Brasília – As cidades brasileiras se transformaram em barris de pólvora, prestes a explodir, mas as chamadas autoridades continuam a não enxergar um só palmo diante do nariz. De Norte a Sul, floresce o entreguismo, a exploração que chega às últimas consequências, juntamente com o desemprego, a miséria, o analfabetismo, a repressão pela repressão, a corrupção desenfreada. Nas periferias das grandes cidades, milhões de adolescentes vegetam à deriva, sem rumo nem objetivo.
É comum encontrar adolescentes de 16 e 17 anos, já mães de dois filhos ou mais. Pessoas negligenciadas pelo Estado, sem nenhum amparo ou direito, exceto as campanhas de hipocrisia e deboche, que não receberam qualquer formação e que não têm como educar, fator multiplicador de interminável indigência. A prostituição infantil chega a ser estimulada em setores oficiais. No início de outubro, a risível Anistia Internacional divulgou comunicado no qual advertia que “se as autoridades do Rio de Janeiro não tomarem atitudes para restabelecer a ordem nas comunidades de Vigário Geral e Parada de Lucas, a guerra entre quadrilhas de traficantes levará a um banho de sangue” àquelas localidades.
Ninguém faz nada nem fará. O modelo que aí se encontra muito se asemelha, nos seus fundamentos, ao implantado a partir da chegada de D. João VI (1808), misturando incompetência e roubalheira, arrogância e impunidade — mas que cresceram em intensidade e em proporções incomensuráveis. Esse sistema colonial é o próprio fracasso; o resto é blablablá. Sempre vigorou no Brasil a administração da absoluta submissão, da entrega total de nossas riquezas, da exploração de nosso povo e do culto à inferioridade.
No início de nossa história, obedecíamos aos patrões ingleses; hoje, curvamo-nos às determinações dos EUA. Somos dirigidos de fora para dentro. Exercem sobre nós um controle quase absoluto, ao que para isso não faltam os meios de comunicação, enquanto somos saqueados criminosamente.
Então, senhores e senhoras da engraçadíssima Anistia Internacional e similares: dentro desse cenário, como acabar com a violência? O nosso dia a dia é programado de fora para dentro, a partir de Washington. As medidas tomadas aqui no Brasil, nos últimos anos, agravaram o quadro que já parece sem solução. E o “país do futuro”, com milhões e milhões de seres capazes de produzir e viver felizes, que poderia produzir energia limpa, possuidor da mais invejável bacia hidrográfica do planeta, vê-se atrelado às amarras de traição permanente, deixando a nação sem esperança. Somos um país que trabalha para manter o luxo e a boa vida daqueles que compõem a oligarquia financeira no primeiro mundo, além dos grandes latifundiários e especuladores internos.
Depois que conseguiram ajustar a fórmula de maneira conveniente, os controladores do Fundo Monetário Internacional nunca mais tiveram problemas conosco. Pagamos os mais altos juros justamente para os maiores agiotas que já apareceram na face da Terra, e nos esforçamos tal qual burro de carga realizando remessas pontuais, rigorosas, de tudo aquilo que conseguimos produzir. O arranjo promovido é adequado: a fome, causando a revolta entre o povo que exige planos para si. O torniquete que os países ricos, liderados pelos EUA, tem aplicado nos povos do mundo está chegando a seu ponto de arrebentação.
Dentro de cinco ou seis anos as reservas petrolíferas norte-americanas chegarão ao fim. Os EUA estão enfrentando gravíssimos problemas no Oriente Médio, com os povos árabes resistindo bravamente às imposições, arrancam todo o petróleo da América Latina — da Venezuela, quarto maior produtor do planeta, aos demais países, como o Brasil.
Aqui, o entreguista Cardoso (administração 1995-2003) cometeu os maiores crimes e absurdos. Doou quase todas as nossas empresas de valor estratégico (que eles próprios chamavam de “estatais”) e saiu do cargo de forma impune, depois de fazer aprovar uma lei em que só poderá ser julgado por foro especial.
Bem, onde está, ao menos, o tal foro especial que — de todos — é o que mais teria atividades neste país?
As cidades brasileiras estão prestes a estourar. Sem planejamento, sem saída, sem qualquer alternativa, tendem a explodir por conta da incúria e da ambição desmedidas dos salafrários que dizem conduzir a economia brasileira e nos governar.