Cartaz ironiza: Estônia, bem vinda ao Titanic
No último dia 1º de janeiro a zona do euro, ou ‘eurozona’, ganhou um novo membro: a Estônia. O país báltico se tornou o 17º da Europa a adotar a moeda única forjada pelos banqueiros da Alemanha e da França para azeitar a dominação econômica das nações mais pobres do continente, escamoteando o reforço do jugo que exercem sob o discurso fraternal da “integração monetária”.
Trata-se de uma manobra capitalista, arquitetada para avolumar a rapina e acirrar a exploração por parte dos monopólios do eixo franco-alemão. Com o euro, a soberania sobre as políticas monetárias de cada um dos países associados simplesmente deixa de existir, passando às mãos dos tecnocratas do Banco Central Europeu, o que significa que ficam a cargo das decisões daqueles que regulam as finanças do imperialismo comandado desde Berlim e Paris.
Tanto que no único país do continente onde, por força legal, a hipótese de adoção da moeda única da Europa do capital foi submetida a referendo popular, a Suécia, ela foi devidamente rechaçada pela população.
O euro começou a circular no dia 1º de janeiro de 1999 em 11 países europeus: Alemanha, Áustria, Bélgica, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Itália, Luxemburgo, Holanda e Portugal. Como o noticiário dos últimos meses não deixa mentir, os trabalhadores de países da primeira leva da zona do euro como Espanha, Irlanda e Portugal ainda estão pagando o preço da submissão das suas elites à ordem vinda das potências para adoção da moeda única.
Enquanto instrumento de dominação, o euro sobretudo facilita as ofensivas dos grandes grupos industriais e financeiros da Europa sobre a chamada “periferia” da área abrangida pela moeda única, garantindo-lhes melhores condições para se instalarem, multiplicarem os lucros e acumularem capital. A consequência imediata é o desmantelamento dos sistemas produtivos locais e a precarização dos direitos, dos salários, do poder de mobilização e das condições gerais de vida das massas trabalhadoras.
Estonianos pagam o pato
E o proletariado dos países da zona do euro já perceberam o mal que a moeda única dos poderosos lhes faz. Pesquisas recentes mostram que em nove dos 11 países que adotaram o euro em 1999 o povo entende a moeda como o que realmente ela é, ou seja: benéfica apenas para as potências e seus monopólios em busca incessante por expansão. Os protestos contra a dominação sobretudo alemã na Grécia, país que adotou o euro em 1º de janeiro de 2001, mostram que por lá o entendimento não é diferente: o de que o euro não passa de mais um instrumento de dominação e exploração.
Agora mesmo, a gerência fascista da Estônia vem promovendo uma onda de demissões e cortes salariais para atender às exigências feitas pelo Banco Central Europeu para o andamento do processo de adesão ao euro – adesão da qual, na Estônia, só as elites políticas e financeiras irão se beneficiar.
Milhares de funcionários públicos já foram demitidos e, os que ficaram, tiveram os salários reduzidos em 10%. A redução salarial no setor privado da Estônia às vésperas da entrada do euro chegou à impressionante média de 15%. Os cortes nos gastos públicos foram da ordem de 20% e a idade para se aposentar pulou de 63 para 65 anos. Por fim, reformou-se a lei trabalhista para que as transnacionais possam agora despedir os estonianos ao seu bel-prazer e sem ônus algum. O desemprego já bate nos 25% em algumas regiões do país.
São os lambe-botas das potências, traidores do seu povo, limpando o terreno para a chegada massiva e arrasadora dos grandes monopólios, no esteio do euro.
Além disso, a Alemanha ganhou na Estônia um aliado no conselho do Banco Central Europeu. O presidente do Deutsche Bundesbank, Axel Weber, terá o apoio de Andres Lipstok, presidente agora figurativo do banco central da Estônia, na defesa das medidas draconianas que o chamado “bloco germânico” quer impor a toda zona do Euro para que Berlim possa salvar sua tão estimada moeda única.