
Em dias passados, numa entrevista, Obama "deu uma no prego", sinalizando exultante o ótimo resultado financeiro de dois (dos poucos que restaram) grandes bancos, que ao contrário do que se esperava apresentaram no último trimestre resultados melhores que no último trimestre do ano passado. Acenou com dias melhores pela frente. As bolsas imediatamente subiram, euforia generalizada.
Logo depois o gerente-mor "deu outra na ferradura", ou seja: discursando na Universidade de Georgetown, em Washington DC, fez uma exaustiva exposição focando a crise econômica, prevendo uma piora da recessão e anunciando uma recuperação muito a longo prazo. Disse ele que "2009 continua sendo um ano difícil para a economia ianque. A gravidade da recessão provocará mais perda de empregos, execuções hipotecárias e mais sofrimento antes que termine. Se não investirmos agora em energia renovável, numa mão de obra qualificada e um sistema de saúde mais acessível, esta economia realmente não crescerá ao ritmo necessário em dois, cinco ou dez anos. Se não construirmos estes novos pilares, não passará muito tempo para que voltemos ao mesmo lugar que estamos hoje".
E agora? Euforia de manhã e depressão à tarde? Quem acredita nos sintomas bipolares do gerente?
O que se acredita é que não será certamente com a política de privilégios às classes proprietárias que o governo vai construir os tais "pilares".
Enquanto isso o desemprego em massa está caminhando para os dez por cento da população ativa (em breve poderá chegar a 15 milhões de pessoas).
Vale detalhar que a euforia de Obama com relação aos dois bancos que teriam apresentado bom desempenho no último trimestre se referia exatamente àqueles que receberam maior ajuda financeira do governo.
Aí é moleza. Ou melhor, brincadeira.
Um deles é o Wells Fargo, um dos mais velhos rapinadores do USA, e o outro é o Goldman Sachs. Essa dupla já recebeu muitos bilhões de resgate financeiro, o que somente foi possível porque o governo ianque (leia-se os contribuintes estadunidenses) injetou os recursos necessários para evitar a quebra e se tornou dono de 80% das ações desses bancos.
Sabe-se agora que toda essa estratégia para o resgate financeiro (que beneficiou muito mais os altos executivos do que os empregados) foi arquitetada e executada por mais de 100 ex-membros do Congresso e funcionários do governo anterior, que configuraram ao seu gosto os resgates agindo como lobistas dos bancos.
Um dos principais lobistas do Citigroup é o ex-assessor principal do líder da maioria no Senado. O Goldman Sachs tem mais de 30 ex-funcionários do governo registrados para que façam lobby a seu favor.
Um exemplo de como os executivos gozam de regalias milionárias, ao mesmo tempo em que todos os rigores da crise atingem empregados e operários das grandes corporações, foi o anúncio feito pela Exxon-Mobil de que seu diretor-executivo recebeu um aumento de 10% em 2008 (apesar das ações da empresa terem caído na época uns 15%), além de um pacote de compensações num valor aproximado de 24 milhões de dólares.
Mais uma de prego e ferradura do gerente Obama: durante a campanha presidencial ele disse apoiar o povo armênio (cuja colônia aqui no USA é enorme) com relação ao discutido massacre sofrido por aquele povo em 1915 pelos chamados Jovens Turcos, cuja intenção seria a eliminação total da sua vida cultural, econômica e familiar. Interessado em conseguir os votos da colônia (o que provavelmente conseguiu), nos seus discursos se referia ao fato usando a palavra "genocídio". Dias passados, durante a comemoração do Dia da Memória Armênia, Obama surpreendeu dizendo que a matança foi uma "atrocidade". Ficou claro depois que a eliminação da palavra "genocídio" foi por pressão do governo da Turquia, país agora classificado pelos USA como "aliado estratégico de grande importância".
O governo turco rejeita o termo "genocídio" e que o massacre tenha sido intencional.
Recentemente revelou-se um escândalo: a Universidade da Califórnia recebeu dinheiro da Turquia para dourar a pílula. Depois de já ter recebido 1/4 de uma doação feita pelo governo turco (um milhão de dólares) para que seus acadêmicos ignorassem o genocídio, recebeu uma enxurrada de abaixo-assinados e submeteu a oferta turca a uma votação do seu corpo docente. A grana dos turcos foi rejeitada pelo apertado número de 18 a 17 votos.
Nem por isso as universidades de Princeton, Georgetown, Indiana e Chicago deixaram de receber as ditas doações do governo turco, que em troca exige que as universidades direcionem os fatos históricos ao seu favor.