Barra do Riacho: mais de 1.500 moradores resistiram o quanto puderam à truculência policial
Em uma ação de extrema truculência, no dia 18 de maio, mais de mil policiais militares, entre eles 400 da tropa de choque, apoiados por cavalaria, cães, tratores, ônibus e helicóptero, realizaram uma ação violenta de despejo contra cerca de 500 famílias residentes em uma área ocupada no distrito de Barra do Riacho, município de Aracruz, Espírito Santo. A operação foi orquestrada pela polícia e o gerenciamento municipal de Ademar Coutinho Devens (PMDB) em parceria com o governo estadual de Renato Casagrande e Givaldo Vieira (PSB-PT).
O terreno ocupado pelas famílias é da prefeitura e está localizado num local de interesse de grandes empresas que atuam na região portuária, como a Petrobras, a Aracruz Celulose, o estaleiro Jurong, Nutrigás e Nutripetro, e onde, no último circo eleitoral, havia sido prometida a construção de moradias como parte do projeto eleitoreiro ‘Minha casa minha vida’.
Os moradores de Barra do Riacho, que em sua maioria são de origem indígena e pescadores, decidiram ocupar a área, construindo, por conta própria, casas de alvenaria e enfrentando a perseguição dos políticos comprometidos com as empresas.
Como quem está habituado a cometer crimes contra o povo, os policiais fortemente armados realizaram o ataque contra as famílias, lançaram bombas contra mulheres, crianças e trabalhadores diante das câmeras de TV que registraram tudo. As imagens são indignantes. Centenas de policiais atirando bombas e fazendo disparos com armas de fogo, ameaçando a população com cães, uma criança passa mal asfixiada pelas bombas de gás, tratores avançando indiscriminadamente sobre as casas e um helicóptero sobrevoando o local sem parar.
Lideranças foram perseguidas, simpatizantes da luta das famílias agredidos e rapidamente foram proibidas as filmagens e a presença de equipes de reportagem no local.
Por outro lado, os mais de 1500 moradores organizaram a sua resistência. Ergueram barricadas com pneus e madeira e atearam fogo para impedir a entrada das forças de repressão, agitaram palavras de ordem, denunciaram o quanto puderam. Só retiraram-se devido ao desproporcional aparato policial. Os moradores sequer tiveram o direito de tirar os pertences de dentro de suas casas.
Em entrevista a uma emissora de TV, uma moradora, muito abalada, afirmou: “Nós não temos para onde ir. Para onde a gente vai? A gente sofria para pagar o aluguel. Deixava de comprar comida para pagar o aluguel. Será que eles [a polícia e os políticos] não pensam nisso? Não deixaram a gente tirar nada de dentro de casa”. Outras moradoras passaram mal enquanto viam suas casas sendo derrubadas pelos tratores das empreiteiras interessadas no local, sem garantia de novo teto.
Em nota, a Associação Brasileira de Advogados do Povo – Abrapo declarou que “esse ato de violência do Estado brasileiro vem demonstrar a que ponto chegou a gerência colonial, a política de exploração e criminalização da pobreza, da repressão ao povo pobre, a mesma que impera no campo em prol do latifúndio, nos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de Janeiro, e nas regiões de interesse dos grandes projetos de espoliação, como as obras do PAC em Rondônia, Mato Grosso, Pernambuco, Espírito Santo e Rio de Janeiro, uma forma da gerência colonial continuar a despejar rios de dinheiro para o grande capital burocrático”.