Hoje mais do que nunca é possível entender todo o significado da afirmação de Lenin de que "o combate ao imperialismo é inseparável do combate ao oportunismo". A profunda crise que se abateu sobre o imperialismo não só pegou de surpresa os economistas serviçais do imperialismo como também toda uma pelegada de velho e novo tipos encastelada nas organizações sindicais. Tanto nos países dominantes quanto nos dominados, décadas de conciliação de classes domesticaram o sindicalismo a tal ponto que a escravidão assalariada repetiu a divisão entre os escravos do período escravista, ou seja, os escravos da senzala e os escravos da casa grande.
Tudo para salvar o capitalismo
Ao assumir o gerenciamento do Estado semicolonial brasileiro o oportunismo desdobrou-se na implementação das políticas impostas pelo imperialismo como, por exemplo, a quebra dos direitos trabalhistas e da legislação sindical; a desnacionalização do que restou do patrimônio público (vide os leilões do petróleo e as privatizações das estradas); o avanço do ensino privado; políticas sociais focadas na esmola; a anti-reforma do judiciário; etc. Isto sem se falar na medula da subjugação nacional representada pela entrega do Banco Central a um agente da oligarquia financeira internacional.
Segundo a publicidade dos monopólios de imprensa e dos governos mundo afora, tudo ia "muito bem" quando os primeiros sintomas da crise começaram a estremecer as praças financeiras. A reação do oportunista chefe, Sr. Luiz Inácio, foi soltar suas bravatas do tipo "a crise não vai atravessar o atlântico" ou "eles, os países ricos, é que criaram o problema, eles que o resolvam", o "Brasil está blindado contra a crise", que aqui só vai chegar uma "marolinha" e outras tontices do gênero.
Eis que de repente a crise se instala. Para socorrer suas matrizes as transnacionais fazem remessas vultosas de dinheiro para o exterior, de repente o balanço em transações correntes se inverte e o país passa a ter déficit, principalmente diante da fuga de capitais. A resposta dos lacaios de turno foi abrir os cofres do BNDES para socorrer as grandes empresas, reduzir o depósito compulsório dos bancos; financiar dívida em dólares das grandes empresas; colocar dólares nas mãos do agronegócio como antecipação dos contratos de exportação.
Todas estas medidas, de antes e as de depois de irromper a crise, receberam o beneplácito da frente de "esquerda" oportunista eleitoreira, que por sua ação vem contribuindo para aprofundar os ditames imperialistas em nosso país. Alarmados, os oportunistas queimam as pestanas em busca de salvar o capitalismo e, medida por medida vão demonstrando cabalmente a que vieram.
Frente às quase 800 mil demissões em dezembro, a gerência PT/FMI premiou as montadoras com a renúncia fiscal da redução/eliminação de IPI, sem que as empresas assumissem qualquer compromisso com a manutenção dos empregos. O que, na verdade, seguiu acontecendo foram mais e mais demissões ou os famigerados acordos de redução de horas trabalhadas com redução de salário. Mas, foi no caso Embraer que a fanfarronice foi desmascarada de imediato com a pacífica aceitação por parte do pelego mor Luiz Inácio das "razões" apresentadas pela Embraer, após ter declarado que as demissões eram um absurdo.
Nada com isso
Em nota divulgada em 10 de fevereiro último, a direção nacional do PT numa postura verdadeiramente velhaca faz de conta que não tem nada a ver com isso e busca retomar a sua demagógica pregação que por mais de vinte anos iludiu importante par-cela do povo brasileiro e que se re-velou com a assinatura da carta de subjugação nacional aos interesses da oligarquia financeira internacional, nas eleições de 2002 e que Luiz Inácio chamou de Carta aos Brasileiros, escondendo, assim, o seu verdadeiro destinatário.
Uma vez mais zombando da inteligência nacional, quando os próprios monopólios de imprensa assinalam a inexistência de qualquer oposição séria pelo DEM e PS DB, a nota quixotescamente chama ao embate ideológico como adversários exatamente aqueles que serviram de matriz para a prática petista no gerenciamento do velho Estado brasileiro nos últimos seis anos. A gerência PT/ FMI é nada mais nada menos do que a continuação do gerenciamento Cardoso/FMI mais a farofa. Escolher, portanto, estes pseudo-oponentes para a luta é, na verdade, fingir lutar. Tentam, os petistas e acólitos, escamotear o seu papel de oportunistas e serviçais das classes dominantes reacionárias, com o desplante de falar em aprofundamentos das mudanças. Que mudanças? Cadê? Tudo que fizeram e fazem estão exatamente no rumo de aprofundar a subjugação nacional pelo imperialismo.
