Onde os coronéis ainda vagam
Mesmo o monopólio das comunicações da grande burguesia não pôde deixar de comentar: a semifeudalidade vigora em nosso país. Foi com surpresa que pude ler nas páginas de (acreditem) o Estadão uma matéria que cita artigo da revista britânica ‘The Economist’, que fala da eleição do sr. José Ribamar, o Sarney, pela terceira vez para a presidência do Senado. O artigo "Onde dinossauros ainda vagam" caracteriza o fato como "vitória do semifeudalismo". Isso me faz recordar o esclarecedor artigo publicado em A Nova Democracia nº 10 entitulado "O governo petista, a república de Sarney e a democracia" onde uma ilustração de Alex Soares retrata uma manada de fósseis-vivos palacianos na qual vaga o Sr. Ribamar. Mais uma vez se confirma a essência do Estado burocrático brasileiro.
Roberto da Cunha
professor aposentado. Curitiba – PR
Reação da gerência Ana Julia – PT para se livrar dos pobres
Caros amigos,
Alguns depoimentos pessoais vêm denotando que a Operação Reação, ação policial do Governo do Estado vem recolhendo pessoas para "averiguações". A ilegalidade por si só arrepia a "terra de direitos", porém, mais do que isso, preocupam os efeitos e resultados dessa "limpeza-quase-étnica" que se faz para dar "segurança" aos participantes do Fórum Social Mundial, "Limpeza-quase-étnica" porque os suspeitos são jovens, pobres, pretos e pardos, que conformam a maioria do povo desta cidade. Um perigoso silêncio cerca essa ação. Os "cidadãos de bem", quem sabe exaustos pela escalada da violência e dos constantes crimes com morte, parecem querer acreditar que esse é o remédio para a chaga aberta da pobreza e do desamparo a qual a sociedade relegou o futuro do país, a juventude.
Estranha-se, inclusive, que as organizações da sociedade civil – OAB-PA, Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – estejam com seu silêncio coonestando as arbitrariedades das detenções para "averiguações". O lema "não atacar o aliado" parece ter cegado os que deveriam estar na linha de frente do combate à violência institucional, seja qual for sua origem.
Preocupa saber que operação semelhante, destinada a garantir a "Paz no Campo", realizada no final de 2007, resultou no cometimento de violências contra trabalhadores rurais e suas famílias, especialmente os ocupantes da Fazenda Forkilha, no município de Redenção. Ouvidos em audiência pública em maio de 2008, os trabalhadores confirmaram as violências cometidas pela polícia do estado e como resultado, 15 dos denunciantes foram misteriosamente mortos, no espaço de 6 meses.
É difícil também compreender que o comando desta Operação Reação esteja afeto ao recém reempossado Delegado Geral de Polícia, Raimundo Benassuly, tristemente famoso por ser então delegado geral quando ocorreu a escabrosa denúncia da detenção de uma adolescente junto a presidiários que a torturaram e estupraram. Quando argüido em depoimento, na CPI da Carceragem, seu melhor argumento foi afirmar que ‘Não sou médico legista nem tenho formação na área. Mas essa moça tem certamente algum problema, alguma debilidade mental. Ela em nenhum momento declarou sua menoridade penal’ E mereceu justamente da jornalista Eliane Catanhede o rótulo de "débil funcional".
É sob este comando que se faz a limpeza da periferia de Belém, para enfeitá-la para o Fórum. Violentando direitos, "guardando" nas celas infectas das delegacias de polícia jovens que já pagam "pena de vida", pois se criminosos são, deveriam estar sujeitos às penas da lei e não sendo "averiguados" apenas na véspera da festa. É este clima preparatório que o Governo do Pará e a Prefeitura de Belém conseguiram "garantir" para a realização do Fórum, em que pese muita esperança e boas expectativas das organizações da sociedade civil.
A averiguação das denúncias não deve ser postergada.
Atenciosamente
Maria Adelina Braglia
Belém, Pará
O Forum Social Mundial dos ‘espelhinhos’
Caros companheiros do AND, aproveitando minha estadia em Belém, no final do mês de janeiro, participei de algumas atividades do FSM, cujo tema deste ano era: Água, direito universal da humanidade.
O que mais me espantou foi a quantidade de ongs estrangeiras com grande preocupação quanto à defesa dos povos tradicionais, da Amazônia e, claro, das águas subterrâneas e de superfície do Brasil.
Em realidade o espanto não era quanto a quantidade numérica, mas o quão cara-de-pau elas sabem ser para organizarem no país atividades para mostrar a nós, brasileiros, o quanto eles – verdadeiros responsáveis pelo desmatamento de florestas tropicais pelo planeta; responsáveis pelo genocídio dos povos tradicionais de seus países e dos países colonizados a partir do século XV e, finalmente, responsáveis pela poluição, assoreamento e morte de rios, lagos e lagunas em suas terras – são os únicos competentes para salvar nossas riquezas naturais.
Se neste país existisse algo além de gerências de 5ª nos três âmbitos públicos, alguém se ergueria diante desses sangue-sugas e perguntaria a esses ‘ambientalóides’:
- aos franceses: por que vocês não vão recuperar as florestas do Haiti, dizimadas por vocês quando da guerra da independência deste, para que não servissem de abrigo aos guerreiros haitianos?
- a todos: vocês reconhecem que a água é uma forma de riqueza, mas que deve ser distribuída ‘graciosamente’ a todos os que dela precisam, isto é, vocês. Pois bem, vocês não se mostram tão generosos quando a riqueza a ser distribuída, sai de vocês para os outros. Em verdade vocês sequer consideram o verbo distribuir – a não ser que seja propina e ‘porrada’.
Me revolta essa cultura colonialista extorsiva: em 1500 nos roubavam em troca de ‘espelhinhos’ e quinquilharias, agora em troca do discurso de como somos importantes, ricos, bonitos e generosos e de como não podemos ser egoístas, pois estamos salvando o planeta.
Alguém bem que poderia lembrá-los que se a questão for salvar o planeta aí é que não podemos ser generosos, pois já dizia minha avozinha: quem muito doa hoje, fica sem nada amanhã.
Cristina Figueiredo
Maricá, Rio de Janeiro