Brasília – Enquanto o presidente Luiz Inácio (PT-SP) fala em dar jeito à fome no país e, agora, no mundo, viajando por quase todos os países existentes no planeta, o Brasil expõe seus frangalhos. Reportagem publicada na Folha de São Paulo, já em 31 de janeiro, mostrava que “apesar de ter feito cortes no Orçamento, reduzido os investimentos e conseguido um superávit entre receitas e despesas maior do que o acertado com o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Brasil acabou o ano de 2003 com uma dívida pública R$ 32 bilhões maior”.
Essa dívida é de R$ 913 bilhões, correspondente a 58,2% do PIB (Produto Interno Bruto), soma de todas as riquezas produzidas. Impossível saldar tal débito! O país caminha para a bancarrota, para explosão social de magnitude impensável. A dívida pública, na sua progressão geométrica revela que em 2002, ainda na gestão Cardoso, o percentual do débito correspondia a 55,5% do PIB. Subiu 2,7% em apenas um ano de “governo” de Luiz Inácio.
Em 2003 (primeiro ano da administração petista), o Brasil pagou cerca de R$ 220 bilhões aos banqueiros. Foram R$ 145 bilhões para os juros da dívida interna e R$ 75 bilhões (US$ 25 bilhões) para os da dívida externa.
A Folha fez, inclusive, apanhado referente aos R$ 145,21 bilhões pagos em 2003, com o seguinte quadro comparativo:
Esse dinheiro equivale a “4,9 vezes os gastos de 29,4 bilhões do Ministério da Saúde; 6,8 vezes os gastos de 21,3 bilhões do Ministério da Educação; 31,5 vezes os 4,6 bilhões gastos pelo Ministério dos Transportes; 41,4 vezes os 3,5 bilhões gastos com o programa Saúde da Família e, finalmente, 80,7 vezes o orçamento do programa Fome Zero, de 1,8 bilhão de reais.”
Durante a campanha eleitoral, o então candidato disse que iria fazer auditoria nas dívidas interna e externa, pois “não se tem como financiar banqueiros e multinacionais com o sangue do povo brasileiro.” Agora, elogiado nos países do chamado primeiro mundo, Luiz Inácio esqueceu a promessa e de tantas outras, inclusive não dando início à geração dos dez milhões de empregos.
E, embora não tenha feito absolutamente nada, é sempre contemplado com prêmios internacionais, à maneira do antecessor. Os prêmios são conferidos por países sedes de multinacionais que agora possuem as estatais brasileiras “privatizadas”.
Em Genebra, Suíça, o presidente francês, Jacques Chirac, deu o nome de Fundo Lula à reserva mundial que pretende arrecadar recursos para eliminar a fome no mundo.
Com Cardoso, mimado como intelectual (para quem?), ele entregava tudo aos países do G-7 em troca de comendas e honrarias. Vivia constantemente de espinha curva, correndo o risco de ser vitimado por escoliose ou lordose.
O presidente anterior “privatizou” tudo, ou quase tudo. Desnacionalizou a economia em 78%, acabando com os empregos. Acobertou até mesmo seu filho, Paulo Henrique, envolvido nas mais altas negociatas e falcatruas da República, com participação direta no escândalo de entrega da Companhia Vale do Rio Doce (CVRD). E o candidato petista, que protestava contra tudo e contra todos, passou uma esponja nas promessas antes de assumir o posto.
Caminhos previsíveis
Está clara a impossibilidade de saldarem as dívidas interna ou externa. As duas são frutos de manobras contábeis, manipulação de números, agiotagem. Luiz Inácio, de avião novo, pensa mesmo que é presença indispensável e insubstituível no resto do mundo.
Com auxílio do seu excessivo limite intelectual, assina papéis que não compreende e promove atentados à cultura política em escarnecidos improvisos.
Luiz Inácio, discursando no Palácio do Planalto em princípios de fevereiro, cometeu mais outra séria gafe ao se referir ao governador Wellington Dias (PT), do Piauí, estado que se encontra literalmente debaixo d’água:
“O governador Wellington está aqui por causa das enchentes? Ficou com medo de morrer afogado?” Sobre a cabeça de mais de 200 pessoas presentes ao evento desceu um silêncio sepulcral. Mas Luiz Inácio consertou:
“Vamos pedir a Deus que diminua as chuvas nas cidades e aumente um pouco no campo.”
