Povo afegão repudia farsa eleitoral

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Povo afegão repudia farsa eleitoral

Em agosto o imperialismo ianque tentou armar o circo de "exportação da democracia" no Afeganistão, depois de passar meses reforçando seu contingente de marines nas principais cidades do país e redobrando os esforços para aniquilar a resistência nacional afegã.

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Mas de nada adiantou a corrida dos invasores para não passarem vergonha no momento de abertura das suas preciosas urnas da tapeação. Enquanto a resistência impunha novos revezes às forças da ocupação, o povo afegão simplesmente não foi votar, recusando-se a participar da farsa armada com a conivência dos oportunistas que, em chapas distintas, disputavam nas urnas tão somente o direito de ficar com os espólios do entreguismo mais desavergonhado. Em Kandahar, segunda maior cidade do país, estimativas dão conta de 95% de abstenções. Em suma, as massas afegãs arruinaram em três dias o que o imperialismo em crise levou meses planejando com esmero. Rechaçaram uma encenação paga com um fundo eleitoral alimentado pelos mesmos recursos que há oito anos financiam a destruição da sua terra.

Dois meses após a "comunidade internacional" ter vociferado contra as barreiras levantadas por Mahamud Ahmadinejad ao monopólio internacional dos meios de comunicação, quando das acusações de fraude na contagem dos votos na sequência de mais uma farsa eleitoral no Irã, seus chefes demagogos agora elogiaram em coro a medida do governo do Afeganistão que proibiu todos os veículos informativos ou desinformadores que operam no país de noticiar o que chamou de "qualquer sucesso da violência" durante o tempo em que as urnas estiveram abertas. Tentando esconder o fato de que o povo pobre está ao lado da resistência afegã, disseram que nada sobre a "violência terrorista" deveria ser repercutido durante o processo eleitoral para evitar que as pessoas tivessem medo de sair de casa para votar.

A farsa eleitoral organizada pelo imperialismo no Afeganistão foi claramente fraudulento mesmo perante os parâmetros dos quais a democracia burguesa costuma se valer para caracterizar os seus processos eleitorais. Em primeiro lugar, não há no país dados censitários sobre a idade e o domicílio dos eleitores. Além disso, em 20% dos locais de votação foram encontradas cédulas eleitorais falsas que foram vendidas ao preço de US$ 10 dólares cada uma. Pessoas instrumentalizadas pelas forças oportunistas que pediram votos aos afegãos compareceram às urnas sem ter idade suficiente para tal, ou votaram duas vezes. Abundaram as ameaças e intimidações contra os pobres e analfabetos, que são oitenta por cento da população do país.

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Mesmo a organização metida em território afegão para carimbar legitimidade ao processo, a Fundação Para Um Afeganistão Livre e Justo, não conseguiu fazer vistas grossas a tantas falcatruas mediante as quais os invasores e seus capachos tentaram, em vão, empurrar a empulhação eleitoral goela abaixo do povo. Não obstante, o chefe ianque, Barack Obama, saiu dizendo que mais este sufrágio para lá de picareta foi "um sucesso". Já os enviados da União Européia a Cabul embananaram-se com as palavras tentando dissimular o que foi um retumbante fracasso, dizendo que "as eleições foram justas, mas não livres".

Karzai, escolado no oportunismo vende-pátria

O imperialismo está tão atrapalhado no Afeganistão que até mesmo uma das suas desculpas picaretas para invadir o país há oito anos, a de libertar as mulheres afegãs do jugo da truculência masculina tribal, foi prontamente varrida para debaixo do tapete, desapareceu da ladainha da "exportação da democracia", em nome da conveniência de manter quem já está à frente da gerência baseada em Cabul. Em troca do apoio da oligarquia patriarcal afegã, um mês antes de serem abertas as urnas a administração de Hamid Karzai promulgou uma lei obrigando as mulheres a satisfazerem os desejos sexuais dos seus maridos. Caso se neguem por qualquer motivo, eles ficam autorizados a deixá-las morrer de fome. Além disso, a lei prevê que os estupradores passem impunes, desde que ofereçam reparação financeira à família da sua vítima.

A hipocrisia dos chefes da invasão transbordou e contagiou os dois principais pleiteantes a gerentes dos interesses do imperialismo no Afeganistão. Menos de 24 horas após o fechamento das urnas, Karzai e Abdulá Abdulá não apenas cantaram vitória um sobre o outro, mas também se gabaram, os dois, de terem vencido já no primeiro turno, em um espetáculo de fanfarronice e de auto-confiança nas fraudes impetradas de lado a lado que deixou até mesmo seus superiores, os generais da Otan, enrubescidos.

