Os banqueiros, os chefes das potências da Europa em agonia e a gerência fantoche de Atenas não pregam os olhos para dormir. Atormentando-os, existem duas certezas. Em primeiro lugar, mesmo que os trabalhadores gregos baixassem a cabeça para as medidas de arrocho requisitadas pela Alemanha e pela França e executadas a rigor pelo governo George Papandreou, as perspectivas para as oligarquias financeiras e industriais da Europa do capital não são exatamente animadoras, tendo em vista que cortar salários, reduzir drasticamente os gastos públicos e meter a mão em aposentadorias não são exatamente o que a profilaxia capitalista recomenda como laxante para suas crise de superprodução. Daí o desespero mal contido da chefe alemã Angela Merkel, que reconheceu em voz alta: “não fizemos nada mais do que ganhar tempo”.
Em segundo lugar, ainda que não menos importante, está a certeza comprovada pelas bombas, enfrentamentos e barricadas — enfim, pela brava e inquebrantável resistência dos trabalhadores às manobras dos seus inimigos — de que o povo grego não irá aceitar ser vilipendiado ainda mais, não vai se conformar em pagar o pato do esforço para “ganhar tempo” ora empreendido por este capitalismo moribundo. Sucedem-se os protestos, marchas, ocupações, greves gerais e demais atos de repúdio à ofensiva de cunho fascista orquestrada pelos poderosos contra as massas. A confrontações, mais ou menos organizadas, partem de grupos distintos, mais ou menos representantes das verdadeiras aspirações do proletariado e dos camponeses, dos comunistas comprometidos com a radicalização da luta de classes aos anarquistas menos consequentes e sindicatos com direções oportunistas, cujo objetivo maior é se qualificar para participarem de futuras farsas eleitorais.
Por enquanto, neste momento de fortes ataques ao povo, importa mais que as ruas estejam tomadas pelas massas combativas e insubordinadas aos ditames dos poderosos, ainda que pouco organizadas, do que a clarificação exata quanto às tentativas de instrumentalização de toda a sua revolta por forças sem comprometimento revolucionário. É desta forma que o povo grego vem radicalizando os protestos contra o pacote “anticrise” que a gerência grega quer lhe empurrar goela abaixo, já impôs ao capital quatro greves gerais desde fevereiro e vem promovendo retumbantes e violentas ações contra as instituições da burguesia parasita, como o ataque a bomba contra o tribunal da cidade de Tessalônica, no dia 14 de maio, e a explosão um dia antes, no dia 13, na porta da prisão de Korydallos, a maior de Atenas.
Em contra-ataques na forma de contrainformação, o monopólio internacional da imprensa vem movendo uma campanha de difamação contra o povo grego em luta, pregando a resignação frente as medidas draconianas contra as classes populares delineadas pelos ricos e condenando a “onda de violência” na Grécia, a fim de insuflar a repressão. Os meios de comunicação e os gerentes gregos vêm fazendo sensacionalismo em cima da morte de três bancários que sufocaram na agência em que trabalhavam durante a greve geral do dia 5 de maio, após o prédio ter sido tomado pelo fogo e pela fumaça. Sobre esse episódio, usado pelos inimigos do povo para denegrir seu levante, um funcionário do próprio banco divulgou em carta aberta informações que dão conta de quem verdadeiramente precisa ser responsabilizado pelos mortos:
“A gerência do banco proibiu taxativamente que seus funcionários abandonassem o local de trabalho hoje [5 de maio, dia da greve geral] — apesar de eles terem pedido desde as primeiras horas da manhã —, obrigou os funcionários a fechar as portas e reiterou que o prédio teria que ser fechado durante todo o dia, tudo por telefone. Eles também bloquearam o acesso à internet para evitar que os trabalhadores se comunicassem com o exterior”.
Em combativos protestos, o povo grego não deu
um momento de descanso para a repressão policial
Os três mortos haviam sido ameaçados com a demissão sumária [o governo grego facilitou os despedimentos sem justa causa e sem indenizações] caso não fossem trabalhar. Em um comunicado vindo da Grécia, de autoria indefinida, mas certeiro em suas observações, a voz das massas se faz ouvir na constatação de que a luta dos trabalhadores gregos é a luta de todos os povos do mundo, uma vez que tudo indica que eles vêm sendo tomados como cobaias de uma ampla ofensiva de precarização que o capital cada vez mais agonizante pode requisitar junto às chefias e gerências políticas de todo o mundo.
“Os e as que somos e que estamos aqui para inventar a resistência contra a onda de fascismo que nos impõem, necessitamos da solidariedade de cada um e de cada uma, de todos e todas na Europa e no mundo que sejam companheiros e companheiras. Trata-se da nossa vida, da nossa dignidade, da vossa vida e da vossa dignidade”.