Duzentos e quinze oficiais recebem soldo de marechais, almirantes e marechais do ar sem nunca terem ocupado tais cargos. Além disso, altos oficiais também comandam a maioria das estatais.
Enquanto a maioria esmagadora do povo brasileiro se submete a um regime de trabalho cada vez mais explorador e sofre com a inflação, o alto preço dos alimentos, os baixos salários, os cortes de direitos trabalhistas e previdenciários, o desemprego e as demais mazelas, os altos mandatários das três Forças Armadas (FA) do Brasil (Exército, Marinha e Aeronáutica) levam vida de verdadeiros marajás*.
Mais de 215 oficiais das FA recebem salários em torno de R$ 32.153,77, que são equivalentes à remuneração para os postos de marechal, almirante e marechal do ar, maiores patentes do Exército, Marinha e Aeronáutica, respectivamente. Segundo as próprias leis militares do Brasil, somente é possível alcançar tais postos em situação de guerra declarada, estado em que o Brasil não se encontra desde a Segunda Guerra Mundial. Portanto, nenhum dos beneficiados foi nomeado para os cargos em questão.
Até 2001, o oficial das FA que possuía 30 anos de carreira militar poderia se aposentar com soldo referente a uma ou duas graduações acima de seu posto à época da aposentadoria. Com isso, os generais do Exército, almirantes de esquadra da Marinha e tenentes-brigadeiros da Aeronáutica, que atingiram tal requisito até o referente ano, estão recebendo soldos referentes às maiores patentes das FA. Ou seja, diferentemente do trabalhador civil, que vê seu salário diminuir ao se aposentar, os soldos dos militares privilegiados aumentam.
Entre esses militares que recebem supersalários de marechais estão figurões bem conhecidos como Augusto Heleno, Ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) e general de exército (4 estrelas); Eduardo Villas-Bôas, assessor especial da Presidência da República, ex-comandante do Exército e general de exército (4 estrelas); Edson Pujol, ex-comandante do Exército e general de exército (4 estrelas); Joaquim Silva e Luna, Presidente da Petrobras e general de brigada (2 estrelas); e Sérgio Etchegoyen, ex-ministro do GSI e general de exército (4 estrelas).
Dentre outros militares que recebem salários de marechais, um nome chama a atenção: o do Coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. Venerado por Bolsonaro, exaltado pela extrema-direita e ex-comandante do Destacamento de Operações de Informação – Centro de Operações de Defesa (Doi-Codi), órgão subordinado ao Exército, Ustra é conhecido pelo fato de seus militares praticarem tortura e promoverem assassinatos de presos políticos dentro de suas instalações.
Como bem sabido, Ustra não alcançou o posto de general no tempo em que serviu, contudo, após o seu falecimento em 2015, suas filhas passaram a receber pensões altíssimas, com o valor do soldo equivalente ao de marechal, que neste caso é de R$ 30.615,80. O salto dado pelo coronel torturador evidenciado na super-pensão que sua família recebe nada mais é do que expressão da admiração e reconhecimento que Ustra tem ainda hoje dentre os militares das reacionárias FA brasileiras.
Salários ainda maiores!
Os militares que compõem o governo militar genocida de Bolsonaro, recebem salários ainda mais exorbitantes. Augusto Heleno (Ministro do GSI), Walter Braga Netto (Ministro da Defesa), Hamilton Mourão (Vice-Presidente), Luiz Eduardo Ramos (Ministro Chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República), Joaquim Silva e Luna (Presidente da Petrobras), o almirante Bento Albuquerque (Ministro de Minas e Energia), além de tantos outros, acumulam os gordos salários de Marechal das FA com os também generosos vencimentos oferecidos aos que ocupam altos cargos governamentais e em empresas estatais.
O general e ministro Luiz Eduardo Ramos recebeu no mês de junho o valor de R$ 111,2 mil. Já o vice-presidente, Hamilton Mourão, recebeu a quantia de R$ 108,7 mil, o Ministro do GSI, Augusto Heleno que recebe R$ 32.153,77 como marechal e mais R$ 30.934,70 como ministro, no referido mês recebeu a bolada de R$ 107,2 mil. Para fechar a lista do alto escalão do Planalto, inclui-se aí o ministro da Defesa, Walter Braga Netto, que recebeu insultuosos R$ 100,6 mil. Os generais foram agraciados com esse alto valor no mês de junho, pois receberam uma parcela extra do 13° salário e pagamentos retroativos desde abril, quando o governo liberou remuneração acima do teto salarial, hoje de R$ 39,2 mil.
Além desses figurões do alto escalão do governo, os oficiais generais estão ocupando cargos de direção das empresas públicas brasileiras. Até abril, os militares presidiam 16 de um total de 46 empresas ligadas ao governo.
O presidente da Petrobras, general Joaquim Silva e Luna, por exemplo, recebe R$ 226 mil, incluindo bônus e benefícios, por conta do cargo ocupado na estatal, segundo informou a jornalista Talita Laurino em uma matéria para o site Metrópoles. Além do valor acima citado, o general é um dos que aparece na lista dos que recebem vencimentos do cargo de “marechal”.
Outro exemplo é o do vice-almirante (3 estrelas) da Marinha, Francisco Magalhães Laranjeiras. Ele comanda a Companhia Docas do Rio de Janeiro (CDRJ) e recebe R$29.776,59 mensalmente para ocupar o cargo. Além do salário, o militar ainda tem direito a benefícios como: tíquete-refeição mensal de R$ 1.057,20 (com 13º como extra); adicional de 50% do salário nas férias (para o trabalhador comum, o valor é de um terço); adicional por tempo no serviço e folga por trabalhar no Dia do Portuário, entre outros. A Docas controla os portos de Rio de Janeiro, Niterói, Itaguaí e Angra dos Reis.
Oficiais generais comandam: Correios; Infraero; Amazul; Indústrias Nucleares do Brasil; Companhia das Docas do Estado da Bahia; Nuclebrás Equipamentos Pesados S.A.; Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares; Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo; Empresa Gerencial de Projetos Navais, Engenharia, Construções e Ferrovias S.A.; Empresa de Planejamento e Logística S.A.; Financiadora de Estudos e Projetos e Indústria de Material Bélico do Brasil.
Povo tenta se virar
Enquanto os oficiais generais esbanjam altos salários, os trabalhadores tentam se virar para garantir sua alimentação, medicamentos, transporte, contas de água e energia, moradia, bens de consumo etc., com um salário de R$ 1.100, realidade bem distinta dos mandatários da Nação.
O Banco Central divulgou um relatório no dia 29 de novembro, denominado “Focus”, no qual demonstrou que o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 2021 subiu para 10,15%. Sendo a trigésima quarta semana seguida de aumento. É a primeira vez que a inflação atinge o patamar de dois dígitos desde 2015.
Essa alta significa principalmente um aumento no preço de itens de consumo e da cesta básica. Outras altas que afetaram o índice inflacionário foram os aumentos na conta de luz, do aluguel e dos combustíveis, assim como de passagens aéreas e rodoviárias.
Para o trabalhador, portanto, vale saber que o reajuste anual do salário mínimo não conseguirá suprir as necessidades das famílias, uma vez que não significará aumento algum e continuará abaixo do que o necessário para sobreviver. Será o terceiro ano sem um reajuste conforme a inflação e, com isso, sem aumento real.
Nota:
*Título equivalente a grande rei, dado aos príncipes feudais da Índia.