No dia 7 de junho, o ministério das Finanças de Portugal divulgou a lista de 213 medidas ditadas pelos interventores da União Europeia e do FMI e que terão que ser cumpridas (84 delas até o final de 2011) pelo gerenciamento português “eleito” dois dias antes, no dia 5 de junho, sob pena da não-liberação do dinheiro da penhora do país: 78 bilhões de euros a título de “resgate financeiro”.
Entre as requisições do FMI está, por exemplo, esta: “Durante a duração do programa, qualquer aumento do salário mínimo só terá lugar se justificado pela evolução econômica e do mercado de trabalho e após acordo no quadro da revisão do programa”.
Outra: “Acelerar o programa de privatizações. O plano existente — com horizonte temporal até 2013 – cobre o setor dos transportes (Aeroportos de Portugal, TAP e CP Carga), o setor da energia (GALP, EDP e REN), o setor das comunicações (Correios de Portugal) e o setor dos seguros (Caixa Seguros), assim como uma série de empresas de menor dimensão”.
E mais: “Identificar, até a segunda revisão, duas empresas públicas adicionais para privatização até o final de 2012”.
E mais essa: “Apresentar à Assembleia da República uma proposta de lei, já acordada com os parceiros sociais, para alinhar e reduzir as compensações por cessação de contrato de trabalho em todos os novos contratos”.
E essa: “Os salários e as aposentadorias serão congelados até 2013, exceto no caso das aposentadorias mais baixas”.
E até mesmo essa outra: “Reduzir os custos com o transporte de doentes em 1/3”.
Ou seja: uma série de medidas antipovo, de congelamento de salários, dilapidação do patrimônio público português, liberdade para despedir e cortes bizarros nos serviços públicos. E tudo será supervisionado pelos manda-chuva do FMI e da União Europeia, que vão mandar uma “missão externa” a Lisboa de três em três meses para passar seus capatazes locais em revista.
Aves de rapina bicando a carniça
O estrangulamento ao qual Portugal está sendo submetido é tão grande que até a imprensa reacionária local por vezes parece se escandalizar. No dia 2 de junho, os principais jornais portugueses chegaram aos “quiosques” (como são chamadas as bancas de jornal de lá) de Lisboa e do Porto com a notícia de que no dia anterior o Estado português havia se endividado em mais 850 milhões de euros junto aos mercados financeiros para pagamento em três meses a uma taxa de juros de quase 5%.
O endividamento do Estado português a curto prazo e a juros exorbitantes para os padrões europeus é algo milimetricamente calculado pelos banqueiros da Europa. Apesar dos altos juros serem cobrados alegadamente por causa do alto risco representando pela economia portuguesa em agonia, o reembolso de quem empresta é garantido pelos interventores FMI e Banco Central Europeu.
Tudo é arquitetado não para a “ajuda” à nação em apuros, mas sim para azeitar os lucros dos grandes capitalistas, grandes aves de rapina voando em círculos e bicando a carniça.
Irlanda
O terceiro país europeu ora sob intervenção do FMI e da União Europeia, a Irlanda, também vem arrochando o povo mediante uma série de reformas em prol da devastação capitalista, reformas exigidas como contrapartida em compromissos assumidos à revelia das massas trabalhadoras, e para prejuízo delas.