O mais importante é que essa atitude revela apenas similaridade no modo de agir dos insensíveis “homens públicos”, tanto os chamados “cultos” e os reconhecidamente incultos.
Cardoso, na sua gestão presidencial (1995-2003), quando Roraima ficou mais de seis meses ardendo em chamas pela irresponsabilidade dos latifundiários — que impunemente incendeiam matas e florestas para o pasto— não foi uma única vez ao local tomar conhecimento do drama vivido pela população.
Preferia passar finais de semanas em Camp David, com Bill Clinton, ou agindo como serviçal dos comandantes do chamado primeiro mundo, enquanto seu filho, Paulo Henrique, tomava parte em negociatas que destruíam a economia brasileira, doando estatais e recursos naturais com financiamento pleno do BNDES. Terminada a gestão, Cardoso continua por aí, serelepe, sem responder por nenhum dos gravíssimos crimes cometidos.
Eterno retorno
Cardoso, que desnacionalizou a economia em 78% escreveu recentemente no jornal O Globo, citando George Soros, que “a especulação irá explodir e arrastar a tudo.”
Todos sabemos que a bandalheira não começou no “governo” petista (cada “administração” dá sequência à anterior) e que a miséria nacional não surge da noite para o dia. Ela finca raízes no mal da escravidão (nunca resolvido), passa pelo mando das classes dominantes nativas e despreparadas, atravessa 21 anos de gerenciamento militar (1964-85), e as crises mais que deságuam todas nos estertores do capitalismo da etapa apodrecida.
O problema é que Luiz Inácio — muito enfático nas quatro campanhas eleitorais em que participou prometendo mundos e fundos, céu e terra, para se repetir na mesmice incongruente — assim que colocou os pés no palácio anunciou-se pai dos pobres e mostrou-se cúmplice dos ricos.
Em 1987, num comício realizado em Aracaju (como bem lembrou o jornalista Augusto Nunes), Luiz Inácio, então deputado federal, dizia o que a população queria ouvir, na sua terceira corrida pela cadeira presidencial:
Nós somos um país aonde quem manda aqui, apesar de Tiradentes ter morrido pela nossa independência, a nossa independência ainda não chegou aqui porque ficou na conta dos banqueiros internacionais; porque um país que deve 110 bilhões de dólares não tem independência. O governo brasileiro enche o rabo dos banqueiros de dinheiro do nosso sangue, do nosso suor.
Hoje, com Henrique Meirelles no Banco Central, manipulando o dólar para que se eleve artificialmente, no interesse dos EUA, Luiz Inácio sepultou aquele discurso de Aracaju. Ali, insistia:
O dinheiro que o governo tá pagando aos credores internacionais daria para construir três milhões e meio de casas populares, daria para construir hospitais, daria para construir ruas, daria para construir escolas, daria pra matar a fome da maioria das nossas crianças que hoje mendingam (sic) na rua.
O presidente na época, José Sarney (1985-90), a quem Luiz Inácio só chamava de “ladrão”, hoje é o seu maior aliado. Dele foi dito:
Nós sabemos que antigamente se dizia que Ademar de Barros era ladrão, que Maluf era ladrão, mas eles são trombadinhas perto do grande ladrão que é o governante da nova República, perto dos assaltos que se faz.
Luiz Inácio sequer desconfia que as coisas vão e voltam, tal qual bumerangue. O que ele pregou se encontra registrado, gravado em documentos e na memória, pronto para as exigências de liquidação da fatura.
A descoberta de Cristóvam
Ao julgar pelo que aconteceu ao senador Cristóvam Buarque, ex-governador do Distrito Federal (1995-99), seria lógico que ele se desligasse do PT.
Mas Buarque se insere naquela categoria bem definida pelo falecido ex-deputado federal Francisco Julião (PSB-PE), quando se referiu ao ex-governador pernambucano Paulo Guerra (1963-67):
Um ser que a todos serviu, sem jamais deixar de ser vil.
O que é dito e escrito por Cristóvam, como o dito e escrito por Cardoso, deve ser apagado. No desastre da gestão tucana, fazia parte da oposição consentida. Falava mal do presidente pela manhã e frequentava o Alvorada à noite, quando todos os gatos são pardos. Defendeu a permanência da equipe econômica de sua ex-excelência, em 1998, caso Luiz Inácio ganhasse a disputa daquele ano.
