Povo vai às ruas em manifestações contra o aumento dos combustíveis
Na Nigéria governada pelos monopólios internacionais do setor de energia, o atual gerente dos interesses das transnacionais de petróleo e gás, o “presidente” Goodluck Jonathan, anunciou na virada de 2011 para 2012 o fim do subsídio estatal ao preço da gasolina vendida à população do país. Com isso, o gerenciamento do Estado nigeriano semifeudal e semicolonial demonstra que está lá, afinal, para azeitar o capitalismo burocrático, para garantir a expansão do imperialismo, e não para gastar dinheiro ajudando o povo, mesmo que se trate de um povo miserável, que enfrenta inúmeras dificuldades e provações dia após dia em uma nação devastada por novas e velhas rapinas promovidas pelas potências do mundo.
Ainda em janeiro foi deflagrada uma greve geral na Nigéria contra o aumento dos preços dos combustíveis no país por causa do fim do subsídio estatal – aumento que desencadeou uma escalada dos preços de produtos e serviços essenciais, como o transporte.
A greve paralisou grande parte do país, especialmente a capital, Lagos. Manifestantes ocuparam a sede do governo de Kano, a principal cidade do norte nigeriano.
Houve feroz repressão. Vinte e três mil policiais foram destacados pela gerência de Goodluck Jonathan para reprimir manifestações. No primeiro dia de greve cinco pessoas morreram “em confrontos com as forças de segurança”, segundo os informes oficiais, incluindo um rapaz de 15 anos.
Na Nigéria, a indignação popular com qualquer aumento no custo dos combustíveis é grande devido ao fato de que o país é riquíssimo em reservas de petróleo e de que grandes empresas estrangeiras – sobretudo a transnacional britânica Shell – extraem lucros fabulosos a custa de toda esta riqueza que, afinal, é patrimônio do povo.
A retirada do subsídio à gasolina é parte de mais um plano antipovo de “ajuste” da economia requisitado pelos “organismos internacionais”, como o Banco Mundial e o FMI. Na Nigéria, o objetivo da rodada de “austeridade” é economizar o equivalente a cinco bilhões de euros para sanear as contas do velho Estado.
Pobreza atinge 61% da população
O monopólio internacional dos meios de comunicação insiste em classificar os confrontos decorrentes da rebeldia e da insubordinação do povo nigeriano ante as medidas de arrocho no país como “violência religiosa”, como costumeiramente se faz quando o povo se levanta na África, a fim de dar a impressão de que se trata sempre de fanáticos matando uns aos outros, nunca de trabalhadores em luta contra a opressão.
Vem da Nigéria a notícia de uma “incoerência” capaz de enrubescer os “técnicos” das equipes econômicas dos países ditos “emergentes” – entre eles a semicolônia Brasil – que tanto gostam de ostentar os números sobre o crescimento da suas respectivas economias capitalistas. Apesar de o Produto Interno Bruto do país ter crescido 7,6% em 2010, uma taxa quase que de padrões chineses, nada menos do que 61% da população nigeriana (ou 112 milhões de pessoas) vivem abaixo da chamada “linha da pobreza”, o que na prática significa que mal dispõem de recursos para comer, morar e se vestir.
Entretanto, a situação de crescimento acelerado da economia capitalista concomitante ao aumento do número de pobres na Nigéria (eles eram 54,7% da população do país em 2004) é uma contradição apenas aparente. Afinal, a lógica do crescimento econômico acelerado das semicolônias é esta mesma: os “investidores externos” chegam com seus dólares e com sua infraestrutura sugando os recursos naturais e explorando os trabalhadores locais, pagando-lhes salários de fome, fazendo girar as roldanas do capitalismo atrasado, calcado na exploração de matérias-primas.
E tudo indica que o cenário pode ficar ainda pior. Cumprindo seu papel em meio à crise geral dos monopólios, o Banco Mundial divulgou um documento em meados de fevereiro exortando os países africanos a “eliminar barreiras comerciais”. O relatório do Bird ecoa a ladainha de sempre no que se refere a tudo o que o imperialismo diz sobre a África para maquiar a rapina na continente, ou seja, que é para reduzir a pobreza. Na verdade, o Banco Mundial quer é derrubar barreiras encontradas pelas transnacionais em dificuldades com a crise geral de superprodução relativa do capital monopolista.