No final da tarde do dia 11 de junho, policiais do 22° Batalhão da PM do Rio invadiram a favela Nova Holanda, no subúrbio da cidade, e promoveram um verdadeiro massacre. Segundo moradores, os policiais entraram na favela atirando para todos os lados e assustando centenas de trabalhadores que chegavam em casa após mais um cansativo dia de serviço.
Chacina na Nova Holanda: enterro de Deividson Pacheco, de 19 anos
A operação começou na Rua Santa Rita, onde funciona uma modesta barbearia. Ao passar pelo local, os policiais começaram a atirar em direção ao estabelecimento, atingindo seis pessoas: Alexsandro de Oliveira Nascimento, 22 anos, Rodson Soares Gomes, também 22 anos, Gilberto dos Santos, 35 anos, Deividson Evangelista Pacheco, 19 anos, Paulo Cardoso Batalha, 47 anos, e seu filho Gabriel Batalha, de 5 anos. Paulo estava com o menino no colo cortando o cabelo no momento em que foi atingido na cabeça. O frentista morreu na hora e o menino Gabriel, atingido na mão, está internado no Hospital Geral de Bonsucesso e corre o risco de perder os dedos.
Aluno do Ciep Yuri Gagarin, o jovem Deividson Evangelista Pacheco também foi atingido na cabeça e morreu a caminho do hospital. Segundo sua mãe, Dilma Barbosa Bezerra, de 55 anos, o rapaz tinha problemas auditivos por conta de uma meningite contraída aos 5 anos e demorou para notar a presença da polícia.
— Meu filho era um menino bom. Nunca foi envolvido com nada de errado. A nossa vida aqui na favela não vale nada para essa polícia. Meu filho tinha problemas de audição e demorou mais do que os outros fregueses para notar o tiroteio. Que covardia que fizeram com ele. Vou lutar por justiça até o fim da minha vida. Depois que esse governador [Sérgio Cabral] foi eleito, acabou o pouco de paz que nós tínhamos. Toda semana a polícia entra aqui e mata alguém. Seja bandido, que eles executam, ou trabalhador, que eles atiram nas costas. Não importa se é traficante ou não, aqui todo mundo tem medo da polícia e todo mundo corre quando ela chega — lamenta a mãe de Deividson no enterro do filho, dia 13 de junho, no cemitério do Caju.
Além disso, moradores denunciam que, após atirarem contra a barbearia, PMs ainda teriam adentrado o local, agredido outros clientes e roubado pertences das vítimas, como carteiras, relógios e outros objetos de valor.
A favela Nova Holanda, no bairro de Bonsucesso, é uma das 22 do complexo de favelas da Maré, assim como o Parque União, onde a PM também ataca com frequência. Em abril do ano passado, moradores chegaram a pedir a Ordem dos Advogados do Brasil que instalasse um posto fixo no Parque União para coibir os abusos policiais, mas até hoje, a favela continua entregue à violência permanente da polícia.
No dia 2 de maio último, PMs invadiram a favela para a instalação da nova sede do Batalhão de Operações Especiais, o BOPE, que atualmente fica no Catete, bairro nobre do Rio. A operação terminou com seis moradores mortos, dentre os quais estava um dos chefes do tráfico varejista. Segundo a Secretaria de Segurança Pública e o monopólio dos meios de comunicação, as outras cinco vítimas também morreram em confronto com a PM, uma mentira fabricada para ocultar a chacina promovida pelos policiais.
Uma semana depois, um morador do Parque União que pediu para não ser identificado, concedeu entrevista a AND relatando o que realmente aconteceu naquela tarde de domingo, quando dezenas de crianças brincavam pelas estreitas vielas da favela.
— Os seis meninos que morreram eram envolvidos com o tráfico mesmo, mas e daí? Nenhum deles morreu em confronto com a polícia. Isso é tudo mentira. Se o cara é traficante, ele tem que ser preso. O Pitoco [Ivanildo Francelino dos Santos, de 26 anos] que era um dos chefes do tráfico aqui, morreu da maneira mais brutal que um ser humano pode morrer. Ele se entregou e depois que os PMs chegaram perto dele, um oficial do BOPE puxou uma faca e cortou as duas mãos dele. Não mataram ele na hora não. Deixaram o coitado sangrando e agonizando até a morte e, enquanto isso, ainda retalharam o corpo dele todo. Eu vi. Os PMs ainda riam, gargalhavam. O corpo dele ficou irreconhecível — relatou o morador do Parque União.
Segundo ele, os moradores do Complexo da Maré presenciam sempre os banhos de sangue promovidos pela polícia de Cabral.
Os pais de Deividson choram ao saber do assassinato
— Os outros cinco meninos também foram executados. Um deles tinha 15 anos, estudava, jogava bola, mas as dificuldades da sua família fizeram com que ele entrasse para o tráfico. Os policiais pegaram ele e levaram para dentro do caveirão. Ficaram uns 20 minutos com ele lá. Nesse tempo, escorreu um balde de sangue pela porta traseira do blindado. É triste falar isso, mas os jovens e as crianças daqui já estão acostumados a ver essas coisas. Essa polícia não é só assassina, ela é sanguinária — acusa.
— Tudo que o Sérgio Cabral tem é feito de sangue. Seus filhos se alimentam de sangue. As roupas que a mulher dele compra são de sangue. O sangue do povo que a polícia derrama todo dia na favela. Quantos ainda vão ter que morrer para esses covardes nos deixarem em paz? Como eles querem que não tenha tráfico se o povo não tem emprego, nem escola, nem hospital, nada? — conclui.