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O preferido do imperialismo, Hamid Karzai, nasceu oligarca e foi educado na escola do oportunismo da estirpe mais vendepátria. Acumulou títulos acadêmicos de universidades estrangeiras e habilitou-se no manejo de sete idiomas diferentes. Todo o conhecimento que adquiriu foi colocado prestimosamente à serviço dos invasores do seu país. Senhor da guerra e da traição, ele, sua família e os altos membros da sua gerência – senhores da guerra com inúmeros crimes nas costas – enriqueceram extraordinariamente só com os espólios da conivência com o imperialismo.

Mas não conseguiu minar a resistência aos intrusos e a ele próprio. Recentemente o número de baixas entre o contingente britânico dos aliados invasores ultrapassou a marca dos duzentos soldados mortos. Entre os ianques, do início de agosto até depois da farsa eleitoral, 37 fuzileiros navais tombaram ante a resistência. No dia 25 de agosto, um balanço oficial deu conta de 295 baixas nas forças de ocupação neste ano, ultrapassando o total de todo o ano passado.

Não há comparação com os milhares de afegãos que sucumbiram à artilharia dos agressores, mas é muito mais do que a desproporcionalidade de poderios militares poderia fazer crer. Em parte por solidariedade às massas afegãs, em parte por não gostar de ver jovens compatriotas caindo mortos em terra alheia, os povos britânico e estadunidense cada vez mais repudiam a invasão. Uma pesquisa recente mostrou que 70% dos habitantes da Grã-Bretanha querem que os soldados do seu país dêem meia-volta. Mas o novo chefe das forças armadas britânicas, o general David Richards, já assumiu seu novo posto dando o recado dos seus superiores civis: a idéia é ficar no Afeganistão até 2050.

Seis razões para boicotar o sufrágio do imperialismo

Trecho de um comunicado do Partido Comunista (maoísta) do Afeganistão, dirigido ao povo afegão às vésperas da farsa eleitoral organizada pelo imperialismo no país.

Caro povo do nosso país!

Como sabem, a segunda eleição presidencial do regime fantoche e as eleições para o conselho local serão realizadas no final de agosto. O show reacionário-imperialista já começou. Apelamos a todos vocês: não participem da eleição presidencial do regime títere e das eleições para o conselho local.

Fazemos este apelo porque:

Em primeiro lugar: muitas pessoas acreditam que a participação nesta eleição será ainda menor do que na eleição passada, e que apenas uma pequena minoria da população vai votar. Nosso povo tem o direito de reagir às próximas eleições com indiferença. Ele conhece o resultado das eleições anteriores: bombardeamentos assassinos, o aprofundamento e a disseminação da corrupção do regime, dos desabrigados, desemprego, pobreza e fome entre os trabalhadores.

Sob nenhuma circunstância vendam os seus votos, seja individualmente ou em grupo. Resistam, mesmo que vocês estejam sob ameaças de funcionários do governo ou das forças dos senhores da guerra, que podem estar alinhados com as diferentes gangues do regime.

Cabe-nos agora a responsabilidade de resistir a qualquer tipo de ameaça velada ou de fato, e também lutar contra qualquer espécie de troca de votos, ou pelo menos expor casos deste tipo.

Em segundo lugar, como nas eleições anteriores, este regime, esta campanha, a propaganda que a acompanha e outros aspectos, são politicamente sustentados, financiados e até mesmo diretamente realizados pela ocupação, que também está assumindo a responsabilidade pela sua segurança. Todo o processo eleitoral está firmemente controlado pelos invasores.

Participar dessa eleição significa aprovar a ocupação do país pelos imperialistas reacionários estrangeiros e também aprovar o domínio do regime fantoche.

Terceiro: a situação atual do nosso país e do nosso povo não é diferente do que era durante a ocupação do social-imperialismo soviético e dos seus lacaios naquela época. Durante a resistência contra os ocupantes, 2,5 milhões de pessoas foram mortas e outras milhões experimentaram a dor e o sofrimento de várias formas, tais como falta de moradia e o exílio.

Não sofremos tudo isso e expulsamos os social-imperialistas soviéticos para permitir a chegada do imperialismo do USA e de seus lacaios. Participar dessa eleição significaria desrespeitar os mártires na guerra de resistência contra os social-imperialistas soviéticos e esquecer o sofrimento e a dor que a guerra causou ao nosso povo.

Em quarto lugar: o regime fantoche é completamente corrupto e saqueador. Não seria exagero dizer que é o regime mais corrupto na história do Afeganistão. Seu caráter não pode ser alterado mudando os seus gestores de topo. Mas a sua participação nesta eleição, mesmo na forma mais limitada, poderia dar a esse regime corrupto e aos seus dirigentes corrompidos a alegação de que eles são eleitos pelo povo, uma desculpa para continuar com a corrupção e a pilhagem.

