Proletariado resiste à cobiça patronal

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Proletariado resiste à cobiça patronal

Segundo pesquisa divulgada no final de julho pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), no ano de 2008 foram contabilizadas 411 greves em todo Brasil. O maior índice desde 2004, quando o órgão voltou a acompanhar o índice.

Ainda segundo a pesquisa, o número de greves superou em 30% o ano de 2007 e, pela primeira vez, as paralisações no setor privado superaram as no setor público. Nas grandes indústrias, foram constatadas 132 greves e, no total, mais de 2 milhões de trabalhadores cruzaram os braços.

Greves operárias

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Construção civil – Curitiba

Em Sonora, no norte do Mato Grosso do Sul, operários e trabalhadores rurais fizeram paralisação no dia 15 de julho e ocuparam a fábrica, trancando todos os seus acessos. Eles exigiam melhores equipamentos de segurança e proteção de seus direitos trabalhistas.

No dia 21 de julho, cerca de 24 mil operários da construção civil de Curitiba e região metropolitana entraram em greve reivindicando 20% de reajuste salarial contra os 7% oferecidos pelos patrões.

O setor da construção civil lucrou muito nos últimos anos e nada disso foi repassado aos trabalhadores — afirmou o presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Estado do Paraná (Sinduscon-PR), Domingos Oliveira Davide.

No dia 31 de julho, operários que trabalham na reforma do metrô de Salvador realizaram uma greve vitoriosa. Após a combativa paralisação, a reivindicação da redução da jornada para 30 horas/mês e Participação nos Lucros e Resultados da empresa que administra as obras foi atendida.

No mesmo dia, operários da empresa química Akzo Nobel, em Itupeva, interior de São Paulo, entraram em greve reivindicando redução da jornada de trabalho.

Greve nos transportes

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Ferroviários – Salvador

Em Salvador, a greve dos ferroviários, que completou um mês no início de agosto, segue pressionando os patrões para que paguem 12,07% de reajuste e a gerência estadual para que reestatize o serviço, devolvendo a administração completa das linhas de trem à Companhia Brasileira de Trens Urbanos. No dia 19 de julho, os trabalhadores portuários também entraram em greve em Salvador e nos municípios de Aratu e Ilhéus reivindicando o reajuste salarial de 10,75%, que deveria ter sido concedido à categoria desde o dia 1° de junho.

Greve na saúde

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Servidores – Caruaru

Em Caruaru, no coração do agreste pernambucano, a greve dos médicos entrou na terceira quinzena no meio de agosto. Os trabalhadores exigem melhores condições de trabalho, programa de educação continuada, contratação de novos profissionais e reajuste salarial por área de atuação.

No município de Vitória da Conquista, na Bahia, a 509 quilômetros de Salvador, servidores da saúde também cruzaram os braços no dia 5 de agosto exigindo 15% de reajuste para os profissionais de nível médio e 7% para os de nível superior.

No mesmo dia, no Maranhão, médicos da rede particular entraram em greve exigindo dos planos de saúde o aumento do valor pago aos profissionais pelos serviços prestados à população nos hospitais da rede privada.

No dia 29 de julho, no Espírito Santo, a ‘gripe suína’ transformou-se em pretexto para a gerência municipal reprimir a greve dos médicos iniciada no dia 14 de julho.

Greve na educação

Dia 27 de julho, professores da rede estadual de Alagoas entraram em greve reivindicando 15% de reajuste salarial.

No dia seguinte, em Pernambuco, uma liminar autoritária emitida pelo desembargador Fernando Cerqueira tornou ilegal a greve de professores que completou um mês no inicio de agosto. Sendo assim, a gerência municipal decidiu bloquear o pagamento dos salários, cortou a bonificação por desempenho educacional e publicou dois editais para contratar 2.206 professores temporários. Os trabalhadores mantiveram a greve, desafiando as ameaças do governo.

Em Laranjeira, interior de Sergipe, professores entraram em greve no dia 4 de agosto reivindicando piso salarial, plano de cargos e salários e a utilização de 76% do Fundeb (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) para o pagamento dos salários atrasados.

