Indignados com o piso salarial de 610 reais, professores da rede estadual do Rio aderiram à paralisação nacional da educação e entraram em greve no dia 7 de junho exigindo reajuste salarial de 26%, incorporação imediata da gratificação do Nova Escola e o imediato descongelamento do plano de carreira dos funcionários administrativos. Com 70% de adesão, segundo o SEPE — Sindicato Estadual dos Profissionais da Educação —, no início de julho, a greve entra em sua quarta semana. Enquanto o gerente Sérgio Cabral, como de praxe, nega-se a negociar com a categoria, manifestações de professores, funcionários e estudantes tomaram as ruas da cidade nos primeiros dias de paralisação.
Manifestação dos profissionais da educação no Centro do Rio
O auditório do Clube Municipal, na Tijuca, zona Norte da cidade, ficou pequeno no dia da segunda assembleia de greve dos profissionais da educação. Cerca de 2 mil trabalhadores participaram da reunião, no dia 21 de junho, que decidiu pela continuidade da greve. Enquanto os gerenciamentos de turno mantêm-se indiferentes às reivindicações do movimento, professores seguem sendo massacrados nas salas de aula pelas cansativas jornadas de trabalho, salas superlotadas, escolas caindo aos pedaços e um salário de fome. É o caso da professora de português Vera Egito. Moradora de Duque de Caxias, ela sai de casa para dar aulas, todos os dias, às 6h da manhã.
— Para conseguir sobreviver, a gente precisa trabalhar em várias escolas. Isso faz com que a gente não tenha tempo de preparar um material de qualidade. Nós, professores do estado, estamos extremamente sobrecarregados. Eu não sei se o governador ou o secretário de educação aguentariam viver trabalhando como nós e, pior ainda, ganhando o que a gente ganha. Eu trabalho, em média, 15 horas por dia. Dou aula em quatro escolas e gasto 4 horas só me deslocando de ônibus de um lugar para o outro. Eu já calculei que dou 240 aulas por mês e o estado me paga 10 reais a hora/aula. Sendo que, quando eu chego em casa, tenho que arrumar tudo, alimentar meus filhos e preparar as aulas do dia seguinte. Durmo, em média, seis horas por dia. Isso é praticamente um regime de escravidão — diz a professora, que tem 15 anos de profissão.
Colega de trabalho de Vera no Colégio Estadual Guadalajara, a professora Edma Carvalho também denuncia as péssimas condições de trabalho dos profissionais da educação do Rio de Janeiro.
— Não é só o salário. Têm várias outras questões. A estrutura das salas de aula, a alimentação dos alunos. É tudo de péssima qualidade. Consequentemente, é ruim para nós professores também, pois nós não temos dinheiro para almoçar fora. Esses alunos ficam super felizes quando tiram uma nota 5. Perguntam sorridentes: ‘passei professora?’. Quando vem o IDEB [Índice de Desenvolvimento da Educação Básica], a melhor média das escolas do Rio é 6,6. Esse é o futuro do nosso país.
No dia 17 de junho, profissionais da educação e estudantes fizeram uma manifestação que percorreu as principais ruas do Centro da cidade e terminou em frente a Secretaria Estadual de Planejamento e Gestão, onde o comando da greve tentou conversar com o secretário Sérgio Ruy, mas não foi atendido. Como se não fosse o bastante, dias depois, o gerenciamento estadual cortou o ponto dos profissionais em greve, o que revoltou ainda mais a categoria.
— Estamos entrando com uma liminar preventiva para estes cortes, pois aprovamos estado de greve há mais de um mês. O governo nos ignorou solenemente, quando pedimos o reajuste. Entramos com ação na justiça para garantir que não haverá corte. Queremos sensibilizar os juízes. Sérgio Cabral gosta de falar que a mãe é professora. Dona Magali, conversa com seu filho para ele respeitar o professor — diz a coordenadora do SEPE, Vera Nepomucemo, ao programa Repórter Rio, da TV Brasil.
Estudantes de várias escolas também estiveram na manifestação apoiando os profissionais da educação.
— Apoiamos o movimento porque o salário do professor é uma falta de respeito com ele e com os alunos. O governador aluga aparelhos de ar condicionado e computadores. Se comprasse o material, o custo seria menor — disse o presidente do grêmio estudantil do Ciep 175, de São João de Meriti, na Baixada Fluminense, Sérgio Cardoso.
No dia 26, em um ato unificado de bombeiros e professores no Aterro do Flamengo, trabalhadores deram mais uma demonstração de força diante da postura tirana do gerenciamento estadual.
— Essa manifestação é para chamar a atenção da população para o projeto de escola que o governo está propondo para o Rio de Janeiro. Uma escola precária, uma escola que paga mal os seus professores e funcionários e dá as costas para as suas crianças — protesta a coordenadora do SEPE, Beatriz Lugão.