Os presidenciáveis e as mulheres

Os presidenciáveis e as mulheres

Na lista interminável e cínica das propostas dos programas dos candidatos a presidência e demais cargos executivos e legislativos não poderia faltar a questão da mulher, principalmente agora que o voto feminino tornou-se a maioria.

A começar pela montagem das chapas, candidatas a presidente, vice-presidente, governadoras e vice-governadoras e os cargos legislativos, preenchendo as vagas da tal "quota de mulheres" nas listas partidárias, celebradas pelo feminismo burguês como uma das maiores conquistas femininas.

Seguindo pela trilha da "importância da mulher na sociedade" (leia-se importância da manipulação das mulheres do povo), a imagem da esposa do candidato é apresentada como o símbolo da mulher brasileira. São presença obrigatória na grande encenação das eleições, demonstração forjada de que o candidato tem compromisso com a causa da mulher.

Para completar o roteiro dos apelos ao eleitorado feminino, as atrizes contratadas apresentam cada candidato como o que mais fez e mais fará, se eleito, pelas mulheres.

No grande teatro dos discursos de todos os presidenciáveis manifesta-se, além da viciada demagogia, a velha e carcomida posição do feminismo burguês. Tratam eles de uma suposta "mulher brasileira", categoria que engloba todas as mulheres, exploradas e exploradoras, oprimidas e opressoras, que teriam os mesmos problemas, padeceriam os mesmos sofrimentos e, portanto, buscariam uma mesma solução. Tal posição não é mais que um complemento da desfaçatez de todos os candidatos em se apresentar como o candidato de todos os brasileiros, como se existisse a categoria de "cidadãos em geral" desvinculada da classe social à qual esses "cidadãos" pertencem.

Os presidenciáveis são todos farinha do mesmo saco e representam exclusivamente as classes dominantes, no Brasil a grande burguesia e o latifúndio, pilares da ação colonialista do imperialismo, principalmente o ianque, que utilizam-se da farsa eleitoral para dar um lustre democrático à mais vil exploração e opressão de classe. Não podem, portanto, nem querem, representar todas as mulheres e sim usar as mulheres do povo como massa de manobra. As operárias, camponesas (que aliás quase não são citadas), intelectuais comprometidas com as lutas populares, estudantes e jovens proletárias e camponesas, entram em seus programas como confeitos não comestíveis que enfeitam o bolo, só para compor o cenário.

A caída da máscara de Ciro Gomes ilustra bem o verdadeiro conceito desses homens "públicos" sobre as mulheres. "O papel principal da Patrícia é dormir comigo": esta é a frase mais sincera de todas que o candidato pronunciou, lembrando as eleitoras de outra famosa frase, "estupra mas não mata" de Paulo Maluf. Serra colocou a Camata de vice, a qual em sua primeira declaração pública investida do cargo, falou de "batons" e "saltos-altos" e prossegue como bibelô da campanha, escalada para sambar e cair de bicicleta.

Garotinho investiu direto na reeleição para governador através da Rosinha que assina também Garotinho.

Lula, assessorado pela fina flor do feminismo burguês esmerou-se na pantomima do horário gratuito. Uma mulher jovem surge na tela, com o olhar fixo no horizonte, dramaticamente desfiando a lista das exigências da mulher brasileira (que ela pretende representar). A atriz acusa os outros concorrentes de manipular a questão da mulher, como se ela ali não fizesse o mesmo. Ao final da fala teatral, ela exige respeito por seus anseios, afirmando que é seu direito ser sensual, frágil, desejar casar e ter filhos!

Todos os candidatos, para quem tem olhos na cara para ver e não para passar "sombra" e "crayon", tentam e não conseguem dissimular um profundo desprezo pelas mulheres, que para eles não têm outro papel que o designado pela sociedade de classes, de serem reprodutoras carregando o falso cetro de "rainhas do lar". O que pode parecer a muitos um elogio, esse batido slogan "as mulheres transformam o mundo", é na verdade o ensebado subterfúgio para manter a opressão sexual da mulher. O valor da mulher, que lutamos por colocar no patamar de igualdade com os homens, não é de forma alguma a propalada "sensibilidade especial"; a fragilidade representada na mãezinha paparicada; a beleza artificial e estimulada pela milionária indústria de cosméticos, lipoaspirações, plásticas, botox; a capacidade de ocupar espaços no topo da sociedade exploradora do ser humano pelo ser humano e muito menos na qualidade mais cobrada de nós, a sensualidade, a capacidade de seduzir os homens, que não é outra coisa que nos colocar na mais abjeta condição de objeto sexual, mantendo-nos no eterno papel de satisfazer os desejos masculinos, e é claro, dentro dos padrões definidos pela grande burguesia. Esses "elogios" são na verdade a sentença da condenação à continuidade da opressão sexual. O papel a que se prestam as atrizes desse teatro machista e conservador, ridiculariza as mulheres do povo, e termina por submetê-las ainda mais, na medida em que lhe reserva o lugar de espectadoras do "sucesso" de algumas representantes da espécie que conseguem subir ao pódio dos "vencedores".

O valor que exigimos ser respeitado reside na nossa condição humana, na capacidade que temos de produzir e na necessidade que as classes oprimidas têm de que nos emancipemos da opressão sexual como parte da luta de classes para derrubar a propriedade privada. Nossa opressão particular é fruto exatamente da sociedade de classes, que utiliza a mulher como forma de explorar duas vezes a classe operária, a classe camponesa, e as classes médias, através do trabalho doméstico, que nenhum candidato nem nenhuma de suas atrizes contratadas propõem acabar. É por isso que não consta de nenhum programa a construção dos instrumentos que nos permitirão alcançar uma verdadeira igualdade com os homens, ou seja, creches para todas as crianças em horário integral, restaurantes coletivos que atendam a toda a população, lavanderias coletivas, enfim, abolição do trabalho doméstico e da exploração deste pela grande burguesia e o latifúndio como lucro acrescido à superexploração dos trabalhadores. Nós mulheres transformamos o mundo sim, e o fazemos não quando estamos realizando o trabalho não pago em nossos lares, não quando estamos presas à condição de mães desesperadas pelo futuro de nossos filhos, muito menos quando estamos submetidas à condição de objeto de prazer. Transformamos sim, mas não por nossas características sexuais e sim como está registrado na história da Humanidade, o fazemos quando somamos nossa força importantíssima à luta de classes em heróica resistência, ombro a ombro com os homens de nossa classe e em posição antagônica frente às mulheres e homens das classes opressoras. Nós, as mulheres proletárias, camponesas, intelectuais progressistas, estudantes e jovens proletárias e camponesas, não travamos a mesma batalha das mulheres burguesas, latifundiárias, militares, oportunistas. Transformamos e transformaremos ainda mais profundamente esta realidade indesejável, assumindo a posição de combate revolucionário às teses burguesas de um mundo mais feminino, contrapondo a ela a revolução social que garantirá um mundo mais igual para a maioria esmagadora dos homens e mulheres que compõem o povo.

E isto certamente não encontraremos nos programas de nenhum candidato. Claro, para eles não está em causa a mudança do sistema e sim a sua perpetuação.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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