Paulista da viola ao samba

Paulista da viola ao samba

Compositor, cantor, instrumentista e pintor, Marco Antônio Villalba, o Passoca, apelido adquirido na infância, é um autêntico representante da cultura paulista da viola e do samba. Pesquisador e pensador da cultura nacional, tem reunido em sua discografia composições próprias, homenagens a música caipira tradicional e músicas inéditas de Adoniran Barbosa. Com mais de 30 anos de carreira, mantém-se firme na música cultural, sempre acrescentando uma poesia e um arranjo àquilo que já é bom.

Passoca nasceu em Santos, litoral de São Paulo, mudando-se ainda na infância para Ribeirão Pires, bem próxima da capital.

Sou envolvido com música desde pequenino. Cheguei a pegar a antiga vitrola e os discos 78 rotações. Também peguei o final da boa época do rádio brasileiro e dos programas de auditórios que apresentavam musica de qualidade — conta Passoca.      

—iCom 12 anos comecei a aprender tocar violão e bateria. Era a época da Bossa Nova, do Brasil campeão do mundo, da arquitetura do Oscar Niemeyer, e dos festivais. Participei de muitos festivais de músicas na minha escola até terminar o antigo científico, ganhando alguns prêmios lembra.

Desde a adolescência Passoca tocava em bailes e fazia suas primeiras composições, ainda sem intenção de estilo. Mas acabou ingressando na faculdade de arquitetura. Porém foi lá, tentando ser outra coisa, que começou a se tornar músico profissional.

Encontrei uns amigos na faculdade que tinham comigo a afinidade musical e formamos um conjunto, nos reunindo na faculdade e na república. Trocávamos idéias, fazíamos músicas e nos apresentávamos em alguns lugares, mas ainda sem compromisso, assim pelo prazer de tocarrelata.

Apesar de não ter muitas intenções, o grupo acabou se apresentando bastante em São Paulo, e gravando um disco em 1974. Tínhamos uma fusão de influências da música popular brasileira. O que mais gostávamos de fazer era pegar a música regional paulista e acrescentar a ela as informações contemporâneas, juntando a viola, os violões, cavaquinhos, flautas, clarinetes, dando uma sonoridade muito bonita, que de certa forma, mantenho até hoje — acrescenta.

Passoca é um artista ligado à vanguarda paulistana, mas com um sentimento do mato, do interior. Costuma incluir elementos novos na música tradicional, mas sempre respeitando a obra original, mantendo a simplicidade e beleza poética e musical que tanto ama.

Depois que o grupo se desfez, porque cada um preferiu seguir seu caminho, parti para minha carreira solo, e com a ajuda do Renato Teixeira, que me levou até a gravadora, gravei meu primeiro disco, Que Moda, 1979, com composições de estilo caipira e influências urbanas — diz.

Em 1982/83 gravou o Sonora Garoa. Depois fez trilhas sonoras, e viajou pela Europa apresentando-se em vários lugares, juntamente com outros artistas brasileiro. Em 1990 gravou o cd Sabiá no Galho.

Fiz muitas apresentações em programas de televisão que valorizam nossa música, como o do Rolando Boldrin e da Inezita Barroso. Até hoje participo vez ou outra desses programas maravilhosos comenta.

Em 1997 gravei uma antologia da música de viola Breve História da música caipira, com clássicos bem antigos, de artistas importantes como Raul Torres, João Pacífico, Alvarenga e Ranchinho, Laureano, entre outros. Em 2000 Passoca descobriu um material inédito de Adoniram Barbosa e gravou o cd Passoca canta inéditos de Adoniram Barbosa.

Canto samba também, porque o paulista tem como característica gostar de viola e samba. Não é só a viola, como algumas pessoas pensam. Então, como sinto que represento o paulista na imenso universo brasileiro, desejei gravar Adoniram, que é um caipira no samba da terra da garoa explica.

Posteriormente gravei um disco com obras de um   outro compositor muito importante no universo paulistano, este da música caipira, o João Pacífico. O trabalho mais recente de Passoca é o dvd Violeiros do Brasil, que faz parte de um projeto que já gerou um cd e um livro também. Passoca participa juntamente com Almir Sater, Ivan Villela, Tavinho Moura e outros nomes.

Apesar do grande talento, assim como todos os artistas que seguem o caminho da legítima música popular, Passoca não tem espaço na imprensa, mas mantém-se firme, com um trabalho de qualidade, em mais de 30 anos de carreira.  

Costumo me apresentar em teatros, centros culturais, Sescs, e outros lugares que abrem espaço para minha música. Nunca toco em rodeios, por exemplo, porque são lugares de somente barulho. Um espaço para a música sertaneja comercial, o que não é a minha 'praia' — comenta.

Trabalho com a cultura caipira, com o poeta, e formas de expressão ligadas ao popular cultural. Os violeiros são os cantadores. Nós temos nossa origem mais ligada a Idade Média, ao cantador, trovador, e continuamos mantendo essa tradição — defende.

A música sertaneja comercial está mais próxima da balada. Artistas como Zezé Di Camargo e Luciano, e outros, estão mais ligados a história do Roberto Carlos. Nada de caipira, é outra coisa explica.

Passoca concluiu a faculdade de arquitetura, mas nunca exerceu a profissão, dedicando somente a música e também a arte de pintar.

Gosto de pintar e há muito me dedico também a essa arte. Tenho bastante coisa pronta, tanto que pretendo fazer uma exposição das minhas pinturas. Fazer um projeto integrado entre música e as pinturas, o que canto e o que   desenho. Faço a pintura brasileira, a pintura popular, bem coloridas, a paisagem — conta, acrescentando que também não para de compor.

No momento estou trabalhando o projeto que é uma retomada do meu trabalho de compositor, depois desses últimos como intérprete. E tenho muito material novo para apresentar — avisa com alegria.

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