Orgulhando-se de ser um contador de histórias no rádio brasileiro, o pesquisador de música brasileira Osmar Frazão, tornou-se uma enciclopédia viva. No programa Histórias do Frazão, em palestras ou em qualquer outra parte, conta, com total naturalidade e improviso, detalhes sobre composições, autores e intérpretes e tudo aquilo que estava acontecendo na época da sua criação, com a intenção de passar o que sabe para o povo.
— Meu trabalho no rádio é resgatar a história da música popular brasileira. Mostro gravações originais nas vozes de Orlando Silva, Francisco Alves, Sílvio Caldas, Ataúlfo Alves, Ary Barroso, toco Ernesto Nazareth, Pixinguinha, Chiquinha Gonzaga, e muitos outros, e conto a história da música, do compositor, do intérprete, o que estava acontecendo no país na época, e o que mais surgir — explica Frazão.
— A finalidade é levar a cultura musical que conheço às pessoas, que com certeza querem aprender. Digo isso, porque recebo muitos telefonemas, entre eles, de jovens pedindo palestras. Recentemente estive na UERJ falando de música para estudantes universitários. Inclusive, defendo que deve existir uma cadeira de música popular na nossa universidade — continua.
Para fazer o programa, Frazão passa quase um dia inteiro selecionando 20 músicas do seu arquivo pessoal.
— Minha função é fazer o ouvinte aprender sobre essas músicas, e vejo isso como cultura, e uma maneira de prender as pessoas no interesse pela história da música brasileira. Não faço ‘fofoquinha de rádio’, porque isso é bobagem, basta dizer que o programa é o de maior audiência — fala.
— Tudo que sei, aprendi desde menino. Meu tio era compositor e meu pai um bom boêmio. E gostava de me levar para mostrar os lugares importantes da cidade, desde os meus 7 anos de idade. Assim fui tendo contato com os grandes nomes da música brasileira, que também frequentavam esses locais. Outros conheci nos programas de auditório do rádio, que ia com a minha mãe — acrescenta.
— Também procurava saber sobre a vida dos artistas que existiram antes: quem foi o Baiano da Casa Edison, e outros que muita gente nunca ouviu falar, mas que foram importantes dentro da história da música brasileira. Infelizmente não recebem o devido valor — diz Frazão, que está escrevendo um livro sobre a vida de Francisco Alves.
Da televisão para o rádio
Apesar da ligação com o rádio desde menino, começou sua vida profissional na televisão, em 1957.
— Era figurante na TV Tupi. Pra quem não sabe, figurante é aquele que entra mudo e sai calado (risos). Mas sabia do meu potencial e fui esperando até chegar a minha vez — conta.
— Atuei como ator ao lado de grandes nomes, entre eles: Sérgio de Britto, Fernanda Montenegro, Bibi Ferreira, Neide Aparecida, Aracy Cardoso, Aparecida Menezes, Almeida Castro, Grande Otelo, que para mim foi o maior artista brasileiro que conheci. Ele fazia de tudo e bem. Meu nome aparece, inclusive, no livro História da televisão brasileira, como um dos pioneiros — diz Frazão, que é citado em mais de 20 livros que falam de música.
No livro, Frazão conta fatos engraçados, curiosos, que aconteceram quando a programação era ao vivo.
— Tenho uma cicatriz acima dos olhos, até hoje, resultado de uma espadada que levei do Falcão Negro. Não era nada sério, mas se a pessoa bobeasse levava mesmo (risos). Até a década de 70 posso dizer que participei de quase todos os programas de televisão, entre eles, os famosos Balança, mas não cai e Escolinha do professor Raimundo, onde fiz um fanho — comenta.
— Cantei acompanhado do Pixinguinha, em 1962, na TV Tupi, durante dois meses, no programa Era uma vez no carnaval, produzido pelo Henrique Farias Domingues, o Almirante, uma figura muito importante da música brasileira. Eu ia para sua casa aprender músicas do início do século para cantar na televisão. E ele gostava de me aconselhar: ‘continue assim que você será um grande conhecedor de música’. Foram palavras maravilhosas de incentivo — lembra.
— O Almirante sempre me dizia também para nunca inventar uma história em cima da verdade, porque daqui há pouco ela se tornará mentirosa, e amanhã virará até uma piada — continua.
Apesar de ‘cantar direitinho’, como afirma, Frazão não quis ser cantor, gravando uma única música em sua vida, uma composição de carnaval, em 1968.
— Trabalhei também em diversas peças teatrais, inclusive na reinauguração do teatro Madureira, na década de 60, que já não existe novamente, e na última peça de teatro de revista com Virgínia Lane, Pega no ganzê… Bota pra ganzá, em 72, e fui jurado de programas de auditório, destacando o do Flávio Cavalcante, que me anunciou como ‘a enciclopédia da música popular brasileira’ — diz.
A partir daí Osmar Frazão começou a ser solicitado para falar de música, e dar sua opinião sobre determinados compositores. De 1995 a 2003, dirigiu a Rádio Nacional, alterando a programação no sentido de valorizar a música popular brasileira.
— Entre outras, trouxe o Adelzon Alves para cá e idealizei a volta do auditório. Hoje temos programas de auditório, muito bem apresentados e com grande número de pessoas participando, lembrando os tempos antigos — comenta.
Histórias do Frazão é apresentado na Rádio Nacional, AM, aos domingos, 9:00 às 11:00h, e reprisado nas segundas-feiras de 21:00 às 23:00h.
— Desde o meu início no rádio meu programa se chamou ‘Histórias da Música Brasileira’, mas, o atual diretor da Rádio Nacional, Cristiano Menezes, achou melhor trocar para Histórias do Frazão, para me dar oportunidade também de contar histórias do Rio de Janeiro, que sou um apaixonado. E outras ligadas a música — finaliza Osmar Frazão.
Para entrar em contato com o programa: www.historiasdofrazao.com.br ou [email protected]