Jerusalém — Palestina — 18 de Maio de 2003: um ônibus vai pelos ares. Eram seis horas da manhã de domingo quando um ônibus circulando em Jerusalém foi explodido por um mártir palestino que vestido como religioso judeu portava um cinto de explosivos. Ao acionar o dispositivo, ocorreu a explosão de imediato, falecendo com sete passageiros israelitas. Vinte outros ficaram feridos.
Não houve imediata reivindicação de responsabilidade, mas o jovem mártir foi identificado por parentes como Bassem Jamil Tarkrouri, 19 anos, um ativista do Hamas* de Hebron.
A explosão da bomba de 10 quilos fez voar pelos ares as janelas do ônibus e os pertences das vítimas. O major Ya'acov Engelberg, um dos passageiros que se encontrava nos últimos bancos, se feriu levemente. Seus óculos foram arrancados do rosto e se espatifaram bem longe, ao lado do motorista. Este, com as pernas quebradas, perdeu o controle do veículo. O ônibus tombou e foi rolando até abalroar uma ambulância.
Os corpos intactos em seus assentos na parte da frente do ônibus, tinham a cabeça inclinada e foram cobertos, depois, por folhas brancas de plásticos, até serem removidos, após uma hora, e distribuídos para quatro hospitais da cidade. Ao norte, nova explosão é ouvida, desta vez no posto de controle, próximo a cidade. O segundo palestino tinha sido detido por um membro dos órgãos de repressão do aparato sionista. Os sionistas dizem suspeitar que este mártir também tenha feito parte do Hamas, a que pertenceu Tarkrouri.
À força de manipular, intoxicar e
atordoar a opinião pública mundial,
é imposto o ponto de vista sionista
A repressão sionista ressalta que esse parece ser o fim de um período de seis meses de calmaria na capital, não obstante alegar que um número crescente de atentados palestinos foi impedido de se consumar, devido à ação preventiva. Os sionistas atribuem a quebra da calmaria ao fato da retomada de negociações políticas entre palestinos e judeus. "Não há dúvida nenhuma de que estamos submersos por uma larga onda de terror global, sem fronteiras."
Ao mesmo tempo, e isto é um fato, cinquenta tanques protegiam forças sionistas de ocupação na invasão — sábado, 21 de maio — ao norte da Faixa de Gaza, da cidade de Tulkan. O Primeiro Ministro Ariel Sharon dizia aceitar o recente plano de "paz" para a região, conhecido como o "mapa de rotas". Enquanto isso, as forças invasoras na Palestina prendiam qualquer palestino suspeito de tomar parte na luta contra os fascistas de Israel, pelo fato de que pretender a independência e um Estado Palestino soberano é potencialmente contrário aos interesses do USA. O atentado ao ônibus foi o nonagésimo terceiro, desde a irrupção da intifada palestina em setembro de 2000.
Num primeiro momento, cenas de vitimados israelenses parecem um dos grotescos cenários holywoodianos, daqueles em que os judeus eram vítimas dos nazistas. Mas não. É, parcialmente, o relato do The Jerusalem Post sobre um ato da resistência palestina — para os fascistas mais um ato de terrorismo, expressão, aliás, que tomaram emprestada aos nazistas, sempre que se referiam à resistência francesa, iugoslava, polonesa, etc. A fórmula busca esconder que, entre os hebreus, grande parte abomina a repressão sionista contra os palestinos. À força de manipular, intoxicar e atordoar a opinião pública mundial, é imposto o ponto de vista sionista. Eles são as vítimas; primeiro o foram do nazismo, hoje do "terrorismo" palestino.
Os palestinos jamais se rendem
Versões como as do The Jerusalem Post tentam, com algum êxito, caracterizar como "terrorismo" uma resistência palestina que se organiza em vários grupos (Hamas, Jihad). Uma população que resiste à ocupação nas ruas, nas casas, nos hospitais, nas prisões e campos de concentração, que na linguagem pudica da organização mundial do imperialismo e seus lacaios recebe o nome de campos de refugiados. Até mesmo no exterior, tradicionalmente, entre os milhares de refugiados palestinos que tiveram que deixar o território ocupado pelos judeus. Para ficar só na atualidade, a política de ocupação israelense permitiu o assentamento de mais de 170 mil colonos na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Esse número cresce progressivamente: palestinos são expulsos de suas terras, suas casas são destruídas por tratores, dando lugar a novos assentamentos militarizados, onde os próprios hebreus são usados como invasores.
Versões como a do The Jerusalem Post
tentam caracterizar como "terrorismo"
uma resistência palestina
Nas prisões dirigidas pelos sionistas, os palestinos são proibidos de se comunicar com seus advogados. Mais de 2 mil prisioneiros palestinos promoveram uma greve da fome, em dezembro de 1998, e no fim de março deste ano, em Ofer, mais de mil prisioneiros palestinos queimaram os locais em que dormiam, no que foram seguidos por seus companheiros dos campos de concentração do deserto de Negev. Neste mês de maio, cerca de 5 mil prisioneiros palestinos encontram-se nos cárceres fascistas, dentre os quais, segundo o exército de Israel, 3.351 se acham detidos em prisões militares por razões de segurança. Porém, fontes palestinas estimam que a cifra total de palestinos presos é de 8 mil, sendo 1.400 em prisão provisória, à espera de julgamento, enquanto aproximadamente 40 mil palestinos feridos em batalhas se refugiaram em hospitais que foram bombardeados pelas hordas sionistas nos dois anos de intifada, movimento de libertação nacional contra o colonialismo.
Milhares de palestinos, na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, vêm retomando a luta pela independência de seu país. A única forma de o imperialismo impedir que os palestinos rumem decididamente em direção à sua independência é bombardear sistematicamente o núcleo ideológico da resistência adiando a organização do Partido, e consequentemente, do seu exército e da frente única. No entanto, isso os sionistas não poderão deter. Então, nem um oceano de lágrimas será suficiente para demonstrar o arrependimento de terem, um dia, seguido os arruaceiros ianques.
*Hamas: significa "fervor", mas também é a abreviação de Harakat al-Muqawama al-Islamiyya (Movimento de Resistência Islâmico), nascido em dezembro de 1981, no momento da primeira intifada (sublevação) palestina contra israelenses, depois do assassinato de um colono israelense, apunhalado em um atentado pelo Jihad Islâmico. Segundo observadores, o USA estimulou o Hamas, nos anos 70-80, como contraponto às forças seculares da resistência palestina. Na época, o USA treinava forças islâmicas no Afeganistão e outras partes do mundo contra os movimentos de libertação nacional e contra os soviéticos.