Ouvindo a música boa do Pezão

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Ouvindo a música boa do Pezão

Filho de um músico amador que fazia questão de passar cultura para o filho, o paulista Pedro Moretto Filho, ou Pezão, começou a tocar pandeiro ainda menino. Talentoso autodidata, migrou para o cavaquinho, depois violão e hoje, aos 56 anos, se apresenta nas noites de Campinas, SP, com seu violão de 7 cordas, cantando obras de Chico Buarque, Cartola, João Bosco, Adoniran, Nelson Cavaquinho e muitos outros, além de suas próprias composições.

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— Tinha oito anos de idade quando comecei a tocar e nunca mais quis parar. Ouvia muito choro com o meu pai, um homem simples, mas de muito bom gosto musical, e isso me deu um impulso. Ele também gostava demais de Adoniran Barbosa. Creio que fui juntando as informações sobre música que de alguma forma recebia dele, com uma habilidade natural de tocar de ouvido e cantar. Foi tudo muito natural — define Pezão.

Seu pai também era autodidata e tinha um querido cavaquinho, que tocava com afinação de bandolim.

— Quando ele saía, eu pegava seu instrumento, tirava as cordas, e colocava na afinação que queria para tocar. Depois voltava tudo para o lugar. Certa vez ele chegou mais cedo e viu. Olhou-me sério, e antes de brigar falou: ‘então toca pra eu ouvir’. Toquei um samba do Adoniran Barbosa. Ele disse: ‘o instrumento é seu’ — lembra.

— Passei a tocar pra valer em Campinas, onde nasci e fui criado. Com uns quinze anos de idade o maestro carioca Paulo Moura me ouviu tocando cavaquinho na Adega Florença, uma roda de samba que tinha aqui, e deu seu telefone, pedindo que o procurasse no Rio de Janeiro. Mas eu era muito menino e matuto, a vida parecia assustadora em outra cidade, longe da família, e não fui — comenta.

— Por essa época, inclusive, me chamavam de Pedrinho do Cavaquinho. Mas mudaram meu apelido e até hoje não entendo como isso aconteceu, só sei que foi engraçado. Costumava jogar futebol com os colegas e tinha um menino lá que não acertava uma. Tocava errado toda bola que recebia. Contrariado, comecei a dizer: ‘seu pezão, acerta esse pé, pezão torto’. Foi fatal (risos). A partir daí todos passaram a me chamar de Pezão e não teve como mudar isso — acrescenta.

Pezão tocou de ouvido até aproximadamente dezoito anos de idade, depois fez alguns cursos de música em Campinas e Tatuí. Do cavaquinho passou para o violão e com ele começou a conhecer e ter uma intimidade com as obras de artistas como Chico Buarque e Cartola.

— Fui crescendo no instrumento à medida que ia executando obras fantásticas desses brasileiros. E desde que comecei a explorar o violão de 7 cordas o adotei como meu instrumento. Mas acabo intercalando um pouco os dois, por gostar de interpretar artistas diversos. Alguns têm músicas que pedem um violão normal e outros o de 7 cordas, que é um instrumento muito bem trabalhado — explica Pezão.

— E uma grande influência para mim nessa área foi o violão do Ventura Ramirez. Também do Luizinho 7 cordas, que há uns quinze anos tive o prazer de conhecer e me tornar amigão do peito. Ele me passou algumas coisas do instrumento e várias partituras, o que me ajudou muito a ter uma intimidade com esse instrumento e adotá-lo. E segundo os entendidos, tenho feito uma coisa que não é tão fácil entre seus tocadores, que é cantar junto com a baixaria — comenta animado.

Esforços e vitórias

Há anos, Pezão vem lutando pela sua habilidade natural de tocar e cantar, paralelo ao trabalho de corretor de imóveis que realiza para sustentar sua família.

— Nunca deu para viver de música. Mas jamais deixei de me apresentar nas noites. Além disso, em 1980 gravei um vinil só com músicas de minha autoria. Por ter sido um disco independente, em época difícil, não consegui levá-lo muito longe. Também participei de vários festivais aqui pela região, ganhando alguns inclusive — conta.

— Igualmente, nunca deixei de fazer minhas composições. No começo fazia somente a música e meu parceiro Carlos Roberto Pimenta criava a letra. Ele continua a ser meu parceiro, mas de uns tempos para cá tenho feito algumas letras. Entre outras, já fiz sambas de vários estilos e baião de pé de serra, por uma influência que tenho do Jackson do Pandeiro, outro que ouvia muito quando criança. Componho também choros, e já tive a felicidade de ter minhas músicas gravadas. Por exemplo, a cantora Claudia Moreno gravou algumas — continua.

Perseverante, aos 56 anos de idade Pezão acabou de ingressar em uma faculdade de música e mantém como projeto dar uma base musical para muitos e até capacitá-los para o trabalho.

— São quatro anos de licenciatura em música. No final do curso pretendo trabalhar com jovens e crianças, dando aulas de teoria musical e prática, oferecendo um novo universo para eles. E assim também, passar para o adulto de amanhã conhecimento sobre a obra maravilhosa de grandes artistas brasileiros, principalmente aqueles que interpreto e conheço bem. E são muitos, porque gente talentosa é o que não falta nesse país — explica.

— Pretendo realizar esse projeto em Muzambinho, cidade do Sul de Minas, próxima a Guaxupé. Minha esposa é de lá, e coincidiu o prazo da minha formatura com a nossa aposentadoria. Já estamos com os filhos criados e encaminhados. Então chegou a hora de me dedicar só à música, e poder fazer algumas coisa pela cultura brasileira — continua.

Atualmente Pezão se apresenta, fixo, em Campinas, no Almanaque Bar, todo terceiro sábado do mês, e no Deck Sousas Bar, no último sábado do mês.

— Toco e canto músicas de Chico Buarque, João Bosco, Cartola, Nelson Cavaquinho, Paulinho da Viola e outros. Além é claro das minhas composições que já são conhecidas na área. O público costuma pedir as minhas músicas. Fico muito honrado porque são locais frequentados por um pessoal que gosta de ouvir a boa música — fala.

— Para me acompanhar tem o grupo Linha de Passe, que é o André no bandolim, Chiquinho no pandeiro, Juan e Ding Dong na percussão. São músicos maravilhosos, alguns deles também da universidade. São duas horas e meia de muita música boa — finaliza Pezão.

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