Vem eleição, vai eleição e nada muda para o favelado.
No Complexo do Alemão,cartazes infestam os becos e vielas
Sempre que se aproxima o período de eleições, muitas favelas e bairros pobres no Rio de Janeiro, assim como em todo o país, são infestados de propaganda eleitoral e candidatos esbanjando simpatia para cima e para baixo, cumprimentando moradores e prometendo-lhes mundos e fundos. No entanto, a cada dois anos, crescem a desconfiança e a rejeição das massas mais pobres às fantasias apresentadas pela farsa eleitoral.
No Rio, muitas favelas encontram-se cercadas e militarizadas e outras foram demolidas pelos tratores da prefeitura nos últimos oito anos, aumentando a revolta e a rejeição de quem vive nesses territórios à farsa eleitoral. Há ainda áreas que foram convertidas em currais eleitorais por meio do domínio de grupos paramilitares formados por policiais, bombeiros e militares das forças armadas.
Atualmente, 170 favelas em todo o estado do Rio de Janeiro encontram-se sob o domínio desses grupos que cobram taxas de “segurança”, monopolizam o comércio de gás, TV a cabo e transporte público, exterminando a concorrência, coagindo e assassinando opositores. De acordo com investigações da DRACO (Delegacia de Combate ao Crime Organizado) e informações da CPI das “Milícias” da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, em alguns locais, durante as eleições, moradores são forçados a fotografar a urna eletrônica para provar aos paramilitares que votaram em seus candidatos.
A equipe de AND conversou com alguns moradores de favelas e bairros do subúrbio do Rio de Janeiro e da Baixada Fluminense para saber suas expectativas em relação às eleições para vereador e prefeito.
— Os moradores de favelas estão desacreditados com a representatividade institucional, com a política. Eu particularmente não acredito nas eleições. Para mim isso é uma farsa, porque nunca nenhum governo vai representar os interesses dos favelados. Quem se elege a prefeito, governador, presidente, sempre vai defender os interesses da elite burguesa — diz Bruna Aguiar, estudante de ciências sociais da UFRJ e moradora da Favela de Acari, que está há dois meses sitiada por policiais do 41º BPM.
— Eles só prometem, prometem, mas cumprir que é bom, nada. Estamos aqui abandonados. Ninguém vem aqui dar uma satisfação, só aparecem em época de eleição, dizem que vão fazer e acontecer, mas depois somem. Todos nós aqui já estamos cansados disso. A gente tenta confiar, mas infelizmente não dá — protesta Fabrício Silva, morador do Morro Santo Amaro, na Zona Sul do Rio.
— Há muito tempo o povo espera uma reinvenção do ideário de representatividade política. Nesse sentido, ninguém nunca se identificou muito com as eleições e agora menos ainda. As pesquisas mostram isso. Os candidatos ganham com 20, 25%, enquanto a porcentagem de votos nulos só cresce, porque as pessoas estão cada vez mais desacreditadas — diz o jovem músico Nyl de Souza, morador do bairro de Irajá, na Zona Norte do Rio.
— Falar de democracia representativa nos dias de hoje é algo muito complexo, se você levar em consideração que na última eleição para governador 40% das pessoas votaram nulo ou não votaram. É um grande jogo de poder no qual os representantes das classes dominantes entram em disputa e o povo é ignorado nesse processo — diz o antropólogo Fábio Silva, morador de Nilópolis, na Baixada Fluminense.
— Aqui na favela, as pessoas estão totalmente desacreditadas, porque na última eleição para prefeito várias políticas públicas foram oferecidas e nada foi feito aqui na Penha. É sempre assim: eles aparecem aqui em época de eleição e desaparecem como mágica — observa o jovem Daniel Santos, morador da Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, Zona Norte do Rio.