No início de agosto, no Rio de Janeiro, professores da rede estadual também entraram em greve contra a proposta divulgada pelo gerente Sérgio Cabral concedendo aos profissionais 25% de reajuste a serem pagos em 24 parcelas. Os trabalhadores denunciaram em comunicado impresso que "existe dinheiro para um reajuste imediato, já que em 2007 foram gastos apenas 17% do orçamento previsto para o setor. A educação está há mais de 11 anos sem reajuste no piso salarial".

Greve no serviço público

No dia 21 de julho, servidores federais do setor de processamento de dados do Rio Grande do Sul entraram em greve por tempo indeterminado. Os trabalhadores exigem reajuste salarial de 16% em 2009, além de reajuste no tíquete-alimentação e no auxílio creche.

Em Maceió, servidores do Departamento Estadual de Trânsito, o Detran, entraram em greve no dia 3 de agosto reivindicando reajuste salarial de 27,6%, sendo 21% linear e 6,41% para todas as categorias profissionais.

Para os patrões, demitir e arrochar é solução à crise

Depois que a fábrica de pneus Goodyear anunciou a demissão de 1,7 mil trabalhadores no inicío de julho, foi a vez de outra empresa ligada ao setor automotivo colocar operários no olho da rua.

A GM pretende demitir ainda esse ano mais 7,5 mil operários, já que sua meta de cortes com o plano de demissões voluntárias obviamente não foi atingida.

No USA, a Merizon — principal empresa de telecomunicações do país — mesmo obtendo lucro líquido de 7,2% no segundo trimestre desse ano em relação ao mesmo período do ano anterior, anunciou no dia 27 de julho a demissão de 8 mil funcionários até o final de 2009

Já no Brasil, depois da fusão entre as empresas de telefonia Oi e Brasil Telecom, foi anunciada a demissão de 1.178 funcionários ou 5% do efetivo total. A decisão desrespeita as condições estipuladas pela Anatel para união entre as empresas, que previa a manutenção integral do quadro de funcionários por no mínimo três anos.

No Rio Grande do Sul, a Vulcabras anunciou o desligamento de 600 trabalhadores da fábrica da subsidiária Calçados Azaléia no município de Parobé, a 80 quilômetros de Porto Alegre. Os funcionários demitidos se juntam a outros 1,5 mil que já haviam sido mandados embora desde o início de 2009.


Trabalhadores cruzam os braços no mundo todo

Na África do Sul, mesmo com o fim da greve dos operários que trabalhavam na construção dos estádios da próxima copa do mundo, os principais sindicatos do país anunciaram que as greves estão longe de acabar. No serviço público, mais de 150 mil trabalhadores continuam em greve.

Em Portugal, trabalhadores do Porto de Aveiro entraram em greve no dia 3 de agosto denunciando "a violação por parte da Empresa de Trabalho Portuário (ETP) do regime legal e convencional e do processamento e pagamento do subsídio de férias aos trabalhadores portuários a cargo desta entidade empregadora". A paralisação é por tempo indeterminado.

Na Itália, depois que a Ansa — principal agência de notícias do país — anunciou um amplo corte no quadro de funcionários, os trabalhadores decretaram greve no dia 5 de agosto e divulgaram em comunicado no sítio do sindicato que representa a categoria que "O comitê de redação da Ansa rejeita a hipótese alegada pela diretoria de uma ‘reorganização’".

Trabalhadores sul-coreanos em luta

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Trabalhadores da montadora SsangYong protestam na Coréia do Sul

O mês de agosto começou com um extraordinário exemplo de bravura operária vindo da Coréia do Sul. Há mais de dois meses, centenas de trabalhadores de uma fábrica da montadora SsangYong, localizada 70 quilômetros ao sul da capital Seul, ocuparam as instalações após a gerência anunciar a demissão de mais de mil funcionários. No início do mês, o governo sul-coreano mandou suas forças de repressão em peso para expulsar os grevistas de lá.

