O trabalho coletivo é uma forma importante de organização, usado para melhorar as condições de sobrevivência e trabalho de nós, camponeses pobres, elevando o nível de produção tanto na qualidade quanto na quantidade, nos possibilitando assim obter preços mais justos pelos nossos produtos, por estarmos produzindo e comercializando em maior escala.
Onde eu moro, a organização em formas associativas se dá em diferentes níveis de cooperação, que vão desde as formas elementares que são os grupos de ajuda mútua (troca de dias de serviços), até as formas superiores de cooperação1 que são os mutirões, e um grupo coletivo de 20 famílias, que produzem juntas há mais de 10 anos.
Nos dando a oportunidade de obter meios de produção, instrumentos de trabalho mais avançados e técnicas mais modernas.
Penso que, ao adotar esse método, damos um importante passo para a eliminação das relações de produção baseadas na exploração do homem pelo homem.
Lógico que a utilização desse método gera várias contradições, porque nem todos concordam com o trabalho coletivo, preferem trabalhar individualmente, uns por não compreenderem a importância e o significado do trabalho coletivo, outros por problemas de convivência, ou então por querer viver da exploração de outrem. Como é o caso de companheiros que dizem: “Ah, esse trabalho coletivo não dá certo, porque uns trabalham e outros ficam escorando”, ou “não vou trabalhar para encher barriga de preguiçoso”, ou então “eu ganho mais trabalhando sozinho”.
Portanto, com a experiência que obtivemos durante esses 10 anos podemos comprovar que as pessoas que trabalharam coletivamente conseguiram melhores resultados, ao contrário dos que trabalharam individualmente, conseguindo assim produzir mais em menos tempo. Sobrando tempo para a cultura e lazer.
Cabe ainda dizer que só através da prática, através da persistência e da experiência concreta no longo prazo, poderá levar as pessoas a compreenderem que a coletivização é a única alternativa que nós, pequenos produtores, temos para garantir nossa auto-sustentação sem exploração. Por isso, é necessário estimular todo o tempo; de forma paciente, tipos diferentes de trabalho coletivo, formas de propriedades coletivas, de produção e distribuição coletiva. No entanto, é determinante compreender que é necessário ajudar os que ainda não compreendem e não aceitam essas formas, estimulando-os sempre a se organizar em cooperativas e associações, debatendo permanentemente as diferenças e vantagens entre umas e outras formas.
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* Daiane é uma jovem moradora da área Para Terra I, no Norte de Minas Gerais, onde foi construída a Ponte da Aliança Operário-Camponesa [veja a história da construção da ponte em AND nº 32, dezembro de 2006, O povo pode, faz e governa]. Ela cursa o 3º ano do ensino médio na Escola Estadual Deusânia de Brito Sales. Esta redação foi classificada na Olimpíada de Português promovida na escola e concorrerá à etapa estadual do concurso.
Apesar da excelente redação, gostaríamos de precisar alguns aspectos das formas de produção coletivas. Ainda que Daiane estivesse buscando relatar o desenvolvimento das forças produtivas na área Para Terra I e descrever as formas de divisão e organização do trabalho coletivo praticadas pelos camponeses, cabe precisarmos sobre as formas elementares e superiores de cooperação do ponto de vista do que de mais avançado já se alcançou sob a direção do proletariado.
1) Definição sobre o processo de libertação das forças produtivas e passagem das formas elementares às formas superiores de cooperação extraída da cartilha Nosso caminho, produzida pela Coordenação das Ligas de Camponeses Pobres:
“Libertação das forças produtivas do campo nas áreas tomadas do latifúndio, através da eliminação de todas as relações de produção baseadas na exploração do homem com a adoção de formas cooperadas. A organização em formas associativas das parcelas em diferentes níveis de cooperação segundo sua experiência, desde os Grupos de Ajuda Mútua, forma elementar a formas superiores de cooperação, passando por outros níveis de formas cooperativas. Adoção de meios de produção e instrumentos de trabalho mais avançados e das técnicas mais modernas.
2) Formas superiores de cooperação e exploração coletiva:
a) Kolkhozes (exploração coletiva). Os Kolkhozes surgiram na União Soviética. Era a forma essencial de cooperativa de produção agrícola com vista a formar uma grande empresa agrícola socialista, baseada na propriedade comum dos meios de produção e no trabalho coletivo.
b) Sovkhozes – (exploração agrícola estatal). Surgidos em 1918, os Sovkhozes eram grandes empresas agrícolas socialistas na URSS. Nos Sovkhozes, a terra e os meios de produção pertenciam ao Estado. Eles foram, para os camponeses, uma escola de gestão coletiva. Junto com os Kolkhozes, eles representavam os maiores produtores de gêneros agrícolas da URSS e serviram como exemplo para o desenvolvimento da cooperação em outros países socialistas.
c) Comunas Populares – Sistema adotado na China em 1958, sob orientação do Partido Comunista, que representou um salto qualitativo significativo em relação às cooperativas. As Comunas Populares não eram apenas unidades de produção agrícola socialistas. Elas eram organizações econômicas, políticas, administrativas, militares etc. Eram, portanto, uma unidade administrativa e política do poder local e uma unidade de base da economia socialista. Cada Comuna Popular na China reagrupava em média 10 antigas cooperativas e reunia cerca de oito mil trabalhadores