O povo sírio vem dando grandes demonstrações de força ante a repressão do regime reacionário local aos protestos por uma democracia popular no país, mas também de forte consciência política ao não engolir as medidas meramente burocráticas anunciadas pelo reacionário Bashar al-Assad com o intuito de tentar aplacar a revolta das massas.
Após os episódios de feroz repressão do mês de março, quando houve prisões de crianças e odiosas chacinas de manifestantes, lideranças dos protestos contra o regime reacionário sírio convocaram as massas para saírem às ruas na “Grande Sexta-feira”, no dia 22 de abril, um dia depois de Bashar al-Assad decretar oficialmente, como já havia anunciado, o fim do estado de emergência no país, que vigorava desde 1963, e a abolição do Tribunal de Segurança do Estado.
A medida, entretanto, não impediu que al-Assad atirasse seu aparato repressivo contra as multidões que naquele dia marcharam por toda a Síria. A polícia abriu fogo contra as pessoas e informações dão conta de que 112 manifestantes foram assassinados em menos de 24 horas. Já seriam 350 os mortos desde o agigantamento da rebelião popular no país.
No dia 25 de abril, iniciou-se a militarização das principais cidades do país. Na cidade de Deraa, berço dos massivos protestos contra al-Assad, o governo sírio colocou na rua três mil soldados e dezenas de tanques de guerra para reprimir os manifestantes. A capital Damasco e a cidade de Durma também foram ocupadas ostensivamente pelo exército. A fronteira com a Jordânia foi fechada.
A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Navi Pillay, pediu “o fim imediato dos assassinatos na Síria”, como se a própria ONU fosse uma notória defensora da vida, quando a verdade é justamente o contrário, como mostram as violentas intervenções diretas das Nações Unidas na Costa do Marfim e no Haiti, só para ficar em dois exemplos atuais, e as recorrentes autorizações do seu Conselho de Segurança para carnificinas mil ao redor do mundo.
USA já está fechado com oportunistas sírios
Obama, outro que lamenta os mortos como se fosse o maior defensor da vida, também subiu o tom das condenações à repressão por parte do governo sírio, enquanto, nos bastidores, se apressa em costurar novos acordos com os grupos que se apresentam para gerir os interesses dos monopólios na Síria no lugar da Bashar al-Assad. Documentos revelados pela organização WikiLeaks mostraram que na verdade o USA, há tempos, se prepara para cavalgar uma revolta popular na Síria, no sentido de desvirtuá-la, a fim de capitanear uma reestruturação do estado líbio em caso de uma inevitável derrubada de al-Assad.
Documentos confidenciais de Washington confirmaram que, pelo menos desde 2005, o USA financia grupos sírios rivais da oligarquia de al-Assad, incluindo um canal de televisão com sede em Londres ligado a “empresários independentes sírios” cujas transmissões foram iniciadas em 2009. Pelo menos US$ 6 milhões foram destinados nos últimos seis anos a “apoiar programas e dissidentes dentro da Síria”.
A notícia sobre as provas do envolvimento direto do USA com oportunistas sírios serviu de munição tanto para o governo reacionário de al-Assad, que culpa a ingerência estrangeira pelas mortes de manifestantes, quanto para aqueles que veem nos levantes populares no Oriente Médio e no norte da África meros tumultos incitados pelo imperialismo.
Entretanto, a legitimidade das rebeliões populares na Síria, na Líbia, no Egito e em outras semicolônias daquela região do globo permanece inabalada, ainda que a tendência que se observa é a da reestruturação das forças retrógradas e de novos pactos dessas forças com o imperialismo.
A falta de uma vanguarda revolucionária não pode desqualificar a autoridade das massas ora em justa revolta contra a deterioração das suas condições trabalho e da precarização generalizada das condições de vida promovidas pelas gerências do chamado “mundo árabe”, isso enquanto as frações das classes dominantes locais enriquecem ainda mais com a entrega dos recursos naturais sob seu controle à rapina dos monopólios.