Operários decidem, em assembléia, pela continuidade da greve
A superexploração e ganância patronal, reforçada pela repressão desencadeada contra os operários no complexo industrial e petroquímico de Suape, não arrefeceu o ânimo e a combatividade dos trabalhadores.
Nos canteiros de obras, Odebrecht, Camargo Correia, Queiros Galvão, Galvão e Pampulha Engenharia, entre outras grandes empresas, imprimem ritmo desumano de trabalho.
Os operários denunciam constantes humilhações e abusos cometidos pelos patrões e capatazes das empresas nos canteiros:
— Somos chamados de cachorros por encarregados, gerentes e patrões — protesta um operário na fila para o almoço, acrescentando em seguida — Quando reclamamos, do péssimo tratamento, das horas extras que quase nunca pagam e das péssimas condições de trabalho, eles gritam com a gente coisas como: “vocês eram cortadores de cana, passavam fome e hoje tem profissão e salário, tão reclamando de que? Até fardinha vocês tem.” Veja que absurdo! — indigna-se o trabalhador.
Solidariedade de classe
No dia 1º de março uma comissão de solidariedade esteve em Suape. Dela participaram o Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belo Horizonte, o Marreta; o Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos — Cebraspo; Movimento Estudantil Popular Revolucionário — MEPR; Liga Operária e Liga dos Camponeses Pobres de Pernambuco, entre outros ativistas do movimento sindical e popular.
Durante toda manhã AND percorreu os canteiros de obras junto à comissão. Ouvimos as denúncias dos trabalhadores, enquanto um grupo de operários distribuía panfletos entre os trabalhadores do complexo e debatia os caminhos da luta.
Através dos relatos dos operários de Suape, constatamos a cruel situação de exploração e o nível de opressão impostas pelas construtoras.
Enquanto percorríamos as obras, um operário telefonou para um membro da comissão de solidariedade e disse:
— O encarregado da Odebrecht chamou os trabalhadores que falaram com vocês em um dos canteiros e disse que não podíamos deixar o serviço para estar jogando conversa fora, que a partir de agora estava proibido falar com a comissão. Perguntou se nós conhecíamos vocês, falou que vocês eram “gente perigosa”. Ele também disse que se quiséssemos falar alguma coisa, tínhamos o “nosso” sindicato para isso, o Sintepav. Ele ameaçou os trabalhadores dizendo que “senão já sabemos o que pode acontecer”.
Na edição nº 75 de AND foi relatada a situação dos operários de Suape e sua luta. Os trabalhadores denunciaram que o Sintepav vem fazendo durante todo tempo um trabalho desagregador e pró-patronal, tendo acusado o dito sindicato de utilizar capangas contratados para reprimir protestos, tendo inclusive atirado contra operários e assassinado um deles, durante um protesto em 11 de fevereiro.
No dia 4 de março a comissão de solidariedade foi até o Hospital Português no Recife para visitar Tiago Ramos de Souza, operário ferido por um disparo na boca durante os protestos de 11 de fevereiro, quando os operários obstruíram a principal estrada de acesso ao complexo.
— A Odebrecht internou o operário nesse hospital, claro, para se livrar de processos trabalhistas ou criminais caso ele morra ou fique com sequelas. Também pretende descaracterizar a tentativa de assassinato do trabalhador tentando fazer passar seu ferimento à bala como sendo um “acidente de trabalho” — declarou Osmir Venuto, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Construção de Belo Horizonte-MG.)
— Crimes como esse são mais corriqueiros do que se imagina. Os patrões, contando com a cumplicidade de sindicatos pelegos, assassinam sistematicamente trabalhadores em todo o país nos seus canteiros. Impõem um ritmo frenético de trabalho e provocam uma verdadeira matança e mutilações de operários nos canteiros de obras — denuncia ainda Osmir.
No Hospital Português formos informados que “o paciente Tiago Ramos de Souza teria recebido alta médica, após ter passado por cirurgia, e que a assistente social da Odebrecht exigiu sigilo absoluto sobre o assunto, que não tinha mais nada a dizer”.
Novas lutas se avizinham
No dia 3 de março recebemos a denúncia de que mais de 2 mil operários envolvidos nas obras de construção da refinaria Abreu e Lima e na terraplanagem das estradas do complexo foram demitidos em Suape. Os operários são desrespeitados, não há cumprimento de direitos trabalhistas, são constantes as ameaças. Novas lutas se avizinham. Os membros da comissão de solidariedade se colocaram à disposição para apoiar decididamente a luta dos operários de SUAPE.