A nota da direção petista apesar de admitir "crise geral do capitalismo" defende que os "impactos da crise não sejam da mesma natureza e magnitude em todos os países" insistindo dissimuladamente no que Luiz Inácio e ministros cacarejavam quando até para os economistas mais vulgares já era patente o caráter geral e mundial da crise. A crise é do sistema imperialista, esta é a sua natureza e os países que foram submetidos por este sistema mundial, se ainda não foram serão, inevitavelmente chamados a pagar sua cota de "sacrifício" para a saída da crise. Calcula-se que a crise deixará um rombo de seis trilhões de dólares. E de onde o imperialismo vai tirar os recursos para cobrir este buraco senão dos países dominados como o Brasil?
Em toda a resolução os petistas não falam do termo imperialismo e sim de "neoliberalismo", expressão cunhada pelos economistas serviçais da oligarquia financeira internacional, para passar a idéia de que o imperialismo deixara de existir, que o capitalismo era o fim da história. Assim apontam como característica da "economia neoliberal" "um novo processo de concentração de renda nas camadas mais ricas e pelo estímulo ao consumo das camadas mais pobres e das classes médias através do sistema financeiro, que lhes emprestava recursos impagáveis; por deixar a regulação da economia nas mãos dos agentes privados do mercado, em especial os grandes bancos, as grandes corporações e os grandes especuladores;…"
O que explica a ciência
Vejam só um, "novo processo de concentração de renda". Lenin, há quase um século, ao escrever sobre o lugar do imperialismo na história (capítulo X do Imperialismo Fase Superior do Capitalismo) já qualificara o imperialismo com as características que ele apresenta hoje, claro, de forma mais exacerbada: "Os monopólios, a oligarquia, a tendência para a dominação em vez da tendência para a liberdade, a exploração de um número cada vez maior de nações pequenas ou fracas por um punhado de nações riquíssimas ou muito fortes: tudo isto originou os traços distintivos do imperialismo, que obrigam a qualificá-lo de capitalismo parasitário, ou em estado de decomposição. Cada vez se manifesta com maior relevo, como uma das tendências do imperialismo, a formação de ‘Estados’ rentiers, de Estados usurários, cuja burguesia vive cada vez mais à custa da exportação de capitais e do ‘corte de cupões’. Seria um erro pensar que esta tendência para a decomposição exclui o rápido crescimento do capitalismo. Não; certos ramos industriais, certos setores da burguesia, certos países, manifestam, na época do imperialismo, com maior ou menor intensidade, quer uma quer outra dessas tendências. No seu conjunto, o capitalismo cresce com uma rapidez incomparavelmente maior do que antes, mas este crescimento não só é cada vez mais desigual como a desigualdade se manifesta também, de modo particular, na decomposição dos países mais ricos em capital (Inglaterra)."
E quanto ao "estímulo ao consumo das camadas mais pobres e das classes médias através do sistema financeiro, que lhes emprestava recursos impagáveis;", é com que pretendem esconder que o capital, em sua contradição insolúvel entre o caráter social da produção e a apropriação privada por uma minoria dos meios de produção e dos produtos, após esmagar os salários dos trabalha-dores, para fazer frente à tendência para a queda da taxa de lucros adotou há quase 4 décadas uma expansão dos créditos para fomentar o consumo, estimulando assim a ciranda financeira especulativa que conduziu à atual crise. Crise, cujas causas foram cientificamente explicadas por Marx, e que nada tem haver com as imbecilidades formuladas pelos assessores trotskistas e ditas pelo presidente, que culpam mega-especuladores de a ter provocado.
Descaramento e empulhação
Com a maior cara-de-pau atribuem à administração anterior a prática dos ditames "neoliberais" e se incluem numa vanguarda progressista latino-americana, que nada mais é do que a confissão de seu oportunismo: "A América Lati-na e Caribenha vive um momento especial de sua história: nunca tantos países foram governados por forças de esquerda e progressistas, onde estamos criando as condições para um desenvolvimento e uma integração de novo tipo, capazes de enfrentar e superar a crise em benefício das maiorias." E como prova de que são a ponta de lança da vanguarda, asseveram: "As medidas adotadas pelo Governo Lula para enfrentar a crise estão no rumo certo: mais investimento público, mais mercado interno, mais Estado e mais integração continental." Mais adiante são obrigados a reconhecer que não estão em rumo tão certo diante da "atitude inaceitável de grandes bancos que retraíram a concessão de crédito e aumentaram muito as taxas de juros, apesar da forte redução dos compulsórios" ou seja, os banqueiros fizeram ouvidos de mercador às ‘firmes medidas’ de Luís Inácio." Pasmem!!