Atuando como porta-voz do especulador internacional George Soros, cujo livro prefaciou, dizia que a permanência de Pedro Malan, Armínio Fraga e seguidores, em pelo menos seis meses, “seria de fundamental importância para uma transição sem trauma”. Poucos entenderam, à época, quando efetuava viagens internacionais a granel.
Mal sabia que Washington iria se articular, no pleito presidencial seguinte, para enviar Henrique Meirelles, que presidiu o Bank Boston. A CPI do Banestado, aliás, descobriu lavanderia de dinheiro completa na presidência de Meirelles. E ele viria aplicar, no “governo” Luiz Inácio, arrocho econômico ainda mais grave, mergulhando o país por inteiro na inviabilidade.
Cristóvam se apega à megalomania compulsiva e se nutre na mentira. Vive indizíveis delírios. De tanto repeti-los, termina por transformá-los em reais. Como Cardoso, enxerga-se com paramentos, borla, adornado, cheio de atavios, adentrando academias e sendo reverenciado por sapiência invulgar.
Afirma, no que é contestado, possuir barretes doutorais, títulos concedidos por leque de universidades que engloba, desde a Sorbonne francesa, até a Universidade Federal de Pernambuco, passando pela Faculdade de Direito de Caruaru (onde se graduou o ex-ministro da Justiça Fernando Lyra, de quem foi chefe de gabinete).
Ocorre que, ao apregoar tais lauréis, suscitou polêmica das mais graves: o também ex-reitor da UNB (Universidade de Brasília), professor José Carlos de Azevedo, possui documentos provando que Cristóvam não é doutor em coisa nenhuma. E não se trata de simplesmente diminuir a conquista doutoral de quem quer que seja, mas de mostrar que um cidadão público proeminente afirma deter láurea que na verdade não possui. Confrontado na desmentidura, jamais se dignou a esclarecer.
Cristóvam foi demitido por telefone, quando passeava em Lisboa. Cristóvam vivia fazendo oposição ao governo, dentro do governo, tentando se viabilizar para a próxima disputa presidencial. Esse bem aplicado golpe do momento o deixa imobilizado.
Maldita fita
Não tivessem gravado o vídeo arrasador, Diniz ainda estaria no quarto andar do Palácio do Planalto, ao lado do presidente Luiz Inácio. Ele é escroque juramentado que conta com importantes e decisivos apoios. E sabe de muitos segredos.
Agora (quem diria?!), o PT nas mãos de Jorge Bornhausen, presidente nacional do PFL, e Joaquim Roriz (PMDB), governador do Distrito Federal. Este último aguarda julgamento no STF (Supremo Tribunal Federal), capaz de levá-lo à cassação. E seu concorrente, o derrotado Geraldo Magela (PT), apesar de acionar Roriz judicialmente, por utilização de dinheiro público na campanha, recebia R$ 100 mil mensais da contravenção.
Zé Dirceu afirma que o caso aconteceu “antes do governo Lula”, o que o deixaria isento. Não se refere à negociata no contrato firmado entre a multinacional Gtech e a Caixa Econômica Federal, intermediada no governo petista por seu apadrinhado político, ora jogado pela janela.
Não revela as razões pelas quais elevou o cidadão de péssimas referências, rodeado de escândalos dos mais variados naipes. Posa de inocente, mas dividiu, durante algum tempo, o mesmo apartamento com Waldomiro Diniz. Não o conhecia?
Recentemente, na Câmara Legislativa do Distrito Federal, foi criada CPI para apurar roubalheiras praticadas pelo governador Roriz. Que só foi possível por conta do apoio de duas legendas aliadas: PT e PCdoB. Agora, em represália, o PMDB vai criar outra CPI na Câmara, dessa feita para investigar as relações promíscuas entre Waldomiro Diniz, o governo Cristóvam Buarque (1995-99) e o candidato à sua sucessão, Geraldo Magela, pego com a mão na botija.
Diniz foi responsável pela articulação política da gestão Cristóvam com a Câmara Distrital. Uma abertura de CPI faria emergir quase tudo de podre do período, alcançando o Planalto. A decisão está nas mãos de Roriz e do PT. Se Zé Dirceu sair do Planalto, a frágil estrutura governamental se desmonta. Os dirigentes petistas buscam de forma desesperada estancar as investigações.
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