Quinto: a maioria dos que compõem o regime fantoche são os mesmos criminosos que anteriormente pertenciam aos partidos Khalq e Parcham (os partidos pró-soviéticos que governaram o país durante a invasão soviética), os jihadistas (os fundamentalistas islâmicos apoiados pelo ocidente para combater os soviéticos) e o Taliban (os fundamentalistas extremistas que estavam no poder antes da invasão do USA). A maioria dos candidatos a presidência e ao conselho local são o mesmo tipo de pessoas. Todo o processo de preparação para esta eleição indica que os acordos entre eles vêm sendo feitos, envolvendo engodo e fraude generalizada, de modo que os criminosos de sempre, com algumas pequenas mudanças, possam permanecer no poder.

O escândalo a este respeito é tamanho que até mesmo muitos candidatos estão falando em boicotar a eleição. Nestas circunstâncias, aqueles que participarem deste espetáculo eleitoral, mesmo com "boas intenções", estão tentando disfarçar com perfume o cheiro fétido de um pântano profundo. Isso não é possível – a única coisa a se fazer é secar o pântano.

Nós pedimos particularmente aos trabalhadores e camponeses do país: não tomem parte nas eleições! Este regime é patrocinador e apoiador de um grupo de exploradores feudais e capitalistas. Um dos principais objetivos desta eleição é manter e fortalecer os grilhões de exploração que atam seus pés e mãos. Sua participação nesta eleição significaria apenas servir politicamente ao seu inimigo de classe. Evite tal serviço ao seu inimigo!

Convidamos as massas de meninas e mulheres oprimidas do Afeganistão: não tomem parte nas eleições! Os invasores imperialistas e seu regime de marionetes estão usando a questão da mulher para servir à ocupação e para vender a nação. Observem o regime de alto a baixo! Não são a esmagadora maioria dos seus representantes, bem como os candidatos à presidência e ao conselho local, chauvinistas de carteirinha e elementos anti-mulheres que elaboram e aprovam leis para resguardar e consolidar a escravidão de gênero?

Não devemos ser enganados por um pequeno número de mulheres candidatas a se tornarem gestoras do regime. Isto é só para ludibriar. Quantas mulheres no parlamento do regime votaram contra as chamadas leis de família, que escravizam as mulheres da comunidade xiita?

Apelamos à juventude do país: não tomem parte das eleições! Participar delas significaria participar do esforço para consolidá-lo. Caso este esforço seja bem sucedido, isso só iria prolongar sua desesperança para o futuro. Quanto mais se consolida a ocupação, mais se prolonga a guerra da ocupação, e mais jovens serão usados como bucha de canhão.

Exortamos as etnias oprimidas: não tomem parte nas eleições! Este é um regime inerentemente chauvinista, responsável pela repressão aos povos oprimidos deste país. Essa característica é marca registrada da sua composição. Os não-pashtun (grupo étnico dominante no Afeganistão) deste regime e os candidatos a tomarem uma posição nele não são verdadeiros representantes dos seus interesses. Eles são traidores, que vão vender os interesses nacionais a serviço do chauvinismo dominante, a fim de garantir a rapina das riquezas e de gerar mais riquezas para serem saqueadas.

Exortamos as massas pashtun do país: não tomem parte nas eleições! O que este regime lhes reserva são os frequentes bombardeios aéreos ordenados pelos comandantes da ocupação. Olhe para o seus companheiros pashtuns no Paquistão! A campanha do Exército paquistanês contra as regiões pashtun no país resultaram na falta de moradia para quatro milhões de pashtuns do Paquistão e no assassinato de outros milhares. Essa campanha foi lançada por ordem direta do USA, o mestre do regime fantoche imposto ao Afeganistão, e é auxiliada e apoiada por este regime.

Na verdade, a sua participação nesta eleição significaria tomar parte no esforço para consolidar esse regime, bem como na extensão da influência e âmbito de aplicação do seu domínio. Você precisa estar ciente de que o pashtuns integrados no regime e os candidatos pashtuns à obtenção de uma posição ou um assento neste regime, inclusive Karzai, não são seus verdadeiros representantes. Eles estão procurando servir sua própria classe, clã e interesses pessoais.

Não participar da eleição do regime fantoche faz parte da resistência contra os invasores imperialistas e traidores nacionais. Vamos mostrar ao mundo que a esmagadora maioria do nosso povo vai participar desta resistência.       

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