(…) "Nosso programa, segue, deve desmascarar a proposta que os par-tidos conservadores e de direita fazem, que combina neo-liberalismo com desenvolvimentismo conservador. O Brasil já experimentou fortes surtos de desenvolvimento, mas sempre marcados pelo conservadorismo político, pela desigualdade social e pela dependência externa. Não que- remos isto de volta. Queremos um desenvolvimentismo popular, que exigirá aprofundar o que foi feito nos últimos anos, com destaque para as reformas tributária, política, urbana, agrária, o apoio à pequena e média empresa e a democratização da comunicação social, entre outras medidas"(negritos nossos). É assim que a demagogia petista se manifesta. O programa e o discurso, mesmo sendo uma porcaria reformista burguesa, são uma coisa, outra é sua prática de lacaios e bajuladora do imperialismo, da burguesia e dos latifundiários.
Esta resolução da direção nacional petista, na verdade, abre nova rodada de demagogia e bravatas para tentar arrebanhar incautos com vistas às eleições de 2010. Ela deu o sinal para que Luiz Inácio, numa demonstração de como se faz a interseção entre a ignorância e a má fé, fizesse um discurso num seminário do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, realizado no dia 5 de março último, onde teve a astúcia de citar o Manifesto do Partido Comunista de Marx e Engels. Eis um trecho da nota divulgada pelo sítio do PT no mesmo dia que reproduz a peroração demagógica do oportunista:"O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a defender nesta quinta-feira (5), durante seminário sobre a crise internacional no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, o fortalecimento do Estado, a regulamentação do sistema financeiro e os investimentos sociais como ferramentas para a recuperação econômica dos países. ‘Chegou a hora da verdade e da política. Não tem contemporização (…). Agora é hora da gente aproveitar a crise e fazer o que não tivemos coragem de fazer nos últimos 20 anos’, afirmou, lembrando que o manifesto comunista de Karl Max e Engels, publicado em 1848, já dava a receita para saída de crises como esta.(…)
Vejamos até onde vai o cinismo e o descaramento: "Houve, nas últimas décadas, afirma Luiz Inácio, quase uma apatia. As pessoas eram eleitas sob a égide de que o Estado não valia nada e tudo seria feito pelo mercado. Era preciso diminuir e enxugar o Estado, porque o Estado atrapalhava o crescimento". Até aí é o mesmo cinismo de desde quando vestiram a casaca. Já, pretender o testemunho do Manifesto Comunista de Marx e Engels para tentar escamotear a prática nefasta de 6 anos continuísta da anterior e fazer a defesa do fortalecimento (reestruturação) do velho Estado burguês-latifundiário serviçal do imperialismo, principalmente ianque, para impulsionamento do capitalismo burocrático caduco e anacrônico com seus "bolsas-família" e ganidos patrioteiros, é o cúmulo da empulhação.
A saída é a Revolução
Para o capital, e particularmente para o imperialismo, a saída da crise só é possível lançando-a mais adiante. Ou seja, destruindo formidável quantidade de forças produtivas (quebra de muitas empresas, demissão massiva e guerras de partilha e saqueio). Para a classe operária e as massas populares a única saída é só abolindo o sistema de exploração através da revolução para construir a nova sociedade socialista. Ao contrário das mistificações do discurso demagógico de Luiz Inácio à platéia de patetas do "Conselho de Desenvolvimento Econômico Social" ao citar o Manifesto do PC, o que seus autores afirmam inconfundivelmente (que nunca é demais repetir) é a necessidade da "…derrubada violenta de toda ordem social existente".
Por fim, criticando a verborragia dos oportunistas, Lenin em O Estado e Revolução afirmou que "Os democratas pequeno-burgueses, esses pseudo-socialistas que substituíram a luta de classes por suas fantasias de harmonia entre as classes, fizeram da transformação socialista uma espécie de sonho: para eles, não se trata de derrubar a dominação da classe exploradora, mas de submeter paulatinamente a maioria à minoria consciente do seu papel. O único resultado dessa utopia pequeno-burguesa, indissoluvelmente ligada à idéia de um Estado por cima das classes, foi a traição dos interesses das classes laboriosas, como o provou a história das revoluções francesas de 1848 e de 1871, como o provou a experiência da participação ‘socialista’ nos ministérios burgueses da Inglaterra, da França, da Itália e de outros países, no fim do século XIX e começo do XX. E, completemos, dos atuais gerenciamentos do tipo Chávez, Morales, etc. na América Latina, do início do século XXI, denominados de "esquerda" por eles mesmos e demais analistas burgueses.
Como podemos ver no parâmetro histórico, essa canalha oportunista, como bem acertadamente gostava de os denominar Marx e Lenin, como as de antanho, delira agora em superar a crise do capitalismo com seu receituário burocrático-burguês pomposamente chamado de "desenvolvimentismo popular". As palavras de Lenin não se verificam atualíssimas? Cabe aos verdadeiros revolucionários aproveitar este momento auspicioso de crise do imperialismo para atacá-lo e desmascarar a fundo todo o oportunismo de seus novos lacaios de turno, lutando decididamente para mobilizar, politizar e organizar as massas com o programa da revolução democrática ininterrupta ao socialismo.