Os bravos operários, entretanto, não se dobraram ante a tentativa de invasão do lugar por parte da polícia. Mobilizados e inquebrantáveis, reagiram à truculência policial com os instrumentos de que dispunham: bombas artesanais, barras de ferro, as próprias empilhadeiras da fábrica e um impressionante vigor para a luta contra a opressão capitalista. Resistiram no telhado da fábrica, no chão e por onde mais a reação armada vislumbrasse entrar para massacrar o povo em luta.

O Estado burguês mandou três helicópteros e convocou três mil homens armados até os dentes para tentar forçar a capitulação dos trabalhadores, além dos seguranças contratados pela SsangYong (cuja participação acionária majoritária pertence a uma montadora chinesa). Contra os ocupantes, fez-se uso de jatos d’água, guindastes, bombas de gás lacrimogênio, dispositivos de aplicação de choques de 50 mil volts e outras munições mais letais que o oligopólio internacional da mídia não faz a menor questão de repercutir. Altivos e dispostos a não se dobrarem, foram os operários que obrigaram os policiais a recuarem e até a formarem barricadas para tentar se proteger.

As versões oficiais falavam em cerca de 100 feridos em razão da tentativa de desocupação da fábrica. No Brasil, a Rede Globo logo tentou desqualificar mais este impetuoso protesto que evidencia o descontentamento e a disposição para a luta que as massas asiáticas cada vez mais vêm demonstrando. Tentando desmerecer o movimento grevista na SsangYong, o jornalismo antipovo da Globo insistiu na informação de que 1.500 trabalhadores da montadora aderiram a um programa de demissão voluntária (velho estratagema do capital para driblar a responsabilidade pelas demissões), tentando ridicularizar a solidariedade de classe, insinuando que é absurda a exigência dos demais operários de que todos os empregos sejam mantidos. No dia 6 de Agosto, diante da irredutível decisão de resistência dos operários, o velho Estado, derrotado, ordenou a retirada dos 3.000 policiais que cercavam a fábrica SsangYong.

Enquanto isso, o governo títere da Coréia do Sul vem acolhendo um número cada vez maior de soldados ianques em seu território, a pretexto de reforçar a segurança na região ante a dita "ameaça" representada pela Coréia do Norte. Não é difícil imaginar que o efetivo sob bandeira do USA será acionado contra as próprias massas sul-coreanas em caso de as lutas populares ganharem maior corpo.

A Coréia do Sul costuma ser apresentada como um exemplo de "democracia" na região, como uma antítese à sua vizinha do norte na península coreana. Mas este Estado é mais um Estado burguês, burocrático e antipovo. Pouco se fala, por exemplo, no complexo industrial Kaesong, enclave empresarial que Seul mantém no outro lado da fronteira com a Coréia do Norte pagando míseros 50 dólares por mês para os trabalhadores locais, tudo com a conivência de Pyongyang.

Funcionários da Petrobras são perseguidos após greve

Segundo nota divulgada no sítio do Sindicato dos Petroleiros na internet, no final de junho vários trabalhadores foram notificados pela direção da Petrobras por cometerem "excessos" na última greve deflagrada.

No texto, o coordenador do Sindipetro-NF, José Maria Rangel, afirma que "os trabalhadores não cometeram excesso algum durante a greve. Agiram legitimamente, com responsabilidade, cumprindo o direito constitucional de greve, orientados, o tempo todo, pelo sindicato. Ocorreram excessos sim, mas por parte das gerências, que cortaram a comunicação dos trabalhadores que estavam nas plataformas, praticaram cárcere privado, embarcaram equipes de contingência sem qualquer preparo para lidar com emergências, entre outras barbaridade cometidas durante a greve".

Os petroleiros estão mobilizados e prontos para responder às perseguições. No mesmo comunicado eles anunciaram que "a categoria não permite ataques a direitos fundamentais, como o direito a greve. É aquela velha máxima: mexeu com meu companheiro, mexeu comigo. Por isso vamos levar essa questão para a plenária de trabalhadores".

Segundo o Boletim de Luta dos Petroleiros, divulgado no dia 4 de junho, os trabalhadores que também estão sofrendo perseguições da direção da Petrobras devem contatar o Grupo de Luta dos Petroleiros — GLP através do correio eletrônico [email protected] para que as denúncias sejam encaminhadas.

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