Paraguai: Povo sai às ruas contra Estado entreguista

Paraguai: Povo sai às ruas contra Estado entreguista

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Assunção
– Desde o dia 21 de maio passado, o povo paraguaio iniciou um processo de lutas contra as privatizações no país. Uma ampla aliança de organizações sociais, políticas e sindicais se conformou através de um Congresso Democrático do Povo para lutar por seis pontos, sendo o principal deles, contra as privatizações.

Em várias regiões do país, os paraguaios saíram às ruas, pela revogação da lei 1.615, que permite a privatização das estatais, e que o governo, obedecendo as receitas do FMI e do Banco Mundial, tenta entregar ao capital privado. O segundo ponto era contra a reforma dos bancos públicos, cujo objetivo era potenciar setores financeiros especulativos; o terceiro, contra o projeto de lei anti-terrorista. O quarto ponto era contra o projeto de lei de concessão de estradas, que visava privatizar todas as vias de comunicação terrestre do país; o quinto era contra o imposto agropecuário (IVA) e o sexto, contra a impunidade e a corrupção, que atinge todas as estruturas do Estado.

A partir desta data, a luta das massas exploradas e oprimidas se desenvolveu muito. Em toda parte, o povo, mas em particular, os camponeses, realizaram cortes intermitentes de estradas, sendo que muitos ativistas foram presos durante as mobilizações. Em San Pedro, San Patrício, Caaguazú, Concepción, Curuguaty, entre outras cidades, aos camponeses se uniram os professores, os estudantes e os operários. E o movimento se converteu numa ampla e massiva mobilização política dos setores mais explorados do povo paraguaio, que pressionava não por reformas, mas por mudanças no poder.

A base concreta para o desenvolvimento desta grande mobilização popular é a crescente crise econômica e social no país e a decisão do governo de privatizar as empresas públicas, para atender aos interesses imperialistas. E a situação foi "esquentando" na medida em que o governo do presidente Luis Gonzalez Machi se debilitava e a moeda nacional, o guarani, se desvalorizava. Situação que se tornou mais crítica com a decisão do governo de, aprovar, aceitando a pressão do imperialismo norte-americano, a lei antiterrorismo, a ser aplicada contra o povo paraguaio. Esta lei, de caráter repressivo comprova a crescente fascistização do Estado paraguaio.

O povo paraguaio iniciou uma luta que vai além da luta contra a pobreza, pela posse da terra, pela reativação econômica, saúde e educação. Suas exigências, hoje, dizem respeito à mudanças profundas na sociedade paraguaia. 

Camponeses enfrentam exército paraguaio

Durante as mobilizações, várias unidades do exército prenderam, em Mbutuy e Tacuara, centenas de camponeses que se dirigiam à capital, Assunção. Em contrapartida, cerca de dois mil camponeses, com apoio dos estudantes e professores da cidade de Curuguaty se colocaram às portas do quartel do Primeiro Corpo do Exército para evitar que os soldados saíssem e tivessem uma participação ativa na repressão ao povo em luta.

O Congresso Democrático do Povo apresentou à Câmara dos Deputados um pedido de esclarecimento sobre a atuação das Forças Armadas na repressão ao povo, já que, mesmo sem a declaração de uma "situação de exceção", vários povoados foram sitiados como foi o caso de Araújo, Santa Rosa-mi e Pirapey.

Em Missiones, os militares prenderam mais de 150 camponeses e estabeleceram um "semi" estado de sítio, impedindo a realização de qualquer reunião ou assembléia. Numa comunidade do estado de Itapúa, localizada cerca de 400 quilômetros ao sul da capital paraguaia, um dirigente camponês denunciou que militares, apoiados por helicópteros de guerra, prenderam quase cinqüenta camponeses, entre eles, mulheres e crianças.

Oviedo manipula a revolta da massa

É neste quadro de uma crescente insatisfação popular que surgiram grandes manifestações pedindo a renúncia do presidente Luis González Macchi. Estas manifestações sacudiram o Paraguai no final do mês de julho e deixaram um saldo de dois mortos e mais de cinqüenta feridos. As pontes que ligam o Paraguai à Argentina e ao Brasil foram fechadas e o presidente Macchi, mais uma vez, utilizou as Forças Armadas para reprimir os paraguaios, declarando um estado de exceção que durou cinco dias.

Mas os fatos comprovaram que o general Lino Oviedo estava por trás desta campanha pela renúncia do atual presidente paraguaio. Numa clara manipulação da revolta popular com o crescimento do desemprego, da pobreza e da miséria no país, Oviedo tentou dar um novo golpe político. Com a saída do presidente Macchi, o vice, Julio Cesar Franco, do Partido Liberal, de oposição, assumiria o cargo e novas eleições seriam convocadas, quando então ele buscaria construir uma posição favorável a ele próprio e a seu movimento de "União Nacional de Cidadãos Éticos".

Vivendo no Brasil desde o ano de 2000, depois de ser condenado a dez anos de prisão por uma tentativa de golpe de Estado, em 1996, Oviedo é acusado também de ser o mandante do assassinato do vice-presidente do Paraguai, em 1999. Se ele, por um lado, buscou criar um clima de instabilidade para forçar a renúncia do presidente, de modo a servir a seus projetos pessoais; por outro, não pode evitar a conscientização do povo, que segue em sua justa luta.

A Federação Nacional Camponesa (FNC) divulgou um comunicado, no qual expressa sua disposição de prosseguir combatendo. Em relação ao processo iniciado contra a entrega do patrimônio nacional, "não permitirá que forças de caráter fascista tentem levar este processo até seus obscuros interesses". A FNC deixa clara sua posição em relação à utilização das Forças Armadas como "uma mostra mais de parte deste governo corrupto e servil, que tenta utilizar todas as forças do Estado e colocá-lo a serviço do FMI, do Banco Mundial e contra o povo."

Por sua vez, o Congresso Democrático do Povo, em comunicado à imprensa, ressaltou a vitória popular parcial pelos objetivos propostos e destacou a disposição das organizações de seguiram com sua jornada de lutas e protestos contra a política de subserviência ao FMI, Banco Mundial e às classes dominantes do país.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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