As políticas econômicas mais agressivas do imperialismo (chamadas de “neoliberais”) implantadas de forma criminosa nas últimas décadas no país trouxeram enormes prejuízos para a população brasileira, principalmente para as classes trabalhadoras. O povo assiste a perda de direitos históricos, enquanto os sucessivos gerenciamentos de turno seguem desnacionalizando a economia, desindustrializando e endividando o país e aumentando a desigualdade social, um dos maiores flagelos de nossa sociedade. Por tudo isso, é natural que o número de pessoas abaixo da linha de pobreza tenha aumentado de maneira tão dramática nos últimos anos.
Crise geral do capitalismo burocrático no Brasil joga milhões de trabalhadores na extrema pobreza
A linha de pobreza é um termo utilizado pelo Banco Mundial para delimitar quanto uma pessoa, ou uma família, precisa ganhar anualmente para obter todos os recursos necessários para sua sobrevivência. Se esses levantamentos fossem levados em consideração pelos governos, seria possível utilizá-los para auxiliar os grupos sociais que necessitam de apoio e políticas governamentais específicas, atendendo aos critérios deste instrumento do imperialismo que não deseja o bem estar do povo, as a manutenção da exploração em patamares “humanos”. Porém, o que se vê no Brasil é a utilização da “linha de pobreza” apenas como manipulação de dados do gerenciamento de plantão, numa clara tentativa de maquiar a dura realidade vivida pelo povo.
O Brasil é um dos países mais desiguais do mundo. Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o 1% mais rico do Brasil concentra entre 22% e 23% do total da renda nacional, o país não possui uma linha oficial de pobreza, e sim diversas linhas que atendem a análises distintas, como do Bolsa Família, por exemplo, o que contribui para a falta de metodologia na hora de elaborar um recorte sobre a miséria. No entanto, a nova crise do capitalismo mundial exige uma participação cada vez mais ativa e subserviente de Estados semicoloniais como o Brasil no processo de reestruturação das economias imperialistas, seja implantando um novo programa de privatizações, seja aumentando a exploração dos trabalhadores e a população pobre de suas regiões.
No caso do Brasil, as medidas recessivas foram tão violentas – e ainda podem aumentar, lembremos que a reforma da previdência continua em pauta – que ficou difícil para o gerenciamento de plantão tapear a população com seus dados e planilhas manipuladas. Em janeiro, o Instituto Brasileiro de Geografia e estatística (IBGE) publicou um levantamento apontando que 52 milhões de brasileiros estariam vivendo abaixo da linha da pobreza. Isto é, quase um quarto da população vive com menos de US$ 5,50 (R$ 18,24) por dia, equivalente a uma renda mensal de R$ 387,07 por pessoa em valores de 2016, que é o critério que o Banco Mundial passou a utilizar este ano para países emergentes de renda média-alta, categoria em que o Brasil está incluído. É bom lembrar que a Linha Internacional de Pobreza (LIP) utilizada pelo Banco Mundial para definir a pobreza extrema em nível global continua sendo US$ 1,90/dia (6,30 reais), e o objetivo do Banco é acabar com a pobreza até 2030. Como diria Garrincha, “só falta combinar com os russos”, ou seja, os países imperialistas e suas políticas de exploração e subjugação nacionais, que utilizam instituições como o próprio Banco Mundial como fiadoras.
Condição cada vez mais precária
Olhando esses dados é inevitável perguntar: Quem no Brasil consegue sobreviver com trezentos reais ao mês? Qual família consegue arcar com os custos de moradia e educação com esse valor? Qual família consegue alimentar os seus filhos dignamente se a própria cesta básica, que já não é nenhuma maravilha, ultrapassa mensalmente essa quantia? Segundo o Dieese, o valor da cesta básica no município de São Paulo, em agosto, foi de R$ 432,00, e comprometeu 49,31% do salário mínimo.
A grande tragédia é que além de viverem com pouco dinheiro, as condições de vida das famílias mais pobres no Brasil são extremamente precárias. De acordo com a Síntese de Indicadores Sociais de 2017, 62,1% dos brasileiros vivem em domicílios que possuem o acesso a três serviços de saneamento básico simultaneamente (abastecimento de água por rede geral, esgotamento sanitário por rede coletora ou pluvial e coleta direta ou indireta de lixo). Mas entre os 52 milhões de brasileiros que vivem com menos de 5,50 dólares (18,24 reais) por dia, só 40,4% vive em domicílios com esses três serviços.
A auxiliar de limpeza Dinalva de Souza, moradora do bairro do Tanque, em Jacarepaguá, está acima da linha do Banco Mundial, mas afirma que o custo de vida anda tão alto que é impossível pensar numa família vivendo com aquilo que a linha de pobreza estabelece. Com a ajuda do marido, ambos ganham um pouco mais de um salário mínimo, ela se equilibra mensalmente para poder pagar todas as contas da casa e a educação da filha – por causa do sucateamento do ensino público ela paga R$ 418 em um colégio particular próximo da sua residência – e só. Lazer que é bom, nada. “Hoje em dia está tudo muito caro. Eu, a minha filha e o meu esposo gastamos com alimentação mais de R$ 700,00 reais. Antigamente eu levava minha filha num shopping para dar um passeio, levava ao cinema, mas agora não dá. A conta de luz está muito alta, a comida cara, o botijão lá no bairro custa R$ 80,00, então a gente tem que ter outras prioridades”. Outro fator que influencia no aumento do custo de vida das famílias pobres no país é a violência. Em Jacarepaguá quase todos os bairros são dominados por grupos paramilitares, e o de Dinalva não é diferente. Todo mês ela é obrigada a tirar R$ 30,00 do orçamento familiar para o pagamento da sua “segurança”.
Extrema pobreza aumenta no país
Além do aumento do número de brasileiros abaixo da linha de pobreza, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad Contínua) de abril revelou que o número de brasileiros em situação de extrema pobreza aumentou 11% entre 2016 e 2017, atingindo 14,8 milhões de pessoas. Como o país possui 12 milhões de desempregados, é razoável imaginarmos que esse número seja ainda maior.
Ainda de acordo com a pesquisa, um dos fatores que contribuíram para o aumento da miséria foi a precarização do mercado de trabalho. Ao invés de produzir postos de trabalho com carteira assinada, o mercado de trabalho aproveitou a mais recente crise do capitalismo, e a nova legislação trabalhista, para gerar ocupações informais, de baixa remuneração e ganho instável, o que diminuiu de maneira significativa o poder de compra dos trabalhadores. Atualmente milhões de brasileiros sobrevivem na informalidade, e o cenário que se apresenta com os velhos atores da nova farsa eleitoral é de mais recessão e opressão contra o povo, o que certamente elevará ainda mais a quantidade de brasileiros abaixo da linha da pobreza e da extrema pobreza.