Hoje, como ontem, porém cada vez mais, a chamada “grande mídia” — nome popular para os meios de comunicação de massa que fazem parte ou são eles mesmos grandes conglomerados econômicos transnacionais — cumpre em favor das classes dominantes um papel fundamental nos momentos mais críticos de acirramento das contradições do sistema de exploração do homem pelo homem, do inexorável curso do capital em direção ao cumprimento do seu destino histórico, ou seja, a lata de lixo da História, com suas crises cíclicas eclodindo em intervalos de tempo cada vez menores, com intensidade cada vez maior e com duração cada vez mais prolongada, como está aí para provar a crise geral de superprodução relativa dos monopólios que se arrasta desde a década de 1970.
E esse papel é o da contrapropaganda reacionária massificada; o papel de tentar, com notícias antipovo, convencer o povo, em suma, de que o que é bom para o opressor é bom para o oprimido, senão ainda melhor…
Neste exato momento, no cenário político atual da semicolônia Brasil, essa contrapropaganda assume características clara e abertamente fascistas, como é de praxe nos momentos em que as contradições capitalistas se apresentam mais afloradas, em que as classes dominantes sentem calafrios na espinha e tremedeiras nas pernas. Em que as massas se mostram mais inquietas, rebeladas mesmo, diante da degradação geral das condições de vida e do aumento da insegurança em todos os aspectos da existência, do trabalho ao acesso aos serviços públicos e direitos fundamentais, passando pela falta de certeza até mesmo sobre se, para um pobre, no final do dia ele vai chegar em casa ou se vai acabar na prisão engrossando as estatísticas de uma das maiores populações carcerárias do planeta — isso sem contar a possibilidade do rumo do cemitério pela mão das forças de repressão.
O fascismo fala em nome de ‘todos’…
E o que faz do atual noticiário da Rede Globo e congêneres fortemente pró-Copa do Mundo dos ricos e ainda mais ferozmente antiprotestos e anti-greves uma gigantesca peça de inconfundíveis características fascistas? Talvez as três principais nuances desta campanha de contrapropaganda em curso sejam:
— O enfoque em especulações psicológicas (expressas sobretudo nas patriotadas em torno da seleção brasileira de futebol e da “honra” da realização da Copa do Mundo no Brasil), no esforço para tentar vender a vida bovina como ideal de vida; para tentar desarmar mãos, mentes e corações da luta política e dos argumentos e objetivos racionais, de classe; para tentar aplacar o descontentamento das massas e cegá-las para as infâmias que cercam e que marcam a copa dos ricos, da Fifa e do gerenciamento do PT-pecedobê;
— Tentativa de jogar povo contra povo, subindo até níveis insuportáveis o ronrom de que greves e manifestações populares “prejudicam a população” e “mancham a imagem do Brasil no exterior”; de que todos deveriam se unir pela realização da “Copa das Copas” e “mostrar ao mundo do que somos capazes”;
— Sempre escamoteando interesses inconfessáveis e muito particulares — interesses de classe — na insistência em falar nome de “todos”, assim pavimentando o caminho para a perseguição, pelo Estado, aos contestadores e opositores.
A propósito deste último aspecto, não poderia caber a ninguém melhor do que à senadora Kátia Abreu, ícone reacionário, o anúncio, feito em entrevista dada à rádio Jovem Pan, de que, após quase um ano de forte contrapropaganda fascista calcada na palavra de ordem da difamação dirigida às massas rebeladas, o Congresso começaria a votar o projeto de lei que define o “vandalismo” como crime. Bem agora, às vésperas da Copa da Fifa, que o povo quer mandar às favas, para conveniência e alento daqueles que ora são acossados